(sequência daqui) JL - A hereditariedade via avô e bisavô funcionou bem...
C - Nunca ouvi o meu avô nem o meu bisavô cantarem. Sabia que o meu avô cantava mas não existem registos musicais. No entanto, uma vez, fui a casa do José Moças que é um fantástico coleccionador de registos musicais, e descobri um disco de 1918 do meu bisavô, José Júlio Paiva, que ele tinha descoberto nos EUA. Tinha só dois temas. Digitalizou-o e ofereceu-mo. Eram dois fados. Um deles tinha até alguma influência do fado de Coimbra. O meu bisavô era da Murtosa, na zona de Aveiro. Estava ligado â construção naval e acabou por vir para o Alfeite. Um dos temas, eu e o Zé Mário conseguimos adaptá-lo a um poema do Pessoa, "Aqui Está-se Sossegado". Ao outro tema justapusemos um poema em decassílabos (acho que foi o primeiro fado em decassílabos), "Conta e Tempo", um poema do século XVII, de Frei António das Chagas. O meu bisavô não era artista profissional mas cantava bastante em festas, era razoavelmente conhecido. Tenho uma fotografia em que ele está com o Gago Coutinho e o Sacadura Cabral, numa festa de uma colectividade em Lisboa.
JL - Quando cantas com um agrupamento de fado tradicional, com uma orquestra, ou só com um piano como te posicionas vocalmente? É muito diferente?
C - Não. Nunca. Se estiver a cantar fado, não. Quando fiz o primeiro disco com o Mário Laginha, ele próprio se apercebeu da necessidade e do desafio que era ter de ser ele a adaptar-se â linguagem do fado. O fado Mouraria, por exemplo, só tem dois acordes e é precido trabalhar o ambiente para o que irá ser cantado.
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