NÃO SERÁ O INESQUECÍVEL E COMOVENTE AMPLEXO LUSÓFONO TRANSCONTINENTAL MAS TEM TODOS OS CONDIMENTOS INDISPENSÁVEIS PARA UM COCKTAIL DE RESPONSABILIDADE, AUTORIDADE E PEACE & LOVE CAPAZ DE EMBALAR UM TRANQUILO SERÃO BURGUÊS (SERVIÇO PÚBLICO, PORTANTO)
30 September 2012
29 September 2012
DESCASCANDO (SEM DEMASIADO ESFORÇO) O "EFEITO TEMPLETON":
Uma corrente? Só uma?... Trabalhinhos de casa:
2) "Os gnósticos encaravam a sexualidade e a procriação como algo desprezível"
"Os gnósticos"? Todos mesmo?... Trabalhinhos de casa:
(daqui - clicar na imagem, depois, em "ver imagem", a seguir, usar a lupa)
(... e nada melhor do que ir às fontes)
28 September 2012
DIGAM-ME, JUREM-ME QUE NÃO É UMA GRALHA E É MESMO BROADSHIT (é que é demasiado bom e apropriado para ser verdade... e, de facto, por mais que se google, nada aparece)
27 September 2012
É INCONCEBÍVEL COMO UMA INSTITUIÇÃO DE TÃO ENORMÍSSIMA UTILIDADE PÚBLICA COMO A UNIVERSIDADE FERNANDO PESSOA NÃO RECEBE NENHUM APOIO DO ESTADO!
UMA OUTRA VARIAÇÃO SOBRE O VELHO TEMA "ROUBA MAS FAZ" (IMPROVISO DE LUÍS NATAL-É-QUANDO-UM-HOMEM-QUER MARQUES)
E O ÚNICO PROBLEMA É QUE, NESSE COMBATE, NÃO HÁ MEIO DE ENCOSTAR ÀS CORDAS QUEM, HÁ MUITO TEMPO, MERECE FICAR DEFINITIVA E IRREMEDIAVELMENTE KO
"There's a lot of bad news in reality, but I'm me and I have my life and if I can talk about the news when I have the chance, to help or do something in the moment I have a microphone or something ... Like Pussy Riot - I wish that I was as rich as Oprah so I could fly 5 million women from all over the world [to Russia]. If I were Oprah, I'd be like, 'We're gonna do a show. I'm gonna fly 5 million people to [Russia] and we're gonna go to jail. We're gonna go on a trip. We're gonna go to jail!' To show solidarity". (Cat Power/Chan Marshall)
26 September 2012
FANTASIAS NA PERIFERIA
David Byrne & St. Vincent - Love This Giant
Jherek Bischoff - Composed
“Que tipo de condições deve verificar-se para que ocorra uma grande transformação musical ou reavaliação cultural como a que aconteceu em Nova Iorque no final dos anos 70, início de 80? Um aspecto importante é que a economia deva estar de gatas. Estamos quase lá, portanto, essa parte está mais ou menos resolvida. O outro aspecto é um pouco mais difícil: recuando um pouco na memória, recordo-me da sensação de, nessa altura, praticamente nenhuma da música pop comercial ter alguma relevância para mim ou para os meus amigos. Actualmente, continua a haver muitos nomes grandes que não me interessam a encher estádios mas, igualmente, bastantes outros músicos e bandas excitantes – como os Dirty Projectors, St. Vincent ou tUnE yArDs – que se fazem ouvir e sobrevivem bem melhor do que poderiam fazer há trinta anos”, dizia, no último número da “Uncut”, David Byrne, com Annie Clark/St. Vincent ao seu lado. E, justificando o título (“The Triumph of Art Rock”) do post de 5 de Maio de 2009, no seu blog, aquando da sua participação no álbum/concerto Dark Was The Night, acrescentou: “A ambição desta geração de músicos não é a de serem estrelas, destruírem aparelhos de televisão e andarem de limusina. O que os motiva (e a mim) é criar óptima música”.
