31 May 2009

MÚSICA, CINEMA & VARIEDADES PARA O DIA DE HOJE









... com dedicatória especial.

(2009)
QUADRAGÉSIMO NONO COMUNICADO DO C.A.L.A.
(Comité de Apoio a Laurinda Alves)


Falta exactamente uma semana para o Grande Dia em que a Nova Era amanhecerá em Portugal e, logo de seguida, abraçará ternamente a Europa! Tomadas de empréstimo à orbe celeste onde o Aquário começa já a desenhar-se, a candidata Laurinda distribui as estrelas que transporta no regaço - uma por cada signo do Zodíaco - e, como último impulso para o que haverá de culminar na sua Ascenção, recebe o apoio por que todos os candidatos mais ansiariam: o de Roberto Carneiro! Mais uma vez, "les beaux esprits se rencontrent"! Se, muito em breve, o mundo inteiro ficará a conhecer a Boa Nova da candidata Laurinda, desde há 22 anos que a Pátria multiplica vénias perante a fulgurante transformação que Roberto Carneiro imprimiu à Educação e que permanece, hoje, indiscutivelmente, à vista de todos! Apenas o melhor (que é possível) será de esperar quando as Vibrações Cósmicas do Bem dão a mão à inspiração cristã de quem, como poucos, nos soube mostrar, pelo próprio exemplo, que "every sperm is sacred"!



nota: o C.A.L.A. repudia veementemente todas as tomadas de posição e atitudes abstencionistas e apela entusiasticamente ao voto na candidata Laurinda!

(2009)
NÃO É BEM O MESMO QUE SER CONSELHEIRO DE ESTADO
MAS TEM POTENCIAL PARA DAR LUTA AO TONY CARREIRA
(ou "pai, sou cantor pimba!")



Carvalho & Loureiro, o duo florestal

(2009)

30 May 2009

NÃO, NÃO TENHO VERGONHA, NÃO TENHO PUDOR,
E VOSSA EXCELÊNCIA É AQUILO QUE, COM GRANDE RIGOR TÉCNICO, SE QUALIFICA COMO UM FACHO MAL EDUCADO!




Apesar da legislação portuguesa não contemplar a utilização de imagens chocantes nos maços de cigarros, a Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo (COPPT) ainda não desistiu desta possibilidade. Luís Rebelo, que preside a esta organização que reúne várias associações ligadas à saúde, educação e ambiente, que têm em comum o interesse pela prevenção do tabagismo em Portugal, disse à Agência Lusa que “está na altura de aproveitar as técnicas utilizadas pelas tabaqueiras, que passam por seduzir os potenciais consumidores”.



“A construção das caixas dos cigarros recorre a um elevado nível de marketing, em que nada é indiferente, nem sequer a cor”, disse. O resultado é, segundo Luís Rebelo, embalagens “glamourosas”. “O que as organizações mundiais de saúde estão a tentar fazer é usar as mesmas ferramentas para, no fundo, impedir que o fumador se sinta atraído pelos mais variados tipos de caixas”, frisou o presidente da COPPT.



Luís Rebelo afirmou que, apesar de existirem cada vez mais portugueses “que sentem algum pudor em tirar de um maço de cigarros e começar a fumar em público, ainda existem muitos que “não têm vergonha de fumar”. Com imagens chocantes dos malefícios do tabaco ilustradas nos maços de cigarros, os fumadores terão “mais vergonha em mostrar publicamente o seu vício”, presume Luís Rebelo.



Dos países onde esta utilização tem tido “mais sucesso” - como o Brasil ou o Canadá - chegam imagens efectivamente chocantes. Os maços de cigarros comercializados no Brasil incluem advertências sanitárias que incluem fetos mortos, pulmões destruídos, membros com gangrena e referências à impotência e ao sofrimento das crianças intoxicadas pelo fumo dos pais. “Estas imagens acabam por 'desglamourizar' o consumo do tabaco, contribuindo para um ambiente social que não é favorável ao consumo de tabaco, disse. (aqui)

(2009)
ATÉ VER, ABSTENHO-ME



Além do direito de votar, uma das mais elevadas possibilidades que esta democracia prevê é a de não votar - ao contrário do que diz a catequese moralista. Nem todos os sistemas podem gabar-se do mesmo. O empenho, o interesse e a cultura da cidadania mede-se pela forma como se declaram os rendimentos, pagam os impostos devidos, se respeita o espaço físico e mental comum e de cada um. O voto pode, apenas e só, servir de ritual de purificação para algumas consciências empedernidas.

