12 February 2021

O PAÍS DAS COCANHA
É nos Carmina Burana – essa gloriosa colecção de poemas e canções de Goliardos, libérrimos monges devassos da Idade Média – que surge a primeira referência ao País de Cocanha: uma terra imaginária de liberdade e abundância, onde se prestava culto ao prazer e ao ócio, e o trabalho e a velhice eram desconhecidos. Algo como um jardim do paraíso pagão, livre da fome e das guerras, atravessado por rios de vinho e leite. Foi cartografado, em 1250, no Fabliau de Coquaigne e, em 1567, Pieter Bruegel pintou-o: um padre, um cavaleiro e um camponês – iguais no langor e na opulência – dormem à sombra de uma árvore envolvida por uma mesa repleta de iguarias.

 
Os Flamengos chamavam-lhe “o país das doces guloseimas” e, hoje, no Sul de França, o Pays de Cocagne reune três comunas na região da Occitânia. Em occitano – herdeiro da "langue d’oc" medieval cujo parente actual mais próximo é o catalão –, “puput” é o nome dado à poupa, um passaroco de longo bico e penacho eréctil, que as Cocanha (Lila Fraysse, Maud Herrera e Caroline Dufau, occitanas de Toulouse) promoveram enquanto símbolo e estandarte contra a misoginia e a indiferença social, oferecendo-lhe a capa e o título do seu segundo álbum. (daqui; segue para aqui)

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