29 January 2021

(álbum integral aqui)
 
(sequência daqui) Alison, com os Weekend, afro-jazz-abrasileiraria a matriz YMG mas Stuart Moxham, via The Gist, manter-se-ia fiel aos princípios: “Todas as minhas canções são como diagramas para o que poderiam ser se outros músicos as interpretassem”. Embrace The Herd (1982) puxaria um discreto lustro pop ao severo minimalismo mas, pouco sintonizado com o frívolo ar do tempo, Moxham, à excepção de meia dúzia de álbuns praticamente confidenciais, entraria em prolongado eclipse. Afinal, como Holding Pattern (2017) e, agora, Interior Windows demonstram, o cofre de The Gist encerrava ainda uma valiosa mão-cheia de tesouros. Sempre, porém, dentro daquelas coordenadas que Stuart, inflexivelmente, estabelece: “Para nos escutar, é preciso estar em silêncio. Costumo perguntar ‘Conseguem ouvir-nos bem nas filas de trás?’ Se a resposta é sim, digo “Ok, então vamos baixar o volume’”.


Mais uma vez, o palerma de olhos esbugalhados (IV) - vencedor do cobiçado Prémio "Retórica Política" 2021 - diz as parvoíces que um palerma de olhos esbugalhados sempre dirá e, amuadito, desabafa: "Saturei" - vá lá, um cafuné ao menino...
 
Aprovada a lei da eutanásia 
(ou a derrota da Santíssima Aliança
Edit (14:45) - Trump, aliás, "'um activo' da Rússia há 44 anos"

“'São muitas décadas de empobrecimento e de secundarização das Humanidades'
António Carlos Cortez, “Explicar André Ventura ou um aviso à navegação”, in PÚBLICO, 25/01/2021

Gostaríamos de acreditar nesta tese de que as Humanidades imunizam contra o Mal; e de que elas inoculam um reforço cívico. Infelizmente (mas não teríamos também muito a perder com esta tese transformada em axioma?), tal não se verifica. Nem precisamos, para refutá-la, de recorrer ao exemplo de George Steiner, formulado mais ou menos nestes termos: como é que tão perto de Weimar nasceu o campo de Buchenwald? * De resto, a interrogação a que Steiner tenta responder não tem uma lógica diferente da afirmação de António Carlos Cortez, na medida em que também pressupõe uma superioridade moral, cívica e civilizacional das Humanidades. Ambos, no fundo, continuam a querer tornar operacional uma oposição que já Burckhardt, no final do século XIX, tinha dito que era não pertinente: a oposição entre civilização e barbárie. Por outro lado, a quantidade de celerados, terroristas e energúmenos que integram com o seu génio a história das Humanidades deita por terra esta tese benevolente" (AG)

* ver aqui

27 January 2021

(sequência daqui) A participação [de Kate Stables] na gravação de I Am Easy To Find (2019), dos National, e, na posterior digressão poderão igualmente ter tido algo a ver com esse processo: “Durante a digressão tive a sensação de estar envolvida num projecto de investigação. Foi um privilégio poder escutar todas as noites a interpretação daquelas canções, ouvir atentamente as palavras e compreender como abordavam a música. Ainda não estou certa de já ter sido capaz de digerir tudo quanto absorvi naqueles concertos. Preciso de ouvir outras opiniões, os meus ouvidos ainda estão demasiado presos a este álbum para o poder apreciar com objectividade”. A “The National connection” é, aliás, antiga: “Conheci o Bryce Dessner quando ele vivia em Paris. Eu tinha 17 anos e ele era amigo da minha irmã. Alguns anos depois, o irmão, Aaron, ouviu a minha música e acabou por produzir o Bashed Out (2015). Temos já uma longa relação de amizade. Recentemente, o Bryce voltou a viver em Paris – a mulher dele, Mina Tindle, é francesa – e foi nessa altura que, em 2019, me convidou para cantar no álbum deles, I Am Easy To Find. Um outro aspecto particularmente evidente em Off Off On é uma vincada aproximação a tonalidades jazz. Estará a ocorrer uma tentativa de diversificar a paleta sonora? Volta a rir-se: “Gostava de lhe poder responder que sim porque isso significaria que tinha reflectido um bocadinho sobre esse assunto. Na verdade, foi apenas um acidente. Há uma série de músicos com quem adoro trabalhar. Um deles é um saxofonista italiano, Lorenzo Prati. Tínhamos um dia para trabalhar em estúdio com sopros e ele apareceu. Se é ao Jesse Vernon que se deve essa especial inclinação nos arranjos, foi o Lorenzo que a aprofundou. No final, também enviámos as gravações para o Adam Schatz que vive em Nova Iorque, um músico de jazz incrível e também explorador de sonoridades electrónicas. Mas, na realidade, nunca houve plano nenhum, tratou-se apenas da contribuição dos diversos músicos”. (para aqui)
Shanren - Left Foot Dance Of The Yi