Apesar de nunca constituir rastilho de mudança, a abstenção tem um impacto mediático incomparavelmente maior que o mais empenhado voto em branco. É pena. Arrumam-se os votos em branco na gaveta das bizarrices quando, na realidade, podiam ser uma das mais significativas manifestações de nojo pelo insulto com que a maioria da classe política brinda, todos os dias, todos os cidadãos. Na verdade, em tempos ainda achei que isso se devia a uma maquiavélica estratégia de imbecilização geral. Já mudei ligeiramente de perspectiva. Afinal acho que está tudo em ordem. Não damos para mais, nós e eles. (aqui)

Assino. E retiro o "até ver".

(2009)

29 May 2009

CIVILIZAÇÃO (J. P. Coutinho)

Viajo de comboio todas as semanas. Porto-Lisboa. Lisboa-Porto. São três horas de pura delícia que obedecem a ritual estabelecido. Entro em Campanhã, instalo-me no lugar. Descalço-me. As meninas da CP, que obviamente já me conhecem, não ousam servir-me um «sumo», ou um «guaraná». Passam directamente - e discretamente - para bebidas mais proteicas. Entre Campanhã e Aveiro, ponho as notícias em dia. Três jornais diários - dois portugueses, um inglês. Em quarenta e cinco minutos, eu e o mundo tratamo-nos por tu. Em Aveiro tudo muda: recosto-me na cadeira, desaperto levemente o nó da gravata e sei que, até Coimbra, não há incómodos. O telemóvel permanece confortavelmente desligado. Acordo em Coimbra. Foram quarenta minutos de ronco suave - ou, como dizem os americanos, «the beauty sleep». Faço dois ou três telefonemas (profissionais), mais dois (sentimentais) e mais um (puramente clínico). Entre Coimbra e, digamos, Santarém, vou tomando notas para artigos diversos. Uma frase. Uma ideia. Um assomo de delírio. E de Santarém a Lisboa, é o grand final: trinta ou quarenta páginas de uma biografia, de um romance, de um ensaio. Quando chego a Lisboa, com a Cavalleria Rusticana a soar triunfalmente no portátil, sinto que rejuvenesci vários anos e, mais, que aquelas três horas foram as três horas mais felizes da minha miserável semana. Sem falar da nobre arte do engate, que ganha no comboio uma dimensão de cinefilia. O bar. A inesperada companhia de viagem. Os corredores, onde se cai sempre para o lado errado. E, claro, as minúsculas e tremidas casas de banho, cujos lavatórios foram anatomicamente concebidos por Cupido lui-même. Pois bem. Este mundo vai acabar. De acordo com o optimismo do tempo, Porto e Lisboa estarão a duas horas de distância. Talvez menos. É o TGV. É a adoração orgásmica da velocidade e a ânsia doentia de chegar. A ejaculação precoce do executivo moderno, sempre pronto a trocar o avião pelo comboio - desde que o comboio, claro, seja rápido e asséptico. Esta gente vai invadir o meu paraíso. Bárbaros igualmente produzidos e vestidos, a beber «Ice Tea» (não vomitem), o cabelo empastado com resina - e uma obsessão patológica por «mercados», «montes alentejanos» e «as tetas» de uma galdéria qualquer. O TGV não me rouba apenas uma hora de prazer inofensivo. O TGV acabará por liquidar um dos últimos vestígios de genuína civilização. (aqui) (2009)
CAMERA OBSCURA (II)






(2009)

28 May 2009

SÓ GAJAS BOAS, SÓ GAJAS BOAS, TAMBÉM NÃO...


Barbara Matera, candidata a candidata europeia

"A Igreja Católica entrou indirectamente na campanha eleitoral italiana, ao condenar a 'beleza como elemento decisivo de escolha de um candidato político', numa alusão à escolha de modelos e estrelas de televisão para as listas do Povo da Liberdade, o partido de Silvio Berlusconi. 'A beleza pode ter a sua importância mas não pode ser o único elemento decisivo de escolha de um candidato político', disse ontem o monsenhor Diego Coletti, responsável pela pastoral para a educação da Conferência Episcopal Italiana". (aqui... e não me perguntem porque só consegui encontrar na versão para cegos do "Público")

Monsenhor Coletti ter-se-à babado discretamente ou não ao fazer este depoimento mas que isso não nos leve a desvalorizá-lo. Traduzindo: ok, a política, em geral, e a italiana, em particular, podem chafurdar no esterco como toda a gente vê. Mas também é aborrecido se acabar por chegar a isto:



(2009)
CONTRA O EMPREENDEDORISMO E A PROACTIVIDADE *



O Direito à Preguiça

* não fui educado a utilizar esta linguagem; peço perdão.