Quando o primeiro álbum dos Talking Heads foi publicado (1977) Annie Clark (28.09.82) ainda não tinha nascido. Mas, não apenas David Byrne tem toda a razão como se pode afirmar ainda que, de um modo muito particular, ele e St. Vincent são a cara e a coroa daquela moeda estética que se sente especialmente à vontade a injectar fantasias experimentais na periferia da pop e a virar do avesso formas e conceitos tradicionais sem, por isso, perder o pé naquele terreno que não tem horror à aprovação pública. E, desde que, nesse concerto de Dark Was The Night, se conheceram e, por extensão, se voltaram a encontrar durante a apresentação de Björk com os Dirty Projectors para uma iniciativa da Housing Works (uma organização civil de luta contra a Sida) onde foram convidados a colaborar também, o conceito de Love This Giant começou a emergir. Como na sua participação numa das conferências TED (“How architecture helped music evolve”) Byrne explicou – e desenvolve, agora, no recém publicado livro How Music Works –, o contexto físico decidiu de boa parte das opções: na livraria onde o duo actuaria, o espaço não abundava pelo que, por sugestão de St. Vincent, apenas eles os dois e uma secção de sopros deveriam chegar bem para as encomendas. Assim, o conceito “Beauty and the Beast” – mas ao contrário: David seria a "Beauty" de plástico e Annie a "Beast" feroz –, fundido com a inspiração em Walt Whitman a quem o álbum tomou o título de empréstimo (‘I Should Watch TV’, em que Byrne, em modo antropológico, canta “I used to think I should watch TV, I used to think it was good for me, wanted to know what folks are thinking, to understand the land I live in”, está repleta de citações do poema "Song Of Myself"), num período de três anos e muita troca de emails com ficheiros sonoros, assentou estacas e cresceu.
Se o método adoptado foi o de “pensar a música como um enigma cuja forma teríamos de decifrar no processo de construção”, o resultado, como só acontece nos melhores casos, é algo que nem um nem outra, sozinhos, poderiam ter realizado. Lugar de viagem (“the song is a gift, a song is a road, a road is a face, a face is a time and a time is a place“) entre géneros, em vários sentidos, tanto passa pelos mesmos pontos por onde Byrne e a Dirty Dozen Brass Band caminharam em Music For The Knee Plays (1985) como se socorre de "hoquetus" medievais enquanto motivo decorativo de ansiedades (“my heart beating, still the perilous night, the bombs burtsting air but my hair is alright”, "The Forest Awakes"), serpenteia entre jazz, funk e vocabulário clássico ("I Am An Ape", "Outside Of Space And Time" ou "Ice Age") e, com inexcedíveis elegância e impertinência e a ocasional colaboração dos Dap Kings e Antibalas, coloca-nos um espelho à frente (“I am an ape, I stand and wait, a masterpiece, a hairy beast”, “I am a shaky ladder, intergalactic matter outside of space and time”) e, sem aviso, puxa-nos o tapete debaixo dos pés (“Tanks outside the bedroom window, we’ll be fine with the curtains closed”).
Composed, de Jherek Bischoff, é outra história bem sucedida de colaborações (também com a participação de Byrne), mas, aqui, de modo artesanal: esboçadas as canções em ukulele, Bischoff deslocou-se a casa de todos os instrumentistas que escutamos para que violinos, violoncelos et alia gravassem as respectivas partes tantas vezes quantas as necessárias até que, no final, soassem como uma orquestra. Repetição do processo para com as vozes (Carla Bozulich, Caetano Veloso, Mirah Zeitlyn, Dawn McCarthy, Byrne...) e palmas para esta singular variação contemporânea sobre o modelo Song Cycle, de Van Dyke Parks, em registo Phil Spector-meets-Danny Elfman.
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Pussy Riot nomeadas para o prémio Sakharov
... e é distracção minha ou, por cá, nem MNE, nem Parlamento exalaram um suspiro sobre o assunto?...
ESTÃO À ESPERA DE ENCONTRAR DOCUMENTOS COMPROMETEDORES, ESQUECIDOS HÁ ANOS, ENTRE O DETERGENTE PARA A LOIÇA E O AÇUCAREIRO OU É SÓ PARA PICAR O PONTO E DIZER QUE FORAM LÁ?
