30 November 2023
Paulo Rangel, aliás, Tweedledee (PSD)
29 November 2023
(sequência daqui) Seguiu-se uma espécie de "projecto Frankenstein". Se a uma melodia lennonicamente preguiçosa se colar uma letra da estirpe "Love Me Do" (“I know it’s true, it’s all because of you, and if I make it through, it’s all because of you”), um arranjo de vozes e cordas a puxar pelas memórias de "Here, There and Everywhere", "Eleanor Rigby" e "Because", um solo de guitarra fantasma de Paul após aspirar o espírito de Harrison e, no inevitável vídeo acompanhante, se cozinhar uma salada russa psicadélica onde o tempo avança e recua e vivos e defuntos se cruzam numa espécie de sessão espírita esgrouviada, resultará, decerto, uma caricatura apatetada do quarteto de Liverpool mas nunca coisa verdadeiramente memorável. Aquando da reedição remasterizada de Sgt. Pepper’s, em 2017 - por mais que Geoff Emerick, engenheiro de som dos Beatles, desde Revolver (1966) até Abbey Road (1969), assegurasse que as conversões de “mono” para “stereo” eram quase uma falsificação: “O ‘mono’ era a verdade. Era dessa forma que eles pretendiam que o álbum fosse escutado, em ‘mono’" -, Giles Martin (filho do 5º Beatle, George) defendia que as versões originais “soam velhas” e era indispensável que “os nossos filhos e netos possuissem uma versão do álbum que funcione bem neste novo milénio”. Quase uma década antes, em Setembro de 2009, quando a totalidade da discografia dos Beatles, digitalmente remasterizada segundo os mais avançados padrões tecnológicos foi apresentada publicamente no Santíssimo Templo de Abbey Road, Allan Rouse, mago sonoro da EMI, colocado perante a questão de saber se novos desenvolvimentos tecnológicos poderão vir a justificar novas remasterizações, não hesitava: "Claro que sim!" E, com o mesmo desembaraço e candura, à pergunta "A tecnologia evolui mas o ouvido humano permanece igual: seremos nós capazes de detectar tais subtilezas sonoras?", a resposta fora igualmente imediata: “Claro que não!" (segue para aqui)
28 November 2023
27 November 2023
26 November 2023
24 November 2023
PROJECTO FRANKENSTEIN
A Prof. Dra. Holly Tessler, da Universidade de Liverpool (senior lecturer, responsável pela criação de uma pós-graduação sobre os Beatles e fundadora do "Journal of Beatles Studies" publicado pela Liverpool University Press), não tem dúvidas: "A publicação de 'Now And Then' é um grande momento. É estranho pensar que uma banda que se separou há mais de 50 anos nos venha dizer agora que esta é a sua última canção. De certo modo, Paul e Ringo, ambos na casa dos 80, traçaram uma linha. Suponho que este seja um momento muito emocionante para todos os fãs dos Beatles: assinala um fim significativo. Qualquer pessoa com menos de 53 anos viveu sempre num mundo no qual os Beatles não existem. A separação do grupo, em 1970, não foi particularmente amistosa. O que isto lhes oferece é uma oportunidade de suavizar a separação e torná-la mais comovente. Um fim natural mais do que uma história de quatro jovens zangados declarando que nunca mais quererão trabalhar juntos. Uma amizade duradoura que se estendeu ao longo de uma vida. Não podemos apagar a história mas possibilita-nos uma compreensão diferente dos Beatles que, de algum modo, continuaram a trabalhar juntos dos anos 60 até hoje". (daqui; segue para aqui)
23 November 2023
22 November 2023
(sequência daqui) Desde o princípio, os Dexys foram sempre um grupo completamente à parte de tudo o que ia ocorrendo na cena musical britânica. Hoje, ainda continua a ser assim?
(pausa) Acho que sim. Não conheço nenhuma outra banda que escreva acerca das coisas que, agora, escrevo nem que publique um álbum conceptual com uma narrativa que lhe ofereça unidade. Talvez apenas os Primal Scream. Bobby Gillespie. Ele, ao menos, esforça-se por criar alguma coisa diferente.
Uma outra característica dos Dexys, até hoje, foi sempre o grande movimento de entradas e saídas dos elementos que compunham a banda. Poderemos dizer que, fossem eles quem fossem e viessem de onde viessem, em última análise, os Dexys seriam sempre o Kevin e mais meia dúzia de músicos à volta?
É verdade. Mas não sei porquê. E, hoje, já nem sequer temos aquela atitude quase militar que tínhamos no início. Na verdade, as coisas não seriam bem desse modo. As pessoas chegavam, desempenhavam o seu papel, davam o seu contributo e saíam. Pelo que me toca, só posso dizer que tenho uma capacidade de concentração muito limitada e preciso sempre de ter gente nova â volta. Aliás, pensando bem, os Dexys nunca foram realmente uma banda. Não sei dizer o que eram mas não eram uma banda.
21 November 2023
20 November 2023
18 November 2023
17 November 2023
(sequência daqui) Na série de televisão Peaky Blinders, a personagem colectiva é um grupo de jovens fora-da-lei de Birmingham regressados a Inglaterra depois da I Guerra Mundial. Se acrescentarmos a isso o facto de se distinguirem também por um "dress code" muito próprio, não pude deixar de pensar na encarnação inicial dos Dexys (que eram, igualmente, de Birmingham)...