(2009)
ST. VINCENT/ANNIE CLARK (IX)



I write to give word the war is over
Send my cinders home to mother
They gave me a medal for my valor
Leaden trumpets spit the soot of power, they say

"I'm on your side when nobody is, cause nobody is
Come sit right here and sleep while I slip poison in your ear"

We are waiting on a telegram to give us news of the fall
I am sorry to report dear Paris is burning after all
We have taken to the streets in open rejoice revolting
We are dancing a black waltz fair paris is burning after all



Oh no, oh no

Enclosed in this letter there's a picture
Black and white for your refridgerator
Sticks and stones have made me smarter
It's words that cut me under my armor, they say

"I'm on your side when nobody is, cause nobody is,
Come sit right here and sleep while I slip poison in your ear"



We are waiting on a telegram to give us news of the fall
I am sorry to report dear Paris is burning after all
We have taken to the streets in open rejoice revolting
We are dancing a black waltz fair paris is burning after all

Oh no, oh no

Dance poor people dance and drown
Dance fair Paris to the ground
Dance poor people dance and drown
Dance fair Paris ashes now

(2009)

27 May 2009

QUADRAGÉSIMO OITAVO COMUNICADO DO C.A.L.A.
(Comité de Apoio a Laurinda Alves)

Vieira & Morais

A pouco mais de uma semana do que ficará conhecido como "o dia da Ascensão de Laurinda a Bruxelas", a candidata dá-nos a conhecer o Morais e o Vieira ("Conheci este pai e este filho na feira da Senhora da Hora, em Matosinhos. Perguntei o nome e o pai respondeu-me com um sorriso: ele é o Morais e eu sou o Vieira! Achei curioso o Morais. O Vieira explicou que queria que o primeiro nome do filho fosse Gerson mas houve umas complicações de registo e ficou assim [Morais]"), a dona Alice que vende alhos, a dona Helena que vende cerejas, e oferece-nos o exemplo iluminador de uma vida de ascese, frugalidade e desprendimento dos bens materiais que deveria ser seguido por todos: "Quanto gastam(os) em alimentação e alojamento? Estabelecemos um subsídio de almoço de 5€ e negociámos menus de jantar de 10€. O custo de alojamento/noite é cerca de 40 €". Nem na Pensão Josefina. (aqui e aqui)

(2009)
VITAL SASSOON


"Os salões de cabeleireiros dos centros de emprego e de formação profissional já estão quase a tornar-se um programa obrigatório na campanha europeia do cabeça de lista do PS, Vital Moreira. Hoje na Guarda e terça-feira à tarde em Chaves, Vital Moreira travou animadas conversas com aprendizes de cabeleireiro, demonstrando um interesse invulgar sobre técnicas de corte. Em Chaves, o constitucionalista da Universidade de Coimbra fez mesmo um comentário muito abonatório para uma senhora cabeleireira: 'com umas mãozinhas como essas até arriscava cortar o cabelo à primeira', disse. Na Guarda, numa ocasião em que tinha ao seu lado o presidente da Câmara da cidade, Joaquim Valente, a conversa foi sobre ondas de cabelo molhado, mas aí não mostrou qualquer interesse em experimentar o estilo". (aqui)

(2009)
CAMERA OBSCURA (I)






(2009)

26 May 2009

AH... NESTA EU ALINHO!



1 - The Sopranos: best ever indiscutível; já não é só série, já não é bem televisão, é outra coisa. No último episódio, o tempo parou.




2 - Seinfeld: a esplendorosa geometria do absurdo.




3 - Monty Python's Flying Circus: a enciclopédia da câimbra abdominal.

(a ordem das restantes é aleatória)



Northern Exposure: um dia, hei-de ir ao Alaska.




Twin Peaks: dark night of the soul.




The X-Files: foi-se estragando devagarinho mas, enquanto foi bom, era alimento regular para o fã de teorias da conspiração que há em nós. E os tornozelos da Scully.




