28 December 2024



 
(sequência daqui) Mas, talvez, a mais rica e diversificada tenha sido a que, na década de 80 ficou conhecida como "renascença do rock americano", dos R.E.M., Dream Syndicate, Violent Femmes, Green On Red e Los Lobos, aos Jason & The Scorchers, Blasters ou Rain Parade e inúmeros outros. Entre os quais, os Lone Justice, praticantes de "country/cowpunk" de apenas dois álbuns mas que revelaram ao mundo a tremenda voz da então ainda adolescente, Maria McKee. Se, dela, na trajectória a solo que se seguiu à implosão da banda, nunca poderemos, pelo menos, esquecer o magnífico La Vita Nuova (2020), Viva Lone Justice - operação de limpeza, restauro e recontrução de fitas de gravações informais dos primórdios da banda - transporta-nos para aquele muito particular universo no qual a energia frenética de "Rattlesnake Mama", "Nothing Can Stop My Loving You" e, sobretudo, "Teenage Kicks" (dos Undertones), coexiste facilmente com o romantismo de câmara de "You Possess Me" e com o tradicionalismo de "Wade In The Water".

26 December 2024

 LIMPEZA, RESTAURO E RECONSTRUÇÃO


Não há forma de lhes fugir. Pode atribuir-se-lhes muita, pouca ou nenhuma importância mas, a partir do momento em que, mais ou menos espontaneamente, surgem, é garantido que - para além do que de valioso produzam - a indústria rapidamente fará tudo o que estiver ao seu alcance para as esterilizar, normalizar, infinitamente replicar e converter em marcas registadas. Falo, naturalmente, das inúmeras "scenes" que, numa interminável corrida de estafetas, recebem o testemunho da anterior e logo o passam à seguinte. Breve revisão: o “eixo-Liverpool/Manchester” (Joy Division, Echo & The Bunnymen, The Teardrop Explodes, Smiths); a breve mas intensa "no wave" novaiorquina; o lerdo grunge de Seattle; a coreografia química de Madchester; o "british jazz revival" de Sade, Weekend/Working Week ou Everything But The Girl; a languidez de Bristol; enfim, a cintilante polivalência da "Brooklyn scene" (Dirty Projectors, Vampire Weekend, The National, My Brightest Diamond). (daqui; segue para aqui)

Lone Justice - "Teenage Kicks"

24 December 2024

MÚSICA 2024 - INTERNACIONAL (IV) 

(iniciando-se, de baixo para cima *, de um total de 27)

  
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 The Unthanks - In Winter
 
 

 
 
* a ordem é razoavelmente arbitrária 

23 December 2024

Olha o gajo das "percepções"!


Edit (21:02) - ... ora cá está...
 
Edit (24/12/2024) - ... e parece haver uma forte percepção de que este gajo é um bandalho...

21 December 2024

... e não pára... está em todo o lado, a toda a hora, em todas as bocas!... (esta gente não se dá conta da tristíssima figura que faz?)

20 December 2024

MÚSICA 2024 - INTERNACIONAL (III) 

(iniciando-se, de baixo para cima *, de um total de 27)

 


St Vincent - All Born Screaming 

 

 

Anna Calvi - Peaky Blinders: Seasons 5 & 6 (Original score)

 

 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 

Arushi Jain - Delight

* a ordem é razoavelmente arbitrária
Este ano, pega ao trabalho um dia mais cedo

Um gajo fica logo com uma sensação de tranquilidade do caraças
 
As hordas ululantes de bárbaros implacavelmente esmagadas pela(s) bravíssima(s) bófia(s)

19 December 2024

16 December 2024

14 December 2024

 
"The Fun Of It" (ft. Andreya Casablanca)
 
