31 August 2025

 Sérgio Godinho

31 de Agosto de 1945

Pois, é mais ou menos isto

"War" 

(sequência daqui) Se o primeiro a transformou em campeâ das línguas minoritárias, com direito a gigante street-art de homenagem em Cardiff, este que agora se inicia decorre de se ter apercebido de que "a forma como consegui escrever em inglês deve-se a reconhecer que não consigo traduzir muitas memórias. Achei muito importante explorar esta ideia. Se tivesse ficado em Gales e não tivesse vivido noutros lugares nem experienciado outras culturas, seria muito diferente, faria discos em galês. Mas saí de casa aos 16 anos. Sinto que, enquanto compositora, estou compelida a continuar a revirar tudo. Tudo é um registo diário para mim. E, ao escrever sobre tudo isto, desocultei o meu próprio caos”. Como observa no site da Heavenly Records, "Utopia evoca um momento de autodescoberta e exploração". O disco transita de temas dançantes a delicadas baladas ao piano, com a colaboração de Cate Le Bon, faz referência a William Blake, e a um poema de Edrica Huws e (não perguntem porquê...) ao autocarro n.º 73”.

28 August 2025

... e, depois, há pessoas que fazem dói-dóis, dizem palavras feias e se zangam muito umas com as outras

27 August 2025

 TRADUZIR A MEMÓRIA
 
 
Não era, de todo, previsível que Gwenno Saunders - filha do poeta da Cornualha, Timothy Saunders, e de mãe galesa com cadastro policial por activismo político nacionalista -, se convertesse em adolescente primeira bailarina de "Lord Of The Dance", durante 2 anos, em Las Vegas, onde viveria num complexo de apartamentos "com piscina e ginásio mas pouco mais que fazer do que beber, tomar drogas e lidar com distúrbios alimentares". E, continua ela, "todos os sábados, íamos a um clube techno chamado Utopia e ficávamos completamente pedrados até segunda-feira quando tínhamos de voltar a trabalhar". Recorda-o porque o nome do clube iria inspirar o título do novo álbum e, ajudaria a assinalar os dois períodos da carreira de Gwenno: o primeiro, com Y Dydd Olaf (2014), Le Kov (2018) e Tresor (2022), todos cantados em galês e cornish; e o segundo, iniciado com este Utopia, predominantemente em inglês. (daqui; segue para aqui)
 
"Utopia"

25 August 2025

 
(sequência daqui) "Nos Estados Unidos, estão a perseguir as pessoas por usarem o seu direito à liberdade de expressão e por manifestarem a sua discordância. Isto está a acontecer agora. No meu país, estão a revogar legislação histórica dos direitos civis que conduziu a uma sociedade mais justa e plural, estão a abandonar os nossos grandes aliados e a apoiar ditadores contra aqueles que estão a lutar pela sua liberdade. Removem residentes das ruas americanas e, sem processo legal, deportam-nos para centros de detenção e prisões no estrangeiro. Isto está a acontecer agora". E, antes de "My City Of Ruins": "A maioria dos nossos representantes eleitos falhou ao não proteger o povo americano dos abusos de um presidente inapto e de um governo desonesto. Não têm qualquer preocupação ou ideia do que significa ser profundamente americano. A América de que vos tenho falado durante 50 anos é real e, independentemente das suas falhas, é uma grande nação com um grande povo. Por isso, superaremos este momento". E, como que encerrando o assunto antes de se iniciar a limpeza das armas, "Agora, tenho esperança porque acredito na verdade das palavras do grande escritor norte-americano James Baldwin. Ele disse que, neste mundo, não há tanta humanidade quanto se gostaria. Mas há a que chegue".