Black Adder: Black Adder, Black Adder, with many an cunning plan, Black Adder, Black Adder, you horrid little man!




All In The Family: Archie Bunker está vivo nos nossos corações.




Big Love: como diria Andrew Sullivan, "you've got to love those Mormons".




Boston Legal: em gradual processo de entrada para o cânone.

... mais Murphy Brown, Yes, Minister, Goodness Gracious Me, Mad About You, Faulty Towers... e um porradão de outras que, daqui a nada, me vou lembrar.

(e siga para o Rui, N, x + lebre, Victor e Paulo... se já passou por aí e não reparei, esqueçam)

(2009)
PARA LÁ DOS MONTES

Penedo Durão, Portugal, 2009















(2009)

25 May 2009

COM BI E MORADA



B Fachada - Um Fim-de-Semana no Pónei Dourado

Das onze canções, cinco têm título com nome de gente. Mas todas, de um modo ou de outro, acabam por ser micronarrativas em torno de figuras ou personagens com BI e morada – reais ou ficcionados – facilmente identificáveis. Uma delas, o “Zappa Português”, é ele próprio, Bernardo Fachada, com declaração de intenções e plano de acção irónica e minuciosamente detalhado: "Vou casar discretamente e ser um belo pai presente, ter pouca vida social e ser senhor de Portugal, vou candidatar-me à presidência, vou fazer concertos de Natal, vou insistir na persistência, eu vou ser o Zappa nacional". As outras - da "Conceição" ("com tanta fufa que há para aí, tu tinhas logo que ir com essa"), à "Soraia", prestadora de apoio afectivo em quartos de hotel, ou ao "Zé", gabiru do género-"pai, sou ministro!" - encadernadas em artesanato folqueiro com ocasional vibração eléctrica, abrem mais uma janela na cabana FlorCaveira de onde, lançando o olhar sobre "a selva", Fachada gargalha a lengalenga "já toquei na Zé dos Bois, Zé dos Bois, Zé dos Bois".

(2009)
NÃO PARAR DE DAR AOS BRAÇOS



Na contracapa de Um Fim de Semana no Pónei Dourado, do lado direito do logo da FlorCaveira, lê-se “Religião e panque-roque desde 1999”. E, à esquerda, “Advertência: este fonograma não contém ortodoxia cristã”. Teve de ser assim mesmo – com humor e ironia necessariamente incluídos – porque, na menos canónica editora Baptista do planeta, B Fachada, como ele próprio confessa, é “o pagão da FlorCaveira”. Foi também a “contratação” mais tardia do plantel. Desafiado por um amigo a assistir a um concerto de Tiago Guillul, hesitou, desconfiou mas “cheguei lá e confirmei, assim com os olhos esbugalhados. Aquilo custou-me muito a engolir. No entanto, não há volta a dar em relação aquele disco. É completamente consistente, pop é pop, não tem de ser sério nem tem de ser a brincar. Até porque me deparo também, às vezes, com esse problema das pessoas que não conseguem lidar com o tragicómico, de falar a brincar de coisas sérias ou o inverso”.



Tem, aliás, as referências e as coordenadas musicais muito bem arrumadas: “Eu divido a música em três: a erudita, a tradicional e a pop. A erudita e a tradicional são artes e a pop é artesanato. A erudita e a pop têm autores individuais e a tradicional tem um autor colectivo. Na tradicional, interessa-me muito o processo do inconsciente colectivo; na erudita, os métodos de construção, para jogar e brincar com eles; e, depois, da pop, que foi o que ouvi mais frequentemente (embora, hoje, escute mais música erudita), é que me vem a memória colectiva. Estou no meio deste triângulo a ser puxado para um lado e para o outro. Que era, mais ou menos, o que o Frank Zappa fazia. Claro que ele era uma figura quase genial (não gosto de dizer genial porque ele trabalhava quinze horas por dia, aquilo não lhe saía do cachimbo)...”. Do que decorrem, inevitavelmente, um método e um plano: “De pop, normalmente, oiço um disco de cada coisa: o Pet Sounds (e mais nada dos Beach Boys), o Sargeant Pepper’s (e mais nada dos Beatles), do Zappa e do Tom Waits, tudo, dos Magnetic Fields, basta-me o 69 Love Songs. Mas o que escuto mais avidamente é música erudita e jazz. Na maneira de trabalhar, o meu role model é o Zappa. Porque, a nível musical, não sei muito bem de onde vêm as melodias, as harmonias… sei que, às vezes, tento puxar para a Nina Simone que é a minha referência escondida, tenho quase vergonha de dizer que a tomo como referência, ela canta e toca tão bem... ‘isso querias tu!...’ Mas importantes são o Zappa e o Waits, no artesanato, no labor, na cena de ‘toco muito e, se der aos braços, venho à tona’. Não posso é parar de dar aos braços, sempre a escrever canções, a fazer dois discos por ano... já tenho as gravações e o lançamento do segundo disco marcados”.