(daqui; álbum integral aqui)

Cätlin Mägi - “Koka nokast”

26 January 2021

MOLÉCULAS PRIMORDIAIS
 
 
Alison Statton e os irmãos Stuart e Phil Moxham eram o género de putos que, em 1980, até na Rough Trade — acabadinha de fundar e com imaculadíssima reputação indie — se sentiam como peixe fora de água: “Eu tinha 24 anos quando começámos a fazer música e não fazia a menor ideia do que iria ser a minha vida. Vivíamos em Cardiff que, na verdade, não existia no mapa da música, havia enormes obstáculos para ultrapassar. A solução foi fazer o oposto do que todos, à época, faziam e ver o que daí resultava. Mesmo quando nos mudámos para Londres, não nos sentíamos à vontade. Na Rough Trade, acolheram-nos de braços abertos, mas não éramos como nenhuma outra banda, sentíamo-nos de fora”, dizia Stuart, em 2015, à “Uncut”.

 
O “oposto do que se fazia” foi pegar numa guitarra, num baixo, num rudimentar órgão Galanti, numa "drum machine" (construída pelo primo, Pete Joyce, a partir de um artigo da  “Practical Wireless Magazine”), na voz de Alison (“A Alison não é uma cantora! Ela é só uma pessoa que canta como se estivesse na paragem, à espera do autocarro”, jurava Stuart a Simon Reynolds, em Rip It Up and Start Again) e, sob o nome Young Marble Giants, num único álbum — Colossal Youth, 1980 —, redefinir radicalmente o rumo da música: reduzida à essência das moléculas primordiais, pura geometria sonora apenas um passo à frente do silêncio, em 15 canções de que apenas três iam além dos 3 minutos. Colossal Youth — 40th Anniversary Edition reúne as provas do milagre tal como já se encontravam na reedição da Domino, de 2007, e acrescenta-lhes o registo do concerto final do trio, no Hurrah Club de Nova Iorque, em novembro de 1980. (...) (daqui: + aqui)
The Rheingans Sisters - "Glattugla"


23 January 2021

STREET ART, GRAFFITI & ETC (CCLXVIII) 