25 September 2012
TODOS OS EQUILÍBRIOS SÃO PRECÁRIOS, INCLUINDO AQUELE QUE, ACTUALMENTE, FAZ O PRATO DA BALANÇA PESAR MAIS A ORIENTE
José Mário Branco - "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades"
Cat Power, foto de Richard Avedon, 2003
”I was so drunk I could barely stand up. My organs were so messed up from drinking I was in physical pain. I couldn’t zip up my pants because my stomach was killing me. I didn’t even realize I wasn’t wearing underwear until the magazine came out. I had to explain to my grandmother that this was the definitive photographer of the 20th century” (+ aqui)
DEUS NOSSO SENHOR QUE ESTÁS EM KOLOB, MANTÉM ESTE BÍPEDE A FALAR (MAS LONGE DA PRESIDÊNCIA) DURANTE MUITOS ANOS!...
QUE MIL ADRIANAS XAVIER FLORESÇAM!
Polícias juntam-se à manifestação de sábado
... e o chefe comparece também?
24 September 2012
MAS SE, AO MESMO TEMPO, ANDAM A TENTAR CONVENCER-NOS A DEIXAR O IGNOMINIOSO VÍCIO, LÁ SE VAI, OUTRA VEZ, A RECEITA FISCAL EMBORA
MESMO TENTANDO ABSTRAÍR-NOS DO QUE, CIENTIFICAMENTE, PODERÁ SER A "MEMÓRIA DE PEIXE DE AQUÁRIO" - E O TERRÍVEL PROBLEMA DO PANHONHA DO TOZÉ NÃO É FALTA MAS EXCESSO DE MEMÓRIA -, ESTE DISCURSO, NA BOCA DE UM GORAZ CAPAZ DE NADAR AO LADO DE TODO E QUALQUER CHERNE, NÃO SOA NADA BEM
23 September 2012
"Humans dream of
falling, and wake up with a start. Cats do not have this problem, as we
can fall from very high distances without a problem. So what do we
dream about? We dream about humans falling". (Henri, Le Chat Noir)
The Falling Man - Richard Drew (Nova Iorque, 11 de Setembro, 2001)
The Falling Man - Richard Drew (Nova Iorque, 11 de Setembro, 2001)
PONTE SOBRE ÁGUAS INQUIETAS
Bill Fay - Life Is People
Quando, no início da década de 70 do século passado, os dois primeiros álbuns de Bill Fay foram publicados, alguém terá dito, convictamente, ao seu manager da altura, Terry Noon, que era “apenas uma questão de tempo até que a música dele fosse reconhecida”. Não podia estar mais certo. Embora devesse ter acrescentado a medida exacta desse tempo: à volta de quarenta anos. Na realidade, entre o assombroso Bill Fay (1970) e o actual Life Is People, as quatro décadas que decorreram não foram integralmente vazias na biografia musical de Fay: no ano a seguir à estreia, gravou Time Of The Last Persecution e o seu reiterado insucesso comercial (“vendeu cerca de 2000 cópias”, confessa, hoje, Fay, provavelmente, desconhecendo que, no eBay, as prensagens originais oscilam entre os 400 e os 1000 e tal dólares) valeu-lhe o fim do contrato com a Deram/Decca. O rosto hirsuto de sonâmbulo profeta bíblico do fim dos tempos que exibia na fotografia da capa terá estado na origem da lenda menor que, a partir daí, emergiu: qual Syd Barrett ou Salinger britânico, Bill Fay teria desertado da sociedade e abraçado uma vida de eremita antisocial, curando males do corpo e da mente. Nada mais longe da verdade: pura e simplesmente, ele que nunca tinha autenticamente sonhado com uma carreira de popstar, limitou-se, pacatamente, a regressar a uma existência das 9 às 5, trabalhando como operário fabril, jardineiro ou trabalhador rural. E continuou a compor, procurando, como diz ainda agora, à beira dos 70 anos, “descobrir os mistérios daquela longa sequência de teclas brancas e pretas” que lhe pudessem revelar os motivos por que não conseguia largar os discos de Bob Dylan e de Schoenberg e lhe fizessem ser capaz de explicar a admiração que "See Emily Play", dos Pink Floyd, lhe provocava.