Não seria obrigatório mas isso está tudo muito bem explicadinho num dos temas do álbum, “Zappa Português”, uma das várias personagens cujo nome próprio é título de canção. Como é o caso do “Zé” (“Chamo-me Zé, vim para aqui a pé e agora tenho um Cadilac”), criatura autárquico-arrivista que auxilia a desvendar a minúcia do método de B Fachada, estudante de literatura em modo-escritor de canções: “O nome da personagem é estudado, a maneira como fala, o primeiro e o último verso, a ordem das palavras, o centro da canção, todas essas coisas são pensadas. É uma personagem económica, tem de ser definida através de muito pouco, cada palavrinha tem de servir aquela ficção. É uma canção acerca de um animal que vence na vida e está contente com isso”.



Do triângulo pop-erudita-tradicional, é a última que, decididamente, lhe espevita o discurso: “A música do mundo, como as outras músicas, sempre fez parte da minha formação. Mas, a certa altura, tive o contacto com a literatura tradicional portuguesa e com o Romanceiro e foi isso que despertou em mim o interesse pela tradição enquanto processo, pela maneira como a tradição oral funciona enquanto biblioteca de um conhecimento comunitário, que é um tipo de conhecimento muito específico que não funciona através de regras, nem por raciocínio, ideia ou argumento. É uma coisa que flui muito directamente a um nível animal do humano, em que a componente social parece ser aí incluída”. Um pouco depois de ter andado a estudar a tradição, o realizador Tiago Pereira convidou-se para fazer um documentário sobre ele: “Achei que ele estava a gozar comigo. Insistiu e explicou que o queria fazer porque achava que eu ‘era a tradição oral contemporânea’, um conceito que ele tinha inventado. Aquilo bateu-me porque fiquei com a ideia de que ele estava, mais ou menos, a entender o que eu faço. Aliás, no fim do filme, ele explica que se dirigiu a mim porque ouvia as minhas canções e tinha a sensação de já as ter ouvido antes”.



Foram para Trás os Montes onde, próximo de figuras locais como Adélia Garcia (“que há trinta e tal anos tinha sido gravada pelo Giacometti”), cantou e ouviu cantar. “Ao contrário do que nós pensamos, ela tem uma noção perfeita do que é a tradição oral e do que é armazenar aí conhecimento. Ela cantava um romance com quinhentos anos, que ela sabia que tinha quinhentos anos, e, logo a seguir, cantava um fado da Amália que tinha ouvido na televisão, de que tinha gostado e que tinha decorado. Já tinha variado tudo – letra, melodia, tudo – mas cantava-o. O que é, evidentemente, o método tradicional. O Tiago diz que chegou ao fim do documentário com a sensação de que, se a Adélia vivesse em Lisboa, gravava discos para a FlorCaveira e era autora. E, se eu vivesse em Caçarelhos, não era autor e cantava o Romanceiro. Na cidade, tenho esta pressão ocidental, estúpida, para ser original e para criar e ela não: está no meio de uma comunidade e a pressão é apenas para expandir, receber e filtrar o conhecimento da comunidade. Ensinou-me também algumas canções como a ‘Dona Filomena’ que canto neste disco. A verdade é que dei um concerto no castelo de Algoso para as pessoas da aldeia, expliquei que ia cantar canções minhas que, em vez de histórias dali, eram histórias de Lisboa e, com as minhas heresias e as minhas canções eróticas, acharam aquilo perfeitamente normal. Era a história da experiência de uma personagem qualquer, num sítio qualquer”.

