31 December 2024
30 December 2024
MÚSICA 2024 - INTERNACIONAL (V)
29 December 2024
28 December 2024
26 December 2024
Não há forma de lhes fugir. Pode atribuir-se-lhes muita, pouca ou nenhuma importância mas, a partir do momento em que, mais ou menos espontaneamente, surgem, é garantido que - para além do que de valioso produzam - a indústria rapidamente fará tudo o que estiver ao seu alcance para as esterilizar, normalizar, infinitamente replicar e converter em marcas registadas. Falo, naturalmente, das inúmeras "scenes" que, numa interminável corrida de estafetas, recebem o testemunho da anterior e logo o passam à seguinte. Breve revisão: o “eixo-Liverpool/Manchester” (Joy Division, Echo & The Bunnymen, The Teardrop Explodes, Smiths); a breve mas intensa "no wave" novaiorquina; o lerdo grunge de Seattle; a coreografia química de Madchester; o "british jazz revival" de Sade, Weekend/Working Week ou Everything But The Girl; a languidez de Bristol; enfim, a cintilante polivalência da "Brooklyn scene" (Dirty Projectors, Vampire Weekend, The National, My Brightest Diamond). (daqui; segue para aqui)
24 December 2024
MÚSICA 2024 - INTERNACIONAL (IV)
(iniciando-se, de baixo para cima *, de um total de 27)
23 December 2024
22 December 2024
21 December 2024
20 December 2024
MÚSICA 2024 - INTERNACIONAL (III)
St Vincent - All Born Screaming
Anna Calvi - Peaky Blinders: Seasons 5 & 6 (Original score)
19 December 2024
16 December 2024
MÚSICA 2024 - INTERNACIONAL (II)
(iniciando-se, de baixo para cima *, de um total de 27)
Nuala Kennedy & Eamon O'Leary - Hydra
* a ordem é razoavelmente arbitrária
15 December 2024
14 December 2024
13 December 2024
MÚSICA 2024 - INTERNACIONAL (I)
(iniciando-se, de baixo para cima *, de um total de 27)
Chastity Belt - Live Laugh Love
Laetitia Sadier - Rooting For Love
11 December 2024
FAÇO PORQUE QUERO
10 December 2024
Na verdade, os mariolas da IURD não são melhores nem piores que os mariolas da Vaticano S.A. e de todos os outros concorrentes no ramo da superstição religiosa - e se, devidamente autorizados, já javardaram a estrutura do edifício original, ao menos fiquemos-lhes gratos por se terem livrado do infame nome "Império"
09 December 2024
(sequência daqui) JL - A hereditariedade via avô e bisavô funcionou bem...
C - Nunca ouvi o meu avô nem o meu bisavô cantarem. Sabia que o meu avô cantava mas não existem registos musicais. No entanto, uma vez, fui a casa do José Moças que é um fantástico coleccionador de registos musicais, e descobri um disco de 1918 do meu bisavô, José Júlio Paiva, que ele tinha descoberto nos EUA. Tinha só dois temas. Digitalizou-o e ofereceu-mo. Eram dois fados. Um deles tinha até alguma influência do fado de Coimbra. O meu bisavô era da Murtosa, na zona de Aveiro. Estava ligado â construção naval e acabou por vir para o Alfeite. Um dos temas, eu e o Zé Mário conseguimos adaptá-lo a um poema do Pessoa, "Aqui Está-se Sossegado". Ao outro tema justapusemos um poema em decassílabos (acho que foi o primeiro fado em decassílabos), "Conta e Tempo", um poema do século XVII, de Frei António das Chagas. O meu bisavô não era artista profissional mas cantava bastante em festas, era razoavelmente conhecido. Tenho uma fotografia em que ele está com o Gago Coutinho e o Sacadura Cabral, numa festa de uma colectividade em Lisboa.
JL - Quando cantas com um agrupamento de fado tradicional, com uma orquestra, ou só com um piano como te posicionas vocalmente? É muito diferente?
C - Não. Nunca. Se estiver a cantar fado, não. Quando fiz o primeiro disco com o Mário Laginha, ele próprio se apercebeu da necessidade e do desafio que era ter de ser ele a adaptar-se â linguagem do fado. O fado Mouraria, por exemplo, só tem dois acordes e é precido trabalhar o ambiente para o que irá ser cantado.
08 December 2024
07 December 2024
05 December 2024
(sequência daqui) JL - Correndo o risco de largar mais uma daquelas frases de que nunca mais nos livramos, poderá dizer-se que o Zé Mário foi o teu Alain Oulman?