Lisboa, Portugal, 2020







(sequência daqui) Talvez mais acentuadamente que nos anteriores e belíssimos Bashed Out (2015) e Moonshine Freeze (2017), em Off Off On – a começar pelo próprio título – pressente-se uma sensação de ansiedade na forma como os textos se estruturam em frases interrompidas, contraditórias, parecendo, por vezes, falar consigo mesma mas estando, na realidade, a dirigir-se a alguém (ou o oposto). De que origem nasce tudo isto? “A ansiedade, a angústia ou o pânico de que fala estão, sem dúvida, subjacentes mas julgo que alguma esperança também. Por outro lado, do ponto de vista musical, algumas das canções aparentemente mais felizes são aquelas cujos textos não o são e o contrário também acontece. São dois movimentos discordantes que acontecem em simultâneo. Porquê? Se calhar, é por ser Gémeos, tenho uma irmã gémea e tudo!...” O que não impede que, em todo o disco, exista claramente uma coerência muito orgânica, na atmosfera, nos arranjos, na ressonância das canções. John Parish e Aaron Dessner tinham, anteriormente, vestido o uniforme This Is The Kit com superior elegância mas, desta vez, Josh Kaufman (Bonny Light Horseman), parece ter estado na raiz de um salto de qualidade: “Sinto que tenho sempre uma relação muito especial com quem se encarrega da produção e o Josh tem uma forma muito natural e intuitiva de abordar a música e de se relacionar com as pessoas. Não se tratou apenas de fazer uso do seu talento musical, havia também uma óptima energia no estúdio. Toda a gente passou ali uns excelentes momentos e isso, inevitavelmente, reflectiu-se no som. O facto de termos andado em digressão durante tanto tempo, foi também importante. É exactamente o que acabou de dizer: sinto o álbum como um organismo, como uma criatura viva”. (para aqui)
A Companhia de Jesus faz uma contabilidade poupadinha das vítimas dos seus predadores mas avisa que nem pensar em caça às bruxas, apesar de esse ser assunto de que a Vaticano S.A. tem o "copyright" - a propósito, sobre as Magdalene Laundries da cristianíssima Irlanda, tudo ainda na mesma?

22 January 2021

... ou, em versão "cartoon"...

Campeões do mundo! 

(António, no "Expresso")
Este pessoal fricolé e/ou com os miolos queimados tem uma grande queda para a asneirada
(sequência daqui) Penny Rimbaud tinha pouco mais que uma intuição: "Fascinava-me a ideia de descobrir de que modo o maior dos poetas franceses lidaria com as enormidades da guerra e o que, hoje, num mundo tão obcecado pelo conflito, a dor e o sofrimento, isso poderia valer. Tomei de empréstimo os ouvidos de John Coltrane e os olhos de Jackson Pollock e aventurei-me num inferno em vida com Arthur ao meu lado. Não me surpreendeu que fosse necessária tão pouca persuasão para o convencer. Era da sua natureza estar pronto a morrer para melhor viver. Mas interrogava-me acerca do que buscaria ele nisto. Quando lho perguntei, a resposta foi imediata: ‘Mais’”. Em 10 intermezzos instrumentais e 11 peças de "spoken word", três saxofonistas – o lendário Evan Parker, Louise Elliott e Ingrid Laubrock – incorporam simultânea e estridentemente Coltrane e Pollock enquanto Penny vocifera os passos da travessia do horror (“I have a strange feeling that neither of us survived the terror of Verdun. Yes, we were detritus, and in that we found ourselves and each other, the void was complete, and another dawn broke above the carnage”) que se conclui em fúria como deve: “The smug satisfaction of the bourgeoisie, fuck you, fuck you and your hollow whimsy!”. (ver também aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui)

A dois dias das eleições, parece o momento ideal para exigir que o ex-"sit-down comedian", comentadeiro da bola, crítico de fotografia, "charmoso" de Parque Mayer e inquilino da Casa dos Bicos, à laia de juramento solene, repita, sem se rir, as (suas) históricas e lapidares palavras:

 "Verdadeiramente grande país só há um: é Portugal. Os melhores somos nós. (...) Portugal é o melhor no futebol, na ciência, nas artes, na cultura, nas empresas, no trabalho"

21 January 2021

Maria McKee - "I Never Asked"

(daqui
 
Leonard Cohen evocava o poeta persa, Rumi, para falar da "intoxicação pelo amor, da ideia de me render como um ébrio perante o ser amado”. Maria McKee, após 13 anos de silêncio total, percorre o mesmo caminho pela mão de Dante e da espiritualidade erótica dos Fedeli d'Amore, com Blake, Shelley, Byron e Yeats no horizonte. Renascida como “a pansexual, polyamorous, gender-fluid dyke”, La Vita Nuova é uma arrebatadora elegia orquestral à beleza e ao desejo. (daqui)

Foram, portanto, 2 dias e quase 500 mortos (e numa lógica desnecessária de ou 8 ou 80)

