30 November 2021
29 November 2021
27 November 2021
26 November 2021
25 November 2021
24 November 2021
23 November 2021
22 November 2021
21 November 2021
20 November 2021
19 November 2021
DECIFRAÇÃO DO BRASIL
“Somos mulatos híbridos e mamelucos, e muito mais cafuzos do que tudo mais, o português é o negro dentre as eurolínguas, superaremos cãibras, furúnculos, ínguas, com Naras, Bethânias e Elis, faremos mundo feliz, únicos vários iguais, Rio Canaveses (...) católicos de axé e neopetencostais, nação grande demais para que alguém engula, avisa aos navegantes, bandeira da paz, ninguém mexa jamais, ninguém roça e nem bula, João Gilberto falou e no meu coco ficou, 'quem é, quem és e quem sou? somos chineses'”. Três minutos e nove segundos após o início de Meu Coco (álbum e canção), concluído o manifesto erguido sobre a brigada de percussões de Marcio Victor (timbal, talk drums, atabaque, derbak, shake, balde, tamborim, aro, alfaia e surdo) e rasgado pelo labiríntico arranjo de sopros de Thiago Amud, Caetano Veloso não poderia deixar tudo mais transparentemente nítido: meio século depois, a explosão tropicalista permanece absolutamente actual e, se calhar, inesperadamente necessária. O precursor Oswald de Andrade já falava de como os desbravadores do futuro se achavam “perdidos como chineses na genealogia das ideias” e, no “Manifesto Antropófago” (1928), não sonhava sequer que o que propunha – “Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. (…) Tupi or not tupi, that is the question. Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. (…) Queremos a Revolução Caraíba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direcção do homem. (…) A idade do ouro anunciada pela América” –, com 100 anos de antecipação, fornecia munições contra todos os tribalismos identitaristas e patrulhas de vigilância da “apropriação cultural”. (daqui; segue para aqui)
18 November 2021
17 November 2021
16 November 2021
15 November 2021
14 November 2021
13 November 2021
12 November 2021
11 November 2021
10 November 2021
09 November 2021
08 November 2021
07 November 2021
06 November 2021
Como escapa uma miúda negra, da Carolina do Sul, à claustrofobia de uma família Adventista do 7º Dia? Dedica-se a estudar tuba. E oboé. Toca na “marching band” da escola. Às escondidas, vai escutando Nirvana, Miles Davis, Fiona Apple e Outkast. Mas foi apenas quando, aos 21 anos, Adia Victoria conseguiu comprar uma guitarra, que as portas se lhe abriram: “Nada se passava na minha vida. A guitarra descobriu-me na mesma altura que os blues me encontraram. Senti-me autorizada a contar as histórias de que nunca tinha falado. Foi uma bóia de salvação. Um refúgio. Não sabia como as minhas mãos podiam ser tão inteligentes. Toda a minha relação com o corpo mudou: ele não existia apenas para consumo e prazer dos outros. Existia para que eu pudesse fazer algo com ele, para mim. Sim, foi isso que aprendi com aquela pobre Washburn acústica”. Quando, há dois anos, publicou o impressionante Silences, tinha também escancarado outra porta: “Não acredito em música apolítica. Tomamos posição e comentamos o que se passa no mundo. Toda a música e arte são políticas”. (daqui; segue para aqui)