Entretanto, aqueles dois únicos álbuns gravados ambos em sessões únicas de estúdio, iam conquistando fãs. Tanto o primeiro – coisa da estatura de Goodbye And Hello, de Tim Buckley, ou de American Gothic, de David Ackles –, envolto nos vertiginosos arranjos orquestrais de Mike Gibbs (“quando cheguei ao estúdio imaginei que tinha entrado numa outra versão da 5ª do Beethoven”), como Last Persecution, dividido entre uma escrita mais convencional e as labaredas da guitarra "free" de Ray Russell, juntaram nos louvores Jim O’Rourke, Nick Cave, Marc Almond, Jeff Tweedy (Wilco) e David Tibet que, em mera genuflexão ou de forma mais expedita, cuidaram de, a conta gotas, ir retirando uma ou outra pérola do baú. Assim foram surgindo, em 2004, From the Bottom of an Old Grandfather Clock, uma óptima colecção de demos de entre 1966 e 1970 capaz de envergonhar Sgt. Peppers, Tomorrow, Tomorrow & Tomorrow (2005) e Still Some Light (2010) – no total, 63 canções oscilando entre registos artesanais e outros que poderiam figurar num "best of" de Robert Wyatt, Peter Hammil e Randy Newman, fossem eles como a Santíssima Trindade – e, desta vez, Life Is People. Mais dylaniano (e, talvez, também, mais newmaniano) do que antes, com um timbre de voz, aqui e ali, também próximo de Peter Gabriel, é um ciclo de canções apaziguadas e apaziguadoras que faz lembrar as daquela época em que Nick Cave se assumiu como “The Good Son”: o mundo pode ser um vale de lágrimas mas, algures, existe sempre uma "bridge over troubled water" (e o recorte de hino cristão comunitário atravessa, por vezes, excessivamente, todo o disco) através da qual se chega a mais verdes pastagens. Não será a obra-prima de Fay mas, ainda assim, é um belíssimo álbum.
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AGORA, É SÓ SOMAR 2+2 E FAZER AS CONTAS AO TEMPO QUE FALTA PARA A COISA PRESCREVER
Cândida Almeida afirma que os políticos portugueses não são corruptos (e demonstra-o)
É INDISCUTÍVEL A ENORME EXPERIÊNCIA DA VATICANO S.A. NO ALÍVIO DAS TENSÕES
(cortesia de mr. apostate)
22 September 2012
A SITUAÇÃO ESTÁ A FICAR VERDADEIRAMENTE MADURA PARA UM GRANDE MOVIMENTO PELO VOTO EM BRANCO COM EXIGÊNCIA DA RESPECTIVA REPRESENTAÇÃO PARLAMENTAR (OBJECTIVO MÍNIMO = 20%) ATRAVÉS DE CADEIRAS VAZIAS
ISTO É PRODUTIVIDADE QUE SE APRESENTE? OITO HORAS DE "TRABALHO" PARA A MONTANHA PARIR UMA PULGA? (ou, afinal, passaram só a noite a jogar matraquilhos e a oferecer fatias de bolo-rei à múmia de Boliqueime para se divertirem e irem matando o tempo?)
21 September 2012
EU NÃO DISSE?...
(novos e desinteressados contributos para o grande projecto cinematográfico de Paul Doors)
(novos e desinteressados contributos para o grande projecto cinematográfico de Paul Doors)
... o pior é que o Big Brother deixou marcas profundas e há sempre mirones a querer votar em quem sai da "casa"...
Edit: ... e com uma impressionante interactividade entre espectadores e "protagonistas" do "ultra-reality show"...
Edit: ... e com uma impressionante interactividade entre espectadores e "protagonistas" do "ultra-reality show"...
20 September 2012
FACADA NAS COSTAS É ISTO!
Miguel Relvas garante confiar em Paulo Portas
... a dúvida é se são as costas do Coelho ou do Portas...
(À SUIVRE)
... E, ACIMA DE TUDO, QUANDO OCORRER O PRÓXIMO ATENTADO ISLÂMICO (HÁ SEMPRE UM PRÓXIMO), NÃO VENHAM DIZER QUE A RESPONSABILIDADE PELOS MORTOS E FERIDOS É DA "CHARLIE HEBDO": A RESPONSABILIDADE É DE QUEM COLOCA AS BOMBAS!