(sequência daqui) Este ano, porém, sem que nada o fizesse prever, foi publicado o magnífico Amelia, de Laurie Anderson, e, pouco mais de um mês depois, The Last Flight, dos britânicos Public Service Broadcasting. Se ainda for indispensável apresentá-los, saiba-se que se trata de um quarteto londrino - J. Willgoose, Esq. (maquinaria, guitarras, samples), Wrigglesworth (bateria, piano), JF Abraham (baixo e multi-instrumentista) e Mr B (design visual) - inteiramente dedicado à missão de articular conceptualmente imagens e registos sonoros de arquivos históricos com cenários musicais contemporâneos. Nos anteriores Inform-Educate-Entertain (2013), The Race For Space (2015), Every Valley (2017) e Bright Magic (2021), o espectro alargava-se da corrida pelo espaço ao declínio da indústria mineira em Gales. The Last Flight ocupa-se do derradeiro episódio da trajectória da intrépida aviatrix e, com a participação de Andreya Casablanca, da norueguesa EERA, de Kate Stables (This Is The Kit) e da actriz Kate Graham que dá voz aos discursos directos de Amelia, concretiza o projecto que J. Willgoose, Esq. desvenda: "Inicialmente, interessei-me pelo seu voo final mais do que pelos sucessos dela. Mas, quanto mais lia, mais fascinado por ela ficava. A sua bravura e proezas aeronáuticas eram extraordinárias mas a sua filosofia e dignidade faziam dela uma pessoa excepcional". A encenação sonora está à altura do lema de Amelia: "I do it because I want to, I do it for the fun of it’".

13 December 2024

MÚSICA 2024 - INTERNACIONAL (I) 

(iniciando-se, de baixo para cima *, de um total de 27) 

 

 

Cabane - Brulée 

 

 

 Chastity Belt - Live Laugh Love

 

  

 Quivers - Oyster Cuts

 

 

Laetitia Sadier - Rooting For Love

  

 
 * a ordem é razoavelmente arbitrária
Um celebra o 76º aniversário com os Xutos, em modo-ganda-maluco; o outro, candidato ao poleiro, autocelebra-se em cartoon obalhamedeus; não deve ser muito arriscado dizer que existe um espaço político vago pronto para receber o Emplastro

11 December 2024

FAÇO PORQUE QUERO

Em 1972, Ian Matthews era um dos primeiros da imensa diáspora oriunda dos Fairport Convention que, há pouco, se havia iniciado. Por essa altura, enquanto Matthews Southern Comfort, gravara já um álbum homónimo (1969) e, após duas experiências a solo - If You Saw Thro' My Eyes (1971) e Tigers Will Survive (1972) -, dedicar-se-ia à curta existância dos Plainsong: formados no início de 1972 e extintos no final desse mesmo ano, deixariam como testemunho da sua meteórica vida inicial (diversas ressuscitações aconteceriam posteriormente) In Search Of Amelia Earhart, dedicado à pioneira norte-americana da aviação, misteriosa e tragicamente desaparecida em 1937, quando ousava a viagem de circumnavegação aérea da Terra. As homenagens e tributos que, nas mais variadas áreas, lhe foram, desde então, prestados são inúmeros mas, no que à música diz respeito, para além do álbum dos Plainsong, até agora, apenas se registava uma canção de Joni Mitchell, "Amelia", em Hegira (1976) - "Pensava em Amelia Earhart e era como uma piloto solitária dirigindo-se a outra, reflectindo sobre o que custa ser mulher e haver algo que não podemos deixar de fazer", diria Mitchell. (daqui; segue para aqui)

"The South Atlantic" (ft. This Is The Kit)
Alá é grande! Depois do Mundial no Qatar esclavagista, segue-se, naturalmente, o Mundial na ditadura islâmica da Arábia Saudita (o Afeganistão talibã já deve estar na filinha)
 
Príncipe Mohammed Bin-Salman, da Arábia Saudita, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, e o outro bandido

Edit (20:25) - Convém também não esquecer

10 December 2024

Rollerskate Skinny - Novice EP

(1992)


(ver aqui e aqui)

Na verdade, os mariolas da IURD não são melhores nem piores que os mariolas da Vaticano S.A. e de todos os outros concorrentes no ramo da superstição religiosa - e se, devidamente autorizados, já javardaram a estrutura do edifício original, ao menos fiquemos-lhes gratos por se terem livrado do infame nome "Império"


09 December 2024

"Chega-se A Este Ponto"

(sequência daqui) JL - A hereditariedade via avô e bisavô funcionou bem... 