20 January 2021

 
"(...) Ter-se um gato, como companhia, o dia inteiro, é um presente dos deuses. O grande Dickens sabia isso, quando afirmava que “there is no greater gift than the love of a cat”. O gato é um animal bonito, elegantíssimo, inteligente e extremamente inventivo. Está sempre a ter ideias, embora muitas delas francamente turbulentas e algo destrutivas. E, ao contrário do que dizem os ignorantes (que nunca tiveram gatos ou os tiveram e não lhes prestaram a devida atenção), o gato, se bem tratado e acarinhado, torna-se não só nosso amigo, como se torna até um amigo fiel e assíduo, sendo de opinião que é mal empregado todo o tempo que lhe não dediquemos, embora ele necessite de algum tempo para retiro, meditação e soneca. De facto, ele só não está connosco, quando DECIDE que tem, ELE, de fazer coisas mais importantes, como, por exemplo, partir um prato ou um copo ou um bonito objecto de arte que seja frágil e esteja mesmo a pedi-las. Ou, como já dissemos, dormir. Um gato pode ser muito nosso amigo, mas recusará terminantemente ser nosso escravo: o seu orgulho felino nunca lhe permitiria esse abaixamento, que ele vê, com desprezo, praticado pelo cão, nunca elevado ao estatuto de deus, pelos egípcios. Mas não lhe passa pela cabeça que os humanos tenham o mesmo comportamento orgulhoso. Quando lhe apetece – ao gato – saltar-nos para o colo ou para as costas, dificilmente aceita que recusemos. Ele SABE quando quer estar sozinho, mas não aceita que nós queiramos estar sozinhos, quando a ELE lhe APETECE estar connosco. Isto pode parecer estranho a um humano, mas o gato percebe-o perfeitamente. O homem foi feito para servir o gato e não o gato para servir o homem: um deus manda e não é mandado! Isto está inscrito no ADN dos felinos de salão. (...) (Eugénio Lisboa aqui; tema já poeticamente abordado aqui))
... e, agora, Viseu

 
Edit (16:34) - 14.647 (vai haver eleições?)
 
Edit (17:28) - "Decisão deve ser tomada nas próximas horas"... mas "estamos a falar da formação de uma geração, e este é um dano cujo preço a pagar não é hoje, é um preço que pagaremos longamente ao longo dos próximos anos" - a sério?...

O fulgurante pensamento político de Eduardo Baptista (sequência daqui)

Contra o Império Romano! 


"A 3ª República não tem sido outra coisa senão a continuação do Estado Novo, não por outros meios, que eles continuam os mesmos, mas com outra roupagem. Aquilo que tinha sido um golpe de autodeterminação contra o Império Romano, na Instauração da República, continua agora completamente corrompido. Continuamos a ser uma colónia do Império Romano"

"Você quer criar um aquário em casa, com tartarugas, por exemplo. Nada mais fácil. Basta comprar os animaizinhos, um aquário e depois esperar, por tentativa e erro, que estes não morram ou adoeçam. Com um cão ou um periquito é o mesmo - não existe respeito pela vida dos animais. Então e que tal, nas áreas relacionadas com segurança ou com o respeito pela vida, exigir aos cidadãos que saiam de casa para terem formação, desliguem os telemóveis, conheçam pessoas diferentes, discutam assuntos técnicos e relacionados com ética, criem comunidades de interesse". ​ 

"Num país onde a prostituição não está legalizada, mas onde todos nós sabemos de casas de alterne abertas há várias décadas, com o conhecimento das próprias autoridades, eis que alguém é preso, apenas porque abriu uma nova casa de alterne ou introduziu mais prostitutas no país ou na região, alterando assim os preços de mercado e os interesses instalados dos empresários do crime organizado, os quais passarão a ter menos clientes nas suas casas, já que uma nova casa, porque é novidade, atrairá as pessoas para aí. Este é um negócio que funciona com base na rotação de mulheres e cujo atrativo é sempre a novidade. Daí o nome 'casas de alterne'(daqui)

