30 April 2023
RYUICHI SAKAMOTO (1952-2023)
(sequência daqui)
Por essa altura, estava convalescente do cancro oro-faríngeo que lhe fora diagnosticado três anos antes e acabara de publicar async o álbum no qual desejou “incorporar os sons ‘naturais’ na música de um modo simultaneamente caótico e unificado”, extensão do que, há mais de 30 anos, declarara: “Não digo que devamos regressar à natureza mas interessa-me a erosão da tecnologia, os seus erros, falhas e ruídos”. Entre um e outro momentos, publicara duas dezenas de álbuns a solo, 11 ao vivo, cerca de meia centena de bandas sonoras para cinema e televisão, e incontáveis colaborações com músicos como Fennesz, Alva Noto, Bill Laswell, Rodrigo Leão, Arto Lindsay, Massive Attack, Caetano Veloso, Hector Zazou, Iggy Pop, David Sylvian, Virginia Astley, Japan, Aztec Camera, Marisa Monte e DJ Spooky. Conquistaria um Oscar, um Golden Globe e um Grammy para a BSO de O Último Imperador (1987), de Bernardo Bertolucci, e seria nomeado para (ou ganharia) outros 12 prémios internacionais. O tema musical de Merry Christmas Mr Lawrence, de Nagisa Ōshima (1983) – regravado como "Forbidden Colours", com a voz de David Sylvian –, não apenas venceria o BAFTA (British Academy of Film and Television Arts) para Melhor Música para Cinema como – justa ou injustamente – se transformaria numa espécie de documento de identidade de Sakamoto.
Em Janeiro de 2021, anunciaria que a maldição oncológica progredira para uma recidiva de grau 4 (o mais avançado). exigindo cirurgia e hospitalização. Dois meses depois, “voltaria, ocasionalmente, a tocar no teclado e a gravar pequenos esboços sonoros, como quem escreve um diário. Apenas desejava banhar-me num chuveiro sonoro. Parecia-me que poderia ter um pequeno efeito curativo no meu corpo e espírito arruinados”. O álbum que daí resultaria chamou-se 12. “Até que o meu corpo ceda de vez, irei, provavelmente, manter esta espécie de diário. Espero poder fazer música durante algum tempo mais”. Fê-la até ao passado dia 28 de Março.
28 April 2023
27 April 2023
25 April 2023
24 April 2023
AS COISAS QUE NOS IRRITAM
The Mary Wallopers não têm exactamente bom aspecto. Dir-se-ia mesmo que, ao lado dos Pogues – que, aliás, via Twitter, já publicamente os abençoaram –, estes passariam facilmente por engomadinhos membros da câmara dos lordes. Os cortes de cabelo, bigodes, barbas e suiças dão que pensar, o ar genericamente pouco amigo da água sobressai, o pontual excesso de volumetria física não passa despercebido e, por algum motivo foram já descritos como “The Clancy Brothers meet John Lydon”. Mas, quando abrem a boca, mesmo antes de começarem a cantar, só lhes saem frases lindas. Por exemplo, “O estrago causado pela igreja católica na Irlanda foi muito maior que o do império britânico. Está, por isso, na altura de nos livrarmos dela”. E, desenvolvendo o tema, “As nossas canções não são apelos ao fuzilamento dos padres embora os desprezemos. São sobre a igreja, sobre o céu e o inferno. Às vezes perguntam-nos: mas a igreja católica ainda é assim tão nociva? E nós respondemos que deve ser responsabilizada por todo o mal que fez até hoje. Não sei como é possível ser padre e conseguir caminhar pela rua de cabeção...” (daqu; segue para aqui)
22 April 2023
21 April 2023
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16 April 2023
(clicar na imagem para ampliar)
"At Last I Am Free" (álbum integral aqui)
15 April 2023
14 April 2023
"God Give Me Strength" & "I Still Have That Other Girl"
(sequência daqui) E contaria também que Burt tinha sido de opinião que “não valia a pena escrever 36 canções para, no final, escolher 12. Era melhor concentrarmo-nos apenas nessas 12, trabalhá-las muito bem e gravá-las”. O "box-set" The Songs of Bacharach and Costello agora publicado reafirma a sobreexcelência do álbum mas faz-nos igualmente saber que, para além dessas 12, outras – nada menores – foram compostas para um musical (Taken From Life) nunca concretizado e que aqui escutamos nas vozes de Cassandra Wilson, Jenni Muldaur e Audra Mae, juntamente com interpretações ao vivo e versões de Costello para outras canções do mestre. No passado dia 8 de Fevereiro, Burt Bacharach morreu com 94 anos. Mas, como ele e Costello demonstraram, para eles, o céu não é o limite.
13 April 2023
11 April 2023
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09 April 2023
06 April 2023
04 April 2023
03 April 2023
AS LUZES DO NORTE
Tentando não transformar 2000 caracteres numa aula de história da teoria musical mas não desistindo também de oferecer o contexto que permite saborear mais profundamente o que se escuta, diga-se, então, que devemos a Guido d’Arezzo – monge beneditino italiano do século XI – não apenas a invenção da escrita musical em pauta como a designação das notas (utilizada até hoje nos países de língua latina) a partir da primeira sílaba de cada frase de um hino a São João Baptista. Mas, para o que agora importa, igualmente a criação da palavra “gamut” para referir a extensão completa – a gama – dos sons numa determinada escala ou modo. Foi nela que os finlandeses Aino Peltomaa, Ilkka Heinonen e Juho Myllylä pensaram quando se tratou de achar um nome para o trio, “um colectivo de especialistas de folk e música antiga, incessantemente em busca de novas formas de as apresentar”. (daqui; segue para aqui)