30 April 2021
LADO NENHUM
Quando, há algumas semanas, se desencadeou a polémica acerca da legitimidade – étnica e de género – a exigir aos candidatos a tradutores do poema “The Hill We Climb”, lido pela autora, Amanda Gorman, durante a cerimónia de tomada de posse de Joe Biden, ninguém se lembrou de colocar as patrulhas do tribalismo identitário perante o enigma Jimi Hendrix: sem cair no papel de vítima ou agente activo de “apropriação cultural”, com que voz, haveria de exprimir-se o sobrenatural guitarrista de tripla origem afro-americana, irlandesa e cherokee? Se, para ser autorizado a aproximar-se do texto de Amanda, seria praticamente imprescindível ser um clone dela, o que fazer quando, logo à partida, a identidade – seja isso o que for – é múltipla e indivisível? A começar pelo próprio título, Nowhere Sounds Lovely, o álbum de estreia de Cristina Vane é mais uma preciosa acha para alimentar essa fogueira: nascida em Itália de pai ítalo-americano e mãe guatemalteca, cresceu e estudou entre Itália, França e Inglaterra, e, aos 18 anos, viajou para os EUA onde, na universidade de Princeton, se licenciaria em Literatura Comparada. (daqui; segue para aqui)
29 April 2021
... e ainda há quem não reconheça na tricologia política uma disciplina sempre jovem e científica (V)...
"Tony Blair deu uma entrevista — mas precisamos é de falar deste cabelo"
28 April 2021
27 April 2021
26 April 2021
25 April 2021
24 April 2021
22 April 2021
Quando, em 1980, Ivo Watts-Russell e Peter Kent fundaram a 4AD, o plano era manter-se em actividade durante 10 anos e, no último dia de 1990, fechar as portas. Ainda esse dia estava longe de chegar e já Watts-Russell – o mais novo de oito irmãos de uma linhagem aristocrática arruinada –, na segunda metade dos anos 80, confessava ser incapaz de virar costas às bandas (Cocteau Twins, This Mortal Coil, Dead Can Dance, Clan of Xymox, Bauhaus, Modern English, Birthday Party, Xmal Deutschland, Colourbox, The Wofgang Press, Momus/The Happy Family...) que haviam transformado a editora num dos mais luminosos faróis da cena "indie" britânica. Segundo Martin Aston, autor de Facing The Other Way: The Story Of 4AD (2013), o sucesso da 4AD assentou no desprendimento comercial de Ivo Watts-Russell – que, logo em 1981, ficaria sozinho à frente da editora – e numa inclinação estética que privilegiava “sentimentos e segredos ocultos, sonhos ansiosos e medos sufocados, esperança e raiva, criados por uma trupe de 'beautiful freaks' que não desejavam ser vistos”.
O horizonte alargar-se-ia até à outra margem do Atlântico onde iriam descobrir os Pixies, Throwing Muses e Breeders mas, em 1999, Ivo venderia a sua quota da editora à Beggars Banquet – para a qual, desde o início, a 4AD fora pensada como incubadora de novas bandas – e exilar-se-ia até hoje no deserto do Novo México. A partir de 2007 com Simon Halliday no comando das operações, sem abdicar significativamente do perfil original, o catálogo foi-se diversificando e alargando (Mountain Goats, TV On The Radio, The National, Scott Walker, Beirut, Bon Iver, Tune-Yards, St. Vincent, Efterklang, Grimes, Future Islands, U.S. Girls, Holly Herndon, Aldous Harding, Big Thief), chegando, agora, o momento de celebrar quatro décadas de existência com a publicação de Bills & Aches & Blues (primeiro verso de "Cherry-Coloured Funk", dos Cocteau Twins) uma espécie de recuperação actualizada do conceito This Mortal Coil no qual bandas actuais revisitam temas dos “clássicos” 4AD. (daqui; segue para aqui)
21 April 2021
20 April 2021
19 April 2021
18 April 2021
17 April 2021
... e o vinho e os enchidos e os cigarros e a carne de porco e os preservativos e tudo o que não seja devidamente "halal" como o profeta ensinou
"Evian s'excuse pour un tweet le jour du ramadan et se fait encore critiquer"
16 April 2021
(sequência daqui) A verdade é que tanto Merrill como Nate são um verdadeiro caldeirão cultural. Ele, devoto de “Red Hot Chili Peppers, George Clinton, Bootsy Collins… o meu pai era um pouco snob musicalmente e preferia jazz e Beethoven, a minha mãe ouvia Beatles, Michael Jackson, Earth Wind & Fire”; ela, fã de “Deerhoof mas também David Bowie, Laurie Anderson, gente que integrava a 'performance art' na música. Em termos especificamente musicais, Joni Mitchell, as Zap Mama, pela forma como exploravam a voz como um instrumento rítmico, Bobby McFerrin, e os Beatles, pela riqueza e complexidade que injectaram na canção pop”. Tudo isso, porém, submetido à norma de nunca pisar a linha proibida: “É muito importante e desejável que os músicos se influenciem uns aos outros mas, actualmente, não é, de todo, possível continuar a fingir que ignoramos como as pessoas negras são tratadas. Não somos uma banda famosíssima mas não queremos alinhar nesse fingimento. O que vivemos não pode ser aceite como normal”. A normal anormalidade dos quatro intermináveis anos do pesadelo Trump, “uma agonia perante a rejeição dos outros assente na mitologia de quem somos ‘nós’ e quem são ‘os outros’. Os músicos brancos podem sempre refugiar-se naquele lugar comum de que a música é uma linguagem universal. Mas não podem fingir que não reparam – aqui como na Europa – que as nossas sociedades serão cada vez menos brancas. Se não formos capazes de lidar com essa interiorização do pensamento racista sobre a forma como se encara a diferença, irão existir mais erupções de violência como as actuais”.