19 January 2021


MOVIMENTOS DISCORDANTES

Estávamos a meio de Novembro e havia uma entrevista marcada com Kate Stables a propósito da publicação do novo Off Off On, da sua banda This Is the Kit. Mesmo em cima do dia combinado, tudo fica anulado: Kate encontrava-se doente e em isolamento, vítima do fantasma covid. Seria necessário um pouco mais de duas semanas até que a recuperação acontecesse. “A really bad flu”, foi a descrição que ela, já restabelecida, pôde, finalmente, fazer. Curiosamente, antes de tudo isto acontecer, havia contado que, apesar de todas as canções terem sido escritas antes da pandemia, depois de ela ocorrer, quando estava a trabalhar nas misturas do álbum e as voltou a escutar, elas tinham adquirido todo um outro sentido. Será que, depois de ter estado doente, adquiriram ainda um outro sentido?

 
 
Kate ri-se (ela ri-se muito) e responde: “Não sei... de facto, enquanto escrevia as canções pensei muito sobre doenças, sofrimento, e como podemos lidar com isso quando alguém — nós ou outras pessoas — adoece. É interessante ter sido obrigada a recordar-me do que é estar verdadeiramente doente. Não deixa de ser uma coincidência, mas muitas das coisas que digo parecem ter sido afectadas pela situação mundial de uma forma muito estranha. Mas não diria que o facto de ter estado doente lhes tenha acrescentado ainda outro sentido”. O que não deixa de ser curioso se pensarmos que, em todos os seus álbuns, a importância que atribui às palavras e aos diferentes significados que podem ter consoante quem as escreve, quem as ouve e a situação em que são ouvidas pareceria que, aparentemente, todas as coisas se tinham alinhado para chegar a este ponto... “Na verdade, é uma experiência relativamente comum que quem trabalha com palavras — em canções, poemas, romances ou textos jornalísticos — se depare com estas estranhas coincidências significativas, misteriosas e frequentemente inexplicáveis. (...)” (daqui; para aqui)
A JOKE A DAY KEEPS THE DOCTOR AWAY (LXXIX)

E-mail do Booking.com: "João, quais são os seus planos para 2021?"
Bolsa de apostas: quantos dias vão ser necessários até ser decidido o encerramento das escolas? (hipótese alternativa: quantos mortos vão ser necessários até ser decidido o encerramento das escolas?)
 
 
Edit (13:01) - ... já faltou mais... 
 
 
Edit (21:08) - Não se perde muitos votos, já podem 

15 January 2021

E aí vão mais umas valentes toneladas de papel timbrado para o lixo...  - já que isso não parece ser uma preocupação, que tal mudar o nome da Direcção Geral de Saúde (DGS) que transporta memórias igualmente desagradáveis?

"O SEF vai passar a chamar-se Serviço de Estrangeiros e Asilo"

Os Fritz, as Adeles, os Peters e as Brigittes (a eficácia alemã já não é o que era)
"Parece que 2 a 4 semanas sem aulas presenciais com os professores, que têm sido obrigadas a seguir um modelo bem tradicional (as interacções em sala de aula, actividades colaborativas entre alunos e outras 'diferenciações' estão fortemente desaconselhadas), destruiriam as aprendizagens de forma 'irremediável' e conduziriam a uma 'geração deslassada' (a tentativa de Manuel Carvalho fazer de Vicente Jorge Silva e cunhar uma expressão para a posteridade). Ou seja, aquilo não terá sido conseguido por anos e anos de políticas disparatadas, em zigues e zagues, com uma acumulação de burocracias para atrapalhar o trabalho dos professores e políticas cada vez mais ridículas de avaliação dessas aprendizagens. Realmente, a presença física dos professores é mesmo 'impactante' para os alunos, ao contrário de uns 30 anos a dizerem que os alunos podem construir o seu conhecimento, em auto-descoberta, com os docentes ali apenas a 'facilitar' (o que poderia ser feito à distância, certo?). Ou que as tecnologias tornariam quase irrelevante o papel do humano na Educação. Os professores foram sendo crismados de 'inúteis', 'egoístas', 'corporativos', 'velhos', 'arcaicos' e tudo o que ocorreu a uma clique de burgessos, nem sempre exteriores ao sector da Educação, só que alguns de forma mais envernizada, mas não menos insidiosa. Afinal são 'essenciais'. (...) (daqui)
Early Music Recordings Of Ensemble Unicorn, Vol. 1
(integral dos 5 CD aqui)

