14 November 2021

OUTRO FILME PARA OS OUVIDOS


A "city symphony", um género cinematográfico experimental surgido nos anos 20 do século passado, pretendia, através do ritmo de uma montagem fragmentada e caleidoscópica, mostrar a vibração das grandes cidades, não como cenário ou pano de fundo mas enquanto personagem principal. Documentários poéticos de uma quase abstracção animada pela câmara, Man With A Movie Camera (1929), de Dziga Vertov, Manhatta (1921), de Paul Strand e Charles Sheeler, Douro, Faina Fluvial (1931), de Manoel de Oliveira, ou Berlin: Die Sinfonie der Großstadt (1927), de Walter Ruttmann, eram registos vertiginosos de “a day in the life” convertidos em música visual. Ruttmann, figura importante da vanguarda artística alemã da época, seria também o autor de Wochenende (1930), colagem de sons recolhidos pelas ruas de Berlim que anteciparia a “musique concrète” e que ele descreveria como “uma sinfonia de sons, fragmentos de fala e silêncio tecidos num poema”, algo como um “filme para os ouvidos”, isto é, o oposto das "city symphonies". Quase um século depois, foi no rasto de Ruttmann – e de David Bowie, Marlene Dietrich, e Anita Berber, actriz, bailarina, “Deusa da Noite” e “Princesa do Deboche” da República de Weimar (e do seu ácido cronista Kurt Tucholsky) – que J Wilgoose, Esq., motor criativo dos Public Service Broadcasting, se mudou para Berlim durante nove meses. (daqui; segue para aqui)
 
"Der Rhythmus der Maschinen" [ft. Blixa Bargeld]

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