Sketchy é, entretanto, um reflexo exuberante, ritmicamente arrebatado e multicolorido de tudo isto: “Fazemos música e uma parte importante disso é um convite à alegria e a movimentarmos o corpo, o que é tanto uma celebração da vida como um exame de tudo o que temos estado a falar. Quando eu e o Nate nos juntámos quisemos redescobrir o prazer primordial de fazer música. As cores garridas da capa deste álbum representam um pouco esse desejo de continuar a olhar para o sol embora saibamos que ele nos pode cegar”. O que, contudo, nunca a impedirá de observar e desmontar cirurgicamente a sapiência dos mestres como acontece, logo a abrir, em "Nowhere, Man", quando canta “Seems like Jesus and Dylan got the whole thing wrong, if you cannot hear a woman then how can you write her song?”. "Just Like A Woman"? (risos) “Anda toda a gente a tentar descobrir quem é essa ‘woman’. Mas podem ser muitas... essa, a de ‘Lay Lady Lay’, a de ’Like A Rolling Stone’... o meu pai era um enorme fã do Bob Dylan e aí eu reflicto sobre como a minha história enquanto mulher teria já sido escrita nessa altura. E como essa percepção do que uma mulher é foi escrita por quem nunca viveu num corpo de mulher”.
15 April 2021
14 April 2021
13 April 2021
Edit (14/04/2021) - ... e ainda (sugerido nesta caixa de comentários)...
R. E. M. & Neil Young
STREET ART, GRAFFITI & ETC (CCLXXII)
12 April 2021
11 April 2021
10 April 2021
09 April 2021
08 April 2021
07 April 2021
06 April 2021
Tudo normal: a China limita-se a aceitar o convite - melhor, a súplica - que lhe foi dirigido pela vencedora do Prémio "Portugal Fashion" 2021; a Rússia está apenas desejosa de perceber por que raio, sendo uma potência capitalista, a beatagem social-fascista local continua a fazer-lhe olhinhos
"China e Rússia suspeitas de fazerem ciberespionagem a Portugal"
TOM DE SÉPIA
Em 2015, Lael Neale tinha publicado I’ll Be Your Man (“O título era como se estivesse atrás do Leonard Cohen mas sem nunca poder tocar-lhe”), um álbum de estreia que ficou bastante longe de a satisfazer: “A prática habitual de montar diversas takes de uma canção e criar uma espécie de versão-Frankenstein dela deixou-me sempre com a sensação de que, tal como ao monstro, a vida tinha-lhe sido subtraída. Depois disso, passei anos em diversos estúdios, com diferentes músicos, gravei álbuns inteiros apenas para os atirar para o lixo logo a seguir. As canções ficavam sobrecarregadas de arranjos estéreis e instrumentações supérfluas. Precisava de me despojar de tudo o que era desnecessário ao processo de escrita. A ideia de começar pelo esqueleto era emocionante”. A primeira ferramenta que lhe ocorreu para esse processo de depuração foi o Novachord, um vetusto sintetizador polifónico produzido pela Hammond entre 1939 e 1942, o qual, apesar de ter sido usado em diversas bandas sonoras de filmes de terror e "sci-fi", e também por Kurt Weill, Villa-Lobos e Hans Eisler, não teve vida útil muito longa. Seria, afinal, o produtor Guy Blakeslee a oferecer-lhe a solução: um Omnichord – espécie de "keytar" infantil fabricado pela Suzuki nos anos 80 e abençoado por Brian Eno, Daniel Lanois, David Bowie e Magnetic Fields – e um rudimentar gravador de 4 pistas que instalou no canto de um bungalow nas colinas de Echo Park, em Los Angeles, cenário ideal para a criação de Acquainted With Night. (daqui; segue para aqui)