A CAMINHO MEDIDAS QUE PRETENDEM MANTER O GOVERNO DE COLIGAÇÃO E ASSEGURAR A SUA COESÃO IDEOLÓGICA (e, assim, estimulam a renovação dos votos matrimoniais)
The naked truth about Kate
Pictures of the Duchess of Cambridge looking at naked breasts in the Solomon Islands open up enough paradoxes of symbolism to keep a conference of cultural anthropologists busy for a month or so. They would clear up the culture of the Solomon Islanders easily enough but get a collective headache trying to understand the confusions, archaisms and perversities of "modern" Britain that lie behind those royal titters (sorry ma'am).
Paul Gauguin - Duas Mulheres Tahitianas (1899)
While in this picture the Duchess smiles charmingly as she meets people of the Solomon Islands, in others she giggles on seeing the naked breasts of cermonial dancers. The hundreds of Oceanian islands that make up the Solomons did not see bare breasts as a topic of embarrassment until Christian missionaries tried to impose European values in the 19th century. Traditional dances put on to entertain royal visitors still feature traditional nudity. So why was the Duchess photographed getting the giggles? Paul Gauguin didn't giggle at the women of Tahiti, which has similar traditions, but admired them with awe, as his 1899 painting Two Tahitian Women beautifully illustrates. He marvelled at these women 'walking about naked without shame'". (texto integral aqui)
19 September 2012
INVENTÁRIO DO HORROR
Bob
Dylan - Tempest
Houve um pequeno momento de pânico quando,
há meses, Bob Dylan confidenciou à “Rolling Stone” estar a considerar a
possibilidade de o seu próximo álbum incluir predominantemente “temas
religiosos”. Tratar-se-ia de uma assustadora recaída? Iria ele entrar em
vertiginosa marcha atrás até à sua idade das trevas privada enquanto "born-again christian" - os anos dos
terríveis Slow Train Coming (1979), Saved (1980) e Shot Of Love (1981) – e
colocar um triste ponto final na magnífica série iniciada em 2001 com Love
& Theft? Falso alarme, afinal. Aqui e ali, haverá uma ou outra afloração
do que poderia ter acontecido (um “there
is no understanding for the judgement of god’s hand”, por exemplo, mas
devidamente legitimado pelo contexto), no entanto, em Tempest, o Dylan que
reencontramos é, como escreveu Greg Kot no “Chicago Tribune”, a reencarnação do
xerife Ed Tom Bell, de No Country For Old Men, dos irmãos Coen: pelo mundo, o
mal e a devastação triunfam mas o que deve ser feito tem de fazer-se. E, sem a
menor sombra de sentimentalismo e um grau de virulência digno dos seus mais
gloriosos instantes, ele mete mãos ao trabalho de inventariar os horrores e os
facínoras e de os expor em toda a sua ignomínia.
Como que em irónica manobra de diversão, tudo começa com a chegada de um
"slow train" vindo de Duquesne, cujo “whistle”
apita “like the sky is going to blow apart”. O céu não explode mas, fiel ao
que, citando o Shakespeare de Júlio César, anuncia em "Pay In Blood" - “I came to bury not to praise” –, as
imprecações e o "body count" nunca mais
terão fim. É bem possível que as várias temporadas do programa de rádio
semanal (“Theme Time Radio Hour”) que
Bob Dylan, entre 2006 e 2009, manteve na XM Satellite, lhe tenham apurado o
gosto pelas formas e géneros musicais anteriores à época em que ele próprio
mudou o curso da música popular. Porque, aqui, tudo opera em modo de bar de
estrada possuído pelos vetustos espectros dos blues, do rockabilly, da country, do swing, do gospel, do vaudeville ouda folk mais encardida.