Percebo o que quer dizer. Mas quando, no início, nos decidimos a usar aquelas roupas foi puramente um gesto teatral. Apenas isso.
As suas raízes irlandesas, aqui e ali, ainda se fazem notar?
Não me parece. Elas farão sempre parte de mim mas, neste álbum não julgo que transpareçam muito. E uma grande parte dessas "raizes irlandesas" tinha bastante a ver com um certo complexo de culpa que me tenho esforçado por eliminar. Embora, para mim, a Irlanda seja, definitivamente, o sítio que em que me sinto em casa: aquele foi o local no qual os meus pais caminharam, piso as mesmas ruas que eles pisaram. (segue para aqui)
15 November 2023
12 November 2023
11 November 2023
(sequência daqui) Mas não tem nenhuma noção acerca disso?
Tudo o que faço é intuitivo. O que fiz nos anos 80 era intuitivo. Agora, continua a ser. Não analiso muito aquilo que faço. Se me ocorre uma ideia, agarro-a e trabalho sobre ela. E não penso demasiado nisso.
Mas, por exemplo, enquanto trabalhava para este álbum, nunca se apercebeu de nenhuma relação com a sua música anterior ou com a de outros músicos?
Imagino que possa reflectir algumas influências de Marvin Gaye ou de Barry White... mas nunca é intencional. São coisas que podem aparecer à superfície. E não vejo nenhuma relação entre o nosso passado e agora. A verdade é que isso me desinteressa por completo. Não me dá prazer nenhum olhar para trás. Na segunda parte do concerto interpretamos algumas das canções antigas mas reinterpretamos-las de acordo com a forma como agora as encaramos. Aliás, comparar os primeiros álbuns dos Dexys com este último é como tentar comparar Taxi Driver com The Irishman (ambos filmes de Martin Scorsese, de 1976 e 2019). É impossível compará-los. São completamente diferentes. A minha forma de ver as coisas mudou tremendamente desde o primeiro álbum. Nem sequer me recordo de quem era o tipo que escreveu aquelas canções. Nem sequer era real. Nem se conhecia a si próprio. (segue para aqui)
10 November 2023
09 November 2023
08 November 2023
07 November 2023
06 November 2023
(sequência daqui) Pode dizer-se que a concepção, gravação e, agora, a apresentação de The Feminine Divine constituiu um processo de terapia?
Acho que sim, é verdade. Mas, ao mesmo tempo, quando pomos alma e coração numa coisa em que estamos muito empenhados e a lançamos para o mundo, não podemos deixar de nos sentir muito vulneráveis.
A mudança do nome da banda - de Dexys Midnight Runners para apenas Dexys - significa um desejo de corte com o passado?
Não! Essa modificação do nome deixa claro que continuamos a ser nós. Em Inglaterra, toda a gente sempre se referiu a nós como Dexys. Não é nada de novo. O que sublinha é o facto de não pretendermos ser uma "revival band". Não temos a pretensão de sernos como em 80, 82 ou 85, é impossível. Não podemos recriar ou voltar a viver no passado. Não nos envergonhamos do nosso passado mas, hoje, é preciso fazer coisas diferentes. Pense no Bob Dylan: não pretendo comparar-me com ele mas ele, hoje, não pode voltar a escrever "Blowin' In The Wind" ou "Sad Eyed Lady Of The Lowlands". Precisa de fazer algo que seja diferente e relevante.
Não fez ele outra coisa ao longo de toda a carreira!... Mas o que, desde o início até agora, diria que permanece constante na música dos Dexys?
Não sei. E não me parece que isso seja coisa para eu fazer. Esse é o seu trabalho. (segue para aqui)
05 November 2023
03 November 2023
(sequência daqui) Há 6 ou 7 anos sentia-se e dizia-se criativamente esgotado. O que, aparentemente, o trouxe de volta após a morte da sua mãe, foi a descoberta do Tai chi e uma viagem à Tailândia que, seria, na verdade, mais uma jornada de exploração mental...
Sentia-me completamente vazio, tinha perdido todo o entusiasmo pela vida, Tive de olhar em volta em busca de algo que me fizesse sentir melhor e uma dessas coisas foi o Tai-chi. Viajei também até à Tailândia onde tive contacto com os ensinamentos do taoísmo, a antiga filosofia chinesa. Quanto mais aprendia sobre o meu corpo mais o modo como pensava se transformava e via as coisas de forma diferente. Foi nesse momento que comecei a encarar as mulheres de modo diferente, a encará-las e valorizá-las de outro modo. A reconhecer aa sua essência divina e a venerá-las. Um dia, sentei-me a reflectir sobre esse conceito do Divino Feminino e essa canção emergiu. Tinha aprendido a lição. E foi a partir daí que todas as outras canções surgiram e o álbum se foi formando. Juntamente com outras canções antigas representativas do velho eu que fui repescar.
Essa veneração do feminino sagrado existe desde os cristãos gnósticos, os cátaros medievais, no judaísmo, no hinduismo. Tinha noção disso?
Desconhecia tudo isso. E não foi exactamente um estudo do taoísmo ou de outras correntes orientais. Foi um pouco o lado mágico de tudo isso. Foi mais o resultado de um trabalho sobre o meu corpo do que um processo mental, intelectual. (segue para aqui)