(2009)

24 May 2009

TINHA FICADO ESQUECIDO ESTE, LÁ ATRÁS



(2009)
POST DEDICADO AO TIM
E À CANDIDATA LAURINDA













(2009)
QUADRAGÉSIMO SÉTIMO COMUNICADO DO C.A.L.A.
(Comité de Apoio a Laurinda Alves)



Após os tocantes episódios das oferendas das luvas e da tangerina, desta vez foi o orgulhoso proletariado da restauração nortenha - Dimitri, Manuel, Ronaldo, André e Berto - a abrir alas para que lhe fosse concedida a benção de ver de perto e poder tocar na candidata Laurinda. Aleluia!

"Estes são alguns dos cozinheiros do Corte Inglés do Porto. Estavam sentados em linha enquanto eu distribuia revistas e perguntei-lhes se me podia sentar entre eles.Claro! Gosto desta familiaridade com que me recebem nas ruas e praças". (daqui)

(2009)

23 May 2009

AS LOUCAS VIDAS DO ROCK'N'ROLL



"Gosto muito de Botânica e coisas assim malucas" (Tim, Xutos & Pontapés, no "i" edição de fim de semana)

(2009)
NA RESTAURANT WEEK, O NONO POST
"PRATICAMENTE CONSECUTIVO" SOBRE
ST. VINCENT/ANNIE CLARK




(2009)

22 May 2009

ÊXODO 20:7



"Não invocarás o nome do Senhor teu Deus em vão"

(2009)
NA RESTAURANT WEEK,
UMA DICA GASTRONÓMICA
DE DAVID BYRNE




"While C and I were wandering around Barrio Alto in Lisboa a few days after the amazing meal in Modena, we stopped to eat at a nondescript lunch counter filled with locals on their lunch break. One outside window looked on to a flat grill, typical of any diner — though on this one, fish were grilling. By the cash register, under the counter where the donuts might be in a NY diner, there was an array of fresh merluza, dorada and some of the famous Portuguese sardines. The special of the day was octopus stew, so we ordered that along with a couple of draft beers, and a fish. (These came with simple salads.) Here’s the point: the fish, simply grilled and served with olive oil and lemon, was one of the best I’d tasted in a while. The stews weren’t bad either. The beer was cold and delicious. I’d rate the place, on the strength of the fish alone, as one of the best I’ve eaten at — but of course the S.Pellegrino judges won’t give it a glance". (post integral aqui)

(2009)
RICHARD DAWKINS COMENTA E ENRIQUECE
O PROGRAMA DA TONY BLAIR FOUNDATION
(que, diga-se de passagem,
bem podia apoiar a candidata Laurinda)



(Blair says) "We are focusing on five main projects initially, working with partners in the six main faiths"

(Dawkins answers) Yes I know, I know, it’s a pity we had to limit ourselves to six. But we do have boundless respect for other faiths, all of which, in their colourful variety, enrich human lives. In a very real sense, we have much to learn from Zoroastrianism and Jainism. And from Mormonism, though Cherie says we need to go easy on the polygamy and the sacred underpants!! Then again, we mustn’t forget the ancient and rich Olympian and Norse traditions – although our modern blue-skies thinking out of the box has pushed the envelope on shock-and-awe tactics, and put Zeus’s thunderbolts and Thor’s hammer in the shade!!! We hope, in Phase 2 of our Five-Year Plan, to embrace Scientology and Druidic Mistletoe Worship, which, in a very real sense, have something to teach us all. In Phase 3, our firm commitment to Diversity will lead us to source new networking partnership opportunities with the many hundreds of African tribal religions. Sacrificing goats may present problems with the RSPCA, but we hope to persuade them to adjust their priorities to take proper account of religious sensibilities. (...)

(Blair says) "Children of one faith and culture will have the chance to interact with children of another, getting a real sense of each other’s lived experience"

(Dawkins answers) Cool! And, thanks to Tony’s policy of putting as many children as possible in faith schools where they can’t befriend kids from other backgrounds, the need for this interaction and mutual understanding has never been so strong. You see how it all hangs together? Sheer genius! So strongly do we support the principle that children should be sent to schools which will identify them with their parents’ beliefs, that we think there is a real opportunity here to broaden it out. In Phase 2, we look to facilitate separate schools for Postmodernist children, Leavisite children and Saussurian Structuralist children. And in Phase 3 we shall roll out yet more separate schools, for Keynesian children, Monetarist children and even neo-Marxist children. (texto integral aqui)

(2009)
ST. VINCENT/ANNIE CLARK (VIII)

Virgin Megastore, Union Square, NY, 05.05.09















(2009)

21 May 2009

THE BROTHERHOOD OF THE UNKNOWN (X)
 
(segundo David Thomas: "The first Pere Ubu record was meant to be something that would gain us entry into the Brotherhood of the Unknown that was gathering in used record bins everywhere")



"In 1985, XTC were a band out of time. Nervous breakdowns and a disgust for prevailing trends had left them at odds with the public and their label. A good time, then, to become another group entirely - the superbly psychedelic Dukes of Stratosphear. (...) They went back to the 60s, 'had the most fun we ever had' and were reborn as shadowy impostors from the golden age of psych. (...)