Pegue-se em “Early Roman Kings”: ascendência em "Hoochie Coochie Man", de Willie Dixon, via Bo Diddley ("I’m A Man") ou Muddy Waters ("Mannish Boy"), com o acordeão de David Hidalgo no lugar da previsível harmonica e uma invectiva digna de "Masters Of War": “they’re peddlers and they’re meddlers, they buy and they sell, they destroyed your city, they’ll destroy you as well, they’re lecherous and treacherous, hell bent for leather, each of them bigger than all of them put together (…) I could strip you of life, strip you of breath, ship you down to the house of death”. Ou "Pay In Blood", riff-murro nos cornos e “Night after night, day after day, they strip your useless hopes away, (…) I’ve been through hell what good did it do? You bastard, I’m supposed to respect you? I’ll give you justice, I’ll fatten your purse, show me your moral virtue first, I’ll pay in blood but not my own”. Considerem-se ainda duas "murder ballads" ("Tin Angel" e "Scarlet Town"), uma derivação dos Mississipi Sheiks ("Narrow Way": “We looted and we plundered on distant shores, why is my share not equal to yours, your father left you, your mother too, even death has washed his hands of you”), a imensa canção-título (14 minutos de alucinações sobre o Titanic tomados de empréstimo à Carter Family) e, à excepção da dispensável evocação de John Lennon ("Roll On John"), podemos ficar certos que o álbum publicado 50 anos após o da estreia de Bob Dylan, é coisa tão indispensável como (quase) tudo o que veio depois de 1962.
Pegue-se em “Early Roman Kings”: ascendência em "Hoochie Coochie Man", de Willie Dixon, via Bo Diddley ("I’m A Man") ou Muddy Waters ("Mannish Boy"), com o acordeão de David Hidalgo no lugar da previsível harmonica e uma invectiva digna de "Masters Of War": “they’re peddlers and they’re meddlers, they buy and they sell, they destroyed your city, they’ll destroy you as well, they’re lecherous and treacherous, hell bent for leather, each of them bigger than all of them put together (…) I could strip you of life, strip you of breath, ship you down to the house of death”. Ou "Pay In Blood", riff-murro nos cornos e “Night after night, day after day, they strip your useless hopes away, (…) I’ve been through hell what good did it do? You bastard, I’m supposed to respect you? I’ll give you justice, I’ll fatten your purse, show me your moral virtue first, I’ll pay in blood but not my own”. Considerem-se ainda duas "murder ballads" ("Tin Angel" e "Scarlet Town"), uma derivação dos Mississipi Sheiks ("Narrow Way": “We looted and we plundered on distant shores, why is my share not equal to yours, your father left you, your mother too, even death has washed his hands of you”), a imensa canção-título (14 minutos de alucinações sobre o Titanic tomados de empréstimo à Carter Family) e, à excepção da dispensável evocação de John Lennon ("Roll On John"), podemos ficar certos que o álbum publicado 50 anos após o da estreia de Bob Dylan, é coisa tão indispensável como (quase) tudo o que veio depois de 1962.
Os circuitos cerebrais resultam de encontros acidentais entre neurónios mas alguns desses encontros são bastante mais acidentais do que os outros
FAZENDO UM ENORME ESFORÇO PARA RECONHECER A MUI DUVIDOSA EXISTÊNCIA HISTÓRICA DA CRIATURA, DE ACORDO COM A NUMEROSA LITERATURA DE FICÇÃO SOBRE ELA JÁ CONHECIDA, NADA DISTO É GRANDE NOVIDADE: "E a companheira do Salvador era Maria Madalena. Cristo amou Maria mais do que todos os discípulos, e costumava beijá-la frequentemente na boca"; "Pedro disse a Maria: 'Irmã, sabemos que o Salvador te amava mais do que qualquer outra mulher. Conta-nos as palavras do Salvador, as de que te lembras, aquelas que só tu sabes e nós nem ouvimos'. (...) Será que ele realmente conversou em particular com uma mulher e não abertamente connosco? Devemos mudar de opinião e ouvirmo-la a ela? Ele a preferiu a nós?"