    C - Nunca ouvi o meu avô nem o meu bisavô cantarem. Sabia que o meu avô cantava mas não existem registos musicais. No entanto, uma vez, fui a casa do José Moças que é um fantástico coleccionador de registos musicais, e descobri um disco de 1918 do meu bisavô, José Júlio Paiva, que ele tinha descoberto nos EUA. Tinha só dois temas. Digitalizou-o e ofereceu-mo. Eram dois fados. Um deles tinha até alguma influência do fado de Coimbra. O meu bisavô era da Murtosa, na zona de Aveiro. Estava ligado â construção naval e acabou por vir para o Alfeite. Um dos temas, eu e o Zé Mário conseguimos adaptá-lo a um poema do Pessoa, "Aqui Está-se Sossegado". Ao outro tema justapusemos um poema em decassílabos (acho que foi o primeiro fado em decassílabos), "Conta e Tempo", um poema do século XVII, de Frei António das Chagas. O meu bisavô não era artista profissional mas cantava bastante em festas, era razoavelmente conhecido. Tenho uma fotografia em que ele está com o Gago Coutinho e o Sacadura Cabral, numa festa de uma colectividade em Lisboa. 

    JL - Quando cantas com um agrupamento de fado tradicional, com uma orquestra, ou só com um piano como te posicionas vocalmente? É muito diferente? 

  C - Não. Nunca. Se estiver a cantar fado, não. Quando fiz o primeiro disco com o Mário Laginha, ele próprio se apercebeu da necessidade e do desafio que era ter de ser ele a adaptar-se â linguagem do fado. O fado Mouraria, por exemplo, só tem dois acordes e é precido trabalhar o ambiente para o que irá ser cantado.

07 December 2024


(com a colaboração do correspondente do PdC em Pequim)

Catherine Nixey - Heresia: Jesus Cristo e os Outros Filhos de Deus (II)

"Tal como uma visão celestial tinha informado S. Pedro, Simão tinha-se agora estabelecido na capital do império, onde (assim relatam os Actos de Pedro, escritos no século II), uma vez mais, estava a seduzir pessoas graças ao engenho de Satanás. S. Pedro (...) partiu de imediato. O cenário com que Pedro foi recebido em Roma era terrível. Muitos dos cristãos da cidade já tinham abandonado os caminhos de Cristo e tinham-se tornado seguidores fervorosos de Simão - incluindo alguns dos mais ricos doadores cristãos. (...) Os cristãos que se mantinham fiéis incitaram imediatamente S. Pedro a 'dar combate a Simão e não lhe permitir que continuasse a envergonhar o povo'. S. Pedro concordou. (...) A primeira movimentação de Pedro contra o feiticeiro maligno foi inesperada mas eficaz: ordenou a um grande cão que fosse ter com Simão, levantasse as patas dianteiras e o insultasse. O cão fez tudo isso de forma obediente, rosnando frases contundentes como 'seu inexcedivelmente malvado e desavergonhado', e 'mais malévolo de todos e enganador das almas simples', equilibrando-se nas patas traseiras. Simão estava aterrado: a multidão reunida estava deliciada; e o cão, tendo cumprido o seu dever, caiu morto aos pés de Pedro" (ver também aqui; segue)

05 December 2024

Qual a surpresa? É apenas uma lógica sequência laboral para uma "esposa do senhor"
"A Luz de Lisboa"

(sequência daqui) JL - Correndo o risco de largar mais uma daquelas frases de que nunca mais nos livramos, poderá dizer-se que o Zé Mário foi o teu Alain Oulman? 

    C - Completamente. Nas mais variadas circunstâncias. Por exemplo, estar atento à possibilidade de, num determinado poema, cantar uma parte e não a outra, algumas repetições que não deveriam ser feitas e outras que eram necessárias. 

    JL - Como é que o Zé Mário encarava os teus "desvios" para o exterior do fado (caso dos Humanos, da interpretação de standards norte-americanos, Xutos, Jorge Palma)... 