(Andy Partridge says) 'Lack of success was the best thing that ever happened to us. You put out a record that no bastard buys - so you make the next one even better. Right then, what about this one? Lack of success, for us, was like having a set of Duracell-drumming-bunny-batteries in our backs'" ("Uncut", Junho de 2009)

(2009)
JOÃO BÉNARD DA COSTA
(7.02.35 - 21.05.09)



Johnny Guitar - real. Nicholas Ray, 1954

(2009)

20 May 2009

ST. VINCENT/ANNIE CLARK (VII)

"Marry Me (John)"



Marry me, John
Marry me, John I'll be so good to you
You won't realize I'm gone

Marry me, John
Marry me, John I'll be so sweet to you
You won't realize I'm gone
You won't realize I'm gone



Many people wanna make money, make love
Make friends, make peace with death
But most mainly want to win the game they came to win
They want to come out ahead
But you you're a rock with a heart like a socket I can plug into at will
And will you guess when I come around next?
I hope your open sign is blinking still

So marry me, John
Marry me, John I'll be so good to you
You won't realize I'm gone
You won't realize I'm gone

As for me, I have to agree
I'm as fickle as a paper doll being kicked by the wind
When I touch down again I'll be in someone else's arms



Oh John, come on
We'll do what married people do
Oh John, come on
(I don't care
what you want
I want to
Marry you)
We'll do what Mary and Joseph did
Without the kid

So marry me, John
Marry me, John
I'll be so good to you
You won't realize I'm gone
You won't realize I'm gone

(2009)
A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO (I)

São Cucufate, Vidigueira, Portugal, 2009















(2009)
PODE PASSAR SOB O RADAR...



... aos potenciais interessados mas, parecendo que não, aí na coluna dos "links", à direita, tem vindo a somar-se uma colecção bastante jeitosa de portas de acesso a riquíssimos e diversos baús de partituras online como, por exemplo (entre milhares de outras), esse "personal favourite" da imagem acima. A saber:










Não têm que agradecer. Mas aprecia-se a chegada de outros contributos.

(2009)
ST. VINCENT/ANNIE CLARK (VI)



Jesus Saves, I Spend

While Jesus is saving I'm spending all my days
in backgrounds and landscapes with the languages of saints
While people are spinning like toys on Christmas day
I'm inside a still life with the other absentee

While Jesus is saving, I'm spending all my days
in the garden-grey pallor of lines across your face
While people will cheer on the spectacle we've made
I'm sitting and sculpting menageries of saints

Oh, my man my absentee
I'd do anything to please you
Come my love the stage is waiting
Be the one to save my saving grace

While Jesus is saving I'm spending all my grace
on rosy-red pallor of lights on center stage
While people have cheered on the awful mess we've made
through storms of red roses we've exited the stage


(2009)

19 May 2009

ST. VINCENT/ANNIE CLARK (V)


"These Days" (de Jackson Browne para Nico)

(2009)
EU ESTOU-ME UM BOCADO NAS TINTAS
PARA O SEXO NAS AULAS DE HISTÓRIA... *




... embora a senhora seja, obviamente, demente. Agora, "12 anos na escola, mais 4 na faculdade, mais 2 nos estágios, mais 2 de pós graduação, mais 1 numa especialização" e a "senhora doutora" continua a dizer coisas como "nem sabes no que te metesteS" e "amiguíssimos"?

Conclusão 1: como microradiografia do sistema de formação de profes, é catita;

Conclusão 2: já que, como professora, estamos conversados, talvez ainda vá a tempo de agarrar o lugarzito de assessora de imprensa dos Gift.

* ... até porque há muitas formas de encarar essa questão:



(2009)
ST.VINCENT/ANNIECLARK (IV)















(2009)