(cortesia de mr. apostate)
18 September 2012
NOVOS DESENVOLVIMENTOS EM TORNO DO URGENTE COMBATE AO ABSENTISMO ESCOLAR E DO PROBLEMA DO INÍQUO FAVORECIMENTO DE CANDIDATURAS NAS OFERTAS DE ESCOLA
EIS, ENTÃO, UM ÓPTIMO PRETEXTO PARA O REPUBLICAR NUMA SESSÃO DE LANÇAMENTO COM POMPA E CIRCUNSTÂNCIA E EXIBIÇÃO DE "A VIDA DE BRIAN" (e leitura complementar de bónus)
"In the late 1970s, Dylan became a born-again Christian and released two albums of Christian gospel music. Slow Train Coming (1979) featured the guitar accompaniment of Mark Knopfler (of Dire Straits) and was produced by veteran R&B producer, Jerry Wexler. Wexler recalled that when Dylan had tried to evangelize him during the recording, he replied: 'Bob, you're dealing with a sixty-two-year old Jewish atheist. Let's just make an album'". (aqui)
Jerry Wexler (Jerry Wexler died at his home in Sarasota, Florida, on August 15, 2008, from congestive heart failure. Asked by a documentary filmmaker several years before his death what he wanted on his tombstone, Wexler replied "Two words: 'More bass'")
Jerry Wexler (Jerry Wexler died at his home in Sarasota, Florida, on August 15, 2008, from congestive heart failure. Asked by a documentary filmmaker several years before his death what he wanted on his tombstone, Wexler replied "Two words: 'More bass'")
17 September 2012
NÃO É IMPOSSÍVEL QUE, NA SOMBRA, PAUL DOORS ESTEJA, AFINAL, APENAS A URDIR A TRAMA PARA O SEU ARGUMENTO DE FILME-MOSAICO À LA ALTMAN, EM QUE, SOBRE UMA TELA DE FUNDO DE APARENTE TELENOVELA, OUTRAS MICRONARRATIVAS SE VÃO, A POUCO E POUCO, INCRUSTANDO
UMA OU DUAS IDEIAS
Laetitia Sadier - Silencio
Laetitia Sadier - Silencio
Há uma ou duas ideias feitas acerca da
coisa pop que se, aqui e ali, terão algum sentido, transformadas em “tábuas da
lei”, só podem conduzir ao disparate (uma tendência inerente às “tábuas da lei”,
aliás). A opção pelo “acústico” – por oposição ao “eléctrico” – como revelador
da “essência” última de uma canção, é uma delas. Outra gira em torno do
“artista finalmente emancipado na sua transbordante criatividade da banda que
lhe tolhia a liberdade de movimentos” (ok, no caso Björk/Sugarcubes, não poderia ter sido mais
verdade). A Laetitia Sadier, pós-Stereolab, aplicar-se-iam ambas: Silencio,
não repudiando integralmente o recorte "space age bachelor pad music" (o peculiar cocktail de Young
Marble Giants, "easy listening", pais fundadores da electrónica, Bacharach e "motorik" germânica), investe claramente no
nicho da canção de raiz acústica e apenas decorativamente “krautificada” (e,
acessoriamente, “tropicalizada”); em roda livre, embora ainda acompanhada por
Tim Gane, não pode afirmar-se que Sadier tenha sido capaz de voar muitos pés
acima da banda.
Claro que a uma parisiense nascida em Maio de 68 não deve pedir-se que desista de cantar “The ruling class neglects again responsability, overindulged children drawn to cruel games, pointless pleasures, impulsive reflexes, a group of assassins” pelo meio de coros lânguidos. Mas se os Stereolab já tinham devidamente homenageado John Cage em "John Cage Bubblegum" com o melhor texto minimal possível (“C'est le plus beau, et c'est le plus triste, c'est le plus beau paysage du monde”), mesmo tendo-se comemorado há dias 60 anos sobre a estreia de 4’33”, eram dispensáveis os 4’29” de “Invitation Au Silence” em louvor do silêncio das igrejas que nos faz descobrir “as profundas dimensões do eu”.
Claro que a uma parisiense nascida em Maio de 68 não deve pedir-se que desista de cantar “The ruling class neglects again responsability, overindulged children drawn to cruel games, pointless pleasures, impulsive reflexes, a group of assassins” pelo meio de coros lânguidos. Mas se os Stereolab já tinham devidamente homenageado John Cage em "John Cage Bubblegum" com o melhor texto minimal possível (“C'est le plus beau, et c'est le plus triste, c'est le plus beau paysage du monde”), mesmo tendo-se comemorado há dias 60 anos sobre a estreia de 4’33”, eram dispensáveis os 4’29” de “Invitation Au Silence” em louvor do silêncio das igrejas que nos faz descobrir “as profundas dimensões do eu”.
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