23 August 2025

22 August 2025

E a interminável saga newtoniana prossegue, sempre demolidora
 
(sequência daqui) Antes, em entrevista à "Rolling Stone", havia já considerado a questão de pisar o terreno da dita "canção de protesto": "Bem, acho que me sentirei inspirado para ir por aí. Se o farei ou não, não sei, não sei. Mas é evidente que estamos a viver uma tragédia americana embora acredite que sairemos ilesos. A nossa nação não é como outras que têm um passado autoritário. Temos uma história democrática e acredito que isso voltará a acontecer. Não é uma tradição que vá desaparecer de um momento para o outro, independentemente de quem tente subvertê-la". Com a elegantíssima eloquência pela qual o resto do mundo aprendeu a identificá-lo, instantaneamente, o gorila côr de laranja, rosnou: "Nunca gostei dele. Nunca gostei da música dele. Ou da política de esquerda radical dele". Antecipando o previsível borborigmo, Bruce insistiu: "Quando os controlos de legalidade do governo falham, são os cidadãos, cada um de nós, que assumem o poder. É na união das pessoas em torno de valores comuns que reside a diferença. Agora, isso é tudo o que se interpõe entre a democracia e o autoritarismo" (segue para aqui)

19 August 2025


"Land Of Hope And Dreams"

(sequência daqui) O que torna Tracks II mais do que um curiosidade para os fãs é o modo como evidencia a dedicação de Springsteen em perseguir o álbum perfeito, mesmo que isso signifique sacrificar álbuns inteiros pelo caminho. Para um artista muitas vezes romantizado como uma rock star da classe operária, Springsteen sempre foi muito deliberado. Ele é um editor obsessivo, um artista disposto a deitar fora um álbum brilhante para fazer um melhor — ou, por vezes, para proteger a mitologia do álbum que acabou por lançar. A propósito do método, autoclassifica-se como "um mineiro da alma": "Estou no fundo da mina, a desbastar a rocha. E, muitas vezes, não encontro nada, nada, nada... Até que descubro um veio. E quando isso acontece, tudo jorra cá para fora. Exploramo-lo até já nada ter para oferecer. E tudo recomeça... Mas ninguém consegue explicar aquele momento em que insuflamos o sopro da vida nas personagens de uma canção". O que nunca o impedirá de, em momentos como os actuais, colocado perante a imbecilidade obscena do poder político, explodir como aconteceu na noite de 14 de Maio deste ano, em Manchester, quando, antes de "Land Of Hope & Dreams" lançou: "Na minha casa, a América que amo, a América sobre a qual escrevi e que há 250 anos tem sido um farol de esperança e liberdade, está atualmente nas mãos de uma administração corrupta, incompetente e traidora. Esta noite, convocamos todos os que acreditam na democracia e no melhor da nossa experiência americana a juntarem-se a nós. Ergamos as nossas vozes contra o autoritarismo e deixemos a liberdade ecoar". (segue para "https://lishbuna.blogspot.com/2025/08/the-klansman-sequencia-daqui-antes-em.html">aqui)

16 August 2025

 
(sequência daqui) Se "Electric Nebraska" seria um futuro alternativo, os temas das demos de The Rising são os menos surpreendentes, mas ainda assim emocionalmente poderosos. "Faithless", entretanto, é uma banda sonora para um filme que nunca chegaria a ser realizado, descrito como um "western espiritual", escrita e gravada num período de duas semanas na Flórida. Springsteen volta a concentrar-se no mundo exterior, mas em vez da poesia proletária de Darkness..., é a sonoridade do colapso do sonho americano que se desprende da maioria das peças em Track II, razão - que, de algum modo, se entende - para nunca terem sido editadas até agora: é demasiado sombrio, demasiado inquieto. “Twilight Hours”, irmão gémeo de Western Stars, pelo seu lado, mostra Bruce Springsteen ensaiando um estilo de escrita mais tranquilo e orquestral — próximo do romantismo de Burt Bacharach e da grandiosidade cinematográfica de Jimmy Webb. (segue para aqui)