    C - Foram casos pontuais, convites para coisas que, não sendo fado, eu gostava realmente de fazer. Essencialmente, tratou-se de circunstâncias em que a minha forma de cantar nunca se esquece de ir por dentro do texto, contar a história e entrar naquele ambiente A minha ideia não era sair da minha música que é, de facto, o fado. E o Zé Mário percebeu perfeitamente que aquilo não era um caminho, não era nenhum desvio, 

    JL - Desde esse primeiro encontro entre um ex-inimigo figadal do fado e um puto que toda a vida respirou fado, funcionaste um pouco como um jovem mestre dele? 

    C - O fado tinha passado a ser apenas a ser uma música de que ele gostava muito. Aliás, comigo, o processo foi ouvir fado as escondidas em casa, baixinho. Depois ouvia rock - era mais heavy metal - na garagem de uns amigos em Porto Salvo - e depois havia a pop. Nessa altura, havia muitas bandas a começar nas garagens e desafiavam-me para cantar mas eu escolhi o fado. Achava que a minha voz, a minha maneira de cantar e aquilo que eu queria tinham a ver com o fado. Mas quando comecei a ouvir fado - o meu bisavô e o meu avô cantavam -, aquilo irritava-me imenso, achava esquisita aquela característica do canto. Não foi nada natural, incomodava-me aquela voz fadista do meu pai. O que é certo é que, sem querer, acabei por herdá-la. Quando tinha doze ou treze anos e cantava outras coisas que não fado, afadistava-as e os meus amigos gozavam comigo. Eu até pensava que não tinha jeito para cantar mas, quando comecei a cantar fado, com todas as inseguranças, apercebi-me de que, por ali, conseguia cantar. (segue para aqui)

Rollerskate Skinny - "Bow Hitchhiker"/"Abba's Song"/"Violence To Violence" (Peel Session 1993)

(ver aqui e aqui)

02 December 2024

"Sem Deus Nem Senhor"

(sequência daqui) JL - Em que medida te apercebeste ainda do Zé Mário anterior que não gostava de fado e tinha mesmo um preconceito contra o fado? 

    C - Já não existia. Aliás, nessa altura, ele tinha já até escrito uns fados para o Carlos do Carmo. E o Sérgio Godinho, o Janita, também já tinham feito esse mesmo trajecto. O Zé Mário adorava fado tradicional. A nossa relação nunca foi política. Era fado. 

    JL - Como é que essa vossa colaboração se foi desenvolvendo? 

    C - Eu pegava, por exemplo, em poemas do David Mourão Ferreira ou do Fernando Pessoa e colocava-os nos fados tradicionais. Oferecia-lhe várias opções para ele poder escolher, em relação aquela poesia, qual o fado tradicional que lhe assentava melhor e conseguia transmitir o registo emocional daquele poema. Os fados tradicionais são imensos. Quando se canta um poema, é preciso que a música daquele fado o queira acolher. Ele criou uma sonoridade para o meu fado que tinha (e tem) muito a ver com tudo isto. Neste espectáculo de homenagem ao Zé Mário, estão os fados que ele escreveu para mim, fados inéditos que, hoje, são considerados fados tradicionais. Mais cinco músicas do reportório dele que nunca tinha cantado. 

    JL - Quando foi publicado o teu primeiro álbum (Uma Noite de Fados,1995), escrevi algo que se colaria para sempre à tua e à minha pele quando anunciei que a "nova Amália é um homem e chama-se Camané"... 

    C - (risos) Achei piada. Tinha a ver com o contexto da época, andava-se sempre à procura da nova Amália... Claro que ela teve uma enorme importância na minha vida e no que eu gosto de fazer. Por exemplo, na busca de poesias capazes de serem integradas no reportório do fado. Com a ajuda do Zé Mário e da Manuela de Freitas, também consegui ir por esse caminho. Havia muito quem dissesse que o Fernando Pessoa não era um poeta cantável. E eu cantei muitos fados com poemas dele sobre fados tradicionais - o "fado Rosita", o "fado Isabel", o "fado Alfacinha". Poetas e poemas que não eram normalmente utilizados no fado. Tem que se escolher muito bem e identificar o registo emocional de cada poema. (segue para aqui

Voltamos, então, às injecções de lexívia?