14 January 2021

O simbolismo da situação infecciosa de uma figura premiada

(apenas um exemplo de uma circunstância misteriosa e inexplicável após tantas demonstrações de racionalidade e responsabilidade)
Kronos Quartet - "Turn, Turn, Turn" (Pete Seeger)
(...) [Pete Seeger} Foi também pioneiro do que viria a chamar-se “world music” e um feroz ortodoxo da “pureza” folk, o que o transformaria em protagonista do famigerado incidente do corte dos cabos de palco ao Bob Dylan herecticamente eléctrico, no Newport Folk Festival de 1965. Durante mais de 40 anos, o Kronos Quartet reconfigurou radicalmente o que, convencionalmente, se entendia como quarteto de cordas, interpretando um vastíssimo reportório que se alargou dos minimalistas americanos a Thelonious Monk, Piazzola, Laurie Anderson, Bill Evans, John Zorn, Television, Bryce Dessner, Alban Berg, Jimi Hendrix, compositores africanos e mexicanos, e música de Bollywood, (...) (daqui)

E porque aqui foi referido, coloque-se a incontornável interrogação: 

 Como não votar em Eduardo Baptista?

Como ser insensível a alguém que confessa "Durante a adolescência não tive dúvidas sobre o que queria para mim - uma carreira nas Forças Armadas. Não durou muito. Aos 28 comecei a gostar de estudar". Mais vale tarde que nunca.

Porém... não: "Tentei as belas artes... e consegui. Mas era inconciliável com uma profissão durante o dia".

Qual polímato renascentista, tudo o atraía: "Comecei então a interessar-me pelas ciências sociais. Depois de ter frequentado o primeiro ano de psicologia, acabei por ter de abandonar o curso. Vida de militar não é fácil".

Logo a seguir, "um curso de seleção e experiência nas áreas do recrutamento e seleção de pessoal", "uma missão em Timor Leste" ("dando-me a conhecer outras culturas e povos"), e "o interesse pelo direito". E, "como tudo está interligado, haja vontade de ligar as pontas, pude juntar direito com psicologia e abraçar o desafio de criar uma Rede sobre o Género".

Uma epifania, então, o sacudiu: "Havia muito mais para além da instituição militar"! Guiado por uma força invisível, "arranjei assim um lugar na Associação de Moradores da Tapada das Mercês, perto de Sintra".

E, como, imparavelmente, o mundo pula e avança, "Com a chegada da austeridade e os problemas decorrentes desta, como ter ficado sem 1/3 do ordenado, surge uma oportunidade na esfera da iniciativa privada - produzir e vender cogumelos". Abrindo novos horizontes à agricultura, inventou "um processo de produção que reduzia quase a zero a energia consumida no processo", numa "pequena experiência de empreendedorismo". Sem dúvida, "uma experiência enriquecedora pelo contacto com formadores, empresários e vendedores". Mas a deusa Fortuna não o bafejou: "Não é fácil ser-se empresário, concluiu-se"

Ao mesmo tempo, a literatura chamava-o: "Também escrevi um livro". Morte Aos Romanos era "um romance de ficção que junta aventura com engenharia social. Foi uma resposta à enorme angustia que Portugal vivia na altura. Sem dinheiro e a ter que ficar em casa fechado, porque não escrever um livro. Talvez ainda providenciasse algum orçamento...mas não!! Quem quer saber de livros?"

Mas nunca desistiu: "O ritmo da vida não nos deixa parar, pois à sempre mais um desafio na linha do horizonte, mais uma janela de oportunidades por onde se espreitar". Depois de "quase três anos e meio num cargo internacional, num Quartel-general da NATO, na Holanda"... tcharaam!... "Chega-se a Portugal de armas e bagagens, mesmo em cima deste acontecimento - a campanha eleitoral para Presidente da República". (continua);