13 August 2025


 
(sequência daquiA ideia de um "álbum perdido" de Springsteen não é nova. Os fãs têm trocado bootlegs há décadas, desde "The Ties That Bind" (uma versão alternativa do que viria a ser The River) até às sessões "Electric", de Nebraska, aos excertos de Darkness on the Edge of Town e às inúmeras versões alternativas dos anos de Born in the U.S.A. No entanto, Tracks II é diferente porque compila todas estas faixas perdidas numa linha narrativa que quase se torna tão essencial como as suas edições oficiais. É uma homenagem às opções que não foram seguidas e uma exploração de profundidade das escolhas de Springsteen. Para muitos, porém, a joia da coroa seria "Electric Nebraska: há muito um mito entre os fãs, este álbum ao vivo com a participação da banda inteira, haveria de mostrar o que poderia ter sido se Springsteen tivesse autorizado a E Street Band a iluminar a escuridão do álbum. Embora inicialmente negada, Bruce acabaria por confirmar a sua existência, ainda que não chegasse a ser ser incluído em Tracks II. (segue para aqui)

12 August 2025

08 August 2025

Às tantas, apetece mesmo que a AI rebente com esta merda toda e o processo se reinicie do zero

ESTRADAS INVISÍVEIS 

Quando, em 1998, Bruce Springsteen lançou Tracks, foi como a abertura de uma porta secreta de uma casa familiar — os quartos, de repente, pareceram maiores, mais escuros, e carregados de uma nova energia. Décadas mais tarde, Tracks II: The Lost Albums vai mais longe, oferecendo não só uma compilação de outtakes e demos, mas também a restauração completa de álbuns que Springsteen gravou e depois rejeitou ou reutilizou para outros projetos, como um vislumbre de uma realidade paralela. A influência Springsteen na música e no imaginário americanos é praticamente impossível de se exagerar. Ao longo de cinco décadas, tem sido o praticante supremo da intersecção do rock, folk, soul e de uma certa poesia vibrantemente proletária. Com Tracks II: The Lost Albums, Springsteen volta a convidar-nos a entrar na sua cave, revelando fitas carregadas de pó e e excertos de estúdio que, por um motivo ou outro, nunca foram incluídos nos seu canone. No total, 83 canções das quais, 74 inéditos, organizadas em 7 álbuns: “LA Garage Sessions ’83”, “Streets of Philadelphia Sessions”, “Faithless”, “Somewhere North of Nashville”, “Inyo”, “Twilight Hours” e “Perfect World”. Não apenas versões alternativas ou curiosidades: são peças completas, coerentes, que põem bem em evidência a fluidez e agilidade com que Springsteen se move por entre diversas identidades. (daqui; segue para aqui)

Inside Tracks II: The Lost Albums

03 August 2025

Será possível reunir outra colecção de inanidades mais imbecis do que estas? *

"Acho difícil de conceber que depois dos 2 anos uma criança tenha que ser alimentada ao peito durante o horário de trabalho. Isso quer dizer que se calhar não come mais nada, o que é estranho. Nada impede que uma criança com dois anos, ou três, ou quatro, ou o que seja, seja amamentada de manhã e à noite”

* A mana Guidinha está autorizada a conocorrer 

 
(sequência daqui) Por último, e presenteando-nos com a súmula perfeita realizada por quem domina a matéria por fora e por dentro, o 4º pilar é sustentado por Bob Dylan: "Bob. Há um esforço, uma tensão nas suas canções. Quando começa uma canção de 7 ou 8 minutos, por exemplo, 'Visions Of Joanna' ou 'Tangled Up In Blue', musicalmente bastante simples... não surge nenhuma instrumentação nova, deixamo-nos ir atrás, é apenas aquele núcleo de melodia e som em fusão, sobre o qual ele conta uma história. Pensava que isso estivesse para além das minhas capacidades. Neste álbum, há uma canção de 8 minutos, 'Breakfast On The Train', 2 minutos acima da canção mais longa que já escrevi..." Eu não o teria dito melhor, Robert. Chamaria apenas a atenção para que, se há aqui uma canção dylaniana, ela só pode ser 'Tell It Back To Me', aliança perfeita entre jingle-jangle byrdsiano de guitarras e ostinato de harmónica a oferecer espessura ao pós-refrão.