C - Completamente. Nas mais variadas circunstâncias. Por exemplo, estar atento à possibilidade de, num determinado poema, cantar uma parte e não a outra, algumas repetições que não deveriam ser feitas e outras que eram necessárias.
JL - Como é que o Zé Mário encarava os teus "desvios" para o exterior do fado (caso dos Humanos, da interpretação de standards norte-americanos, Xutos, Jorge Palma)...
C - Foram casos pontuais, convites para coisas que, não sendo fado, eu gostava realmente de fazer. Essencialmente, tratou-se de circunstâncias em que a minha forma de cantar nunca se esquece de ir por dentro do texto, contar a história e entrar naquele ambiente A minha ideia não era sair da minha música que é, de facto, o fado. E o Zé Mário percebeu perfeitamente que aquilo não era um caminho, não era nenhum desvio,
JL - Desde esse primeiro encontro entre um ex-inimigo figadal do fado e um puto que toda a vida respirou fado, funcionaste um pouco como um jovem mestre dele?
C - O fado tinha passado a ser apenas a ser uma música de que ele gostava muito. Aliás, comigo, o processo foi ouvir fado as escondidas em casa, baixinho. Depois ouvia rock - era mais heavy metal - na garagem de uns amigos em Porto Salvo - e depois havia a pop. Nessa altura, havia muitas bandas a começar nas garagens e desafiavam-me para cantar mas eu escolhi o fado. Achava que a minha voz, a minha maneira de cantar e aquilo que eu queria tinham a ver com o fado. Mas quando comecei a ouvir fado - o meu bisavô e o meu avô cantavam -, aquilo irritava-me imenso, achava esquisita aquela característica do canto. Não foi nada natural, incomodava-me aquela voz fadista do meu pai. O que é certo é que, sem querer, acabei por herdá-la. Quando tinha doze ou treze anos e cantava outras coisas que não fado, afadistava-as e os meus amigos gozavam comigo. Eu até pensava que não tinha jeito para cantar mas, quando comecei a cantar fado, com todas as inseguranças, apercebi-me de que, por ali, conseguia cantar. (segue para aqui)
04 December 2024
03 December 2024
02 December 2024
(sequência daqui) JL - Em que medida te apercebeste ainda do Zé Mário anterior que não gostava de fado e tinha mesmo um preconceito contra o fado?
C - Já não existia. Aliás, nessa altura, ele tinha já até escrito uns fados para o Carlos do Carmo. E o Sérgio Godinho, o Janita, também já tinham feito esse mesmo trajecto. O Zé Mário adorava fado tradicional. A nossa relação nunca foi política. Era fado.
JL - Como é que essa vossa colaboração se foi desenvolvendo?
C - Eu pegava, por exemplo, em poemas do David Mourão Ferreira ou do Fernando Pessoa e colocava-os nos fados tradicionais. Oferecia-lhe várias opções para ele poder escolher, em relação aquela poesia, qual o fado tradicional que lhe assentava melhor e conseguia transmitir o registo emocional daquele poema. Os fados tradicionais são imensos. Quando se canta um poema, é preciso que a música daquele fado o queira acolher. Ele criou uma sonoridade para o meu fado que tinha (e tem) muito a ver com tudo isto. Neste espectáculo de homenagem ao Zé Mário, estão os fados que ele escreveu para mim, fados inéditos que, hoje, são considerados fados tradicionais. Mais cinco músicas do reportório dele que nunca tinha cantado.
JL - Quando foi publicado o teu primeiro álbum (Uma Noite de Fados,1995), escrevi algo que se colaria para sempre à tua e à minha pele quando anunciei que a "nova Amália é um homem e chama-se Camané"...
C - (risos) Achei piada. Tinha a ver com o contexto da época, andava-se sempre à procura da nova Amália... Claro que ela teve uma enorme importância na minha vida e no que eu gosto de fazer. Por exemplo, na busca de poesias capazes de serem integradas no reportório do fado. Com a ajuda do Zé Mário e da Manuela de Freitas, também consegui ir por esse caminho. Havia muito quem dissesse que o Fernando Pessoa não era um poeta cantável. E eu cantei muitos fados com poemas dele sobre fados tradicionais - o "fado Rosita", o "fado Isabel", o "fado Alfacinha". Poetas e poemas que não eram normalmente utilizados no fado. Tem que se escolher muito bem e identificar o registo emocional de cada poema. (segue para aqui