Ética protestante do trabalho, ética protestante do trabalho, mas tinha-lhe custado muito escrever mais 5 teses para aquilo ficar com um número catita e redondinho?... (e, já agora, a Taxa Camarae não era uma óptima ideia?)
AVASSALADOR
Primeiro, uma apresentação breve: “Call me ‘Heraclitus The Obscure’, constantly weeping because the river doesn't move, it doesn't flow, it's been leaded by snider men to make a profit from the poor”. Depois, a explicação do método: “Not by my own hand, automatic writing by phantom limb, not with my own voice, pleurisy made to stand on two legs”. A seguir, a imprecação: “In this age of blasting trumpets, paradise for fools, infinite wrath, in the lowest deep a lower depth, I don't want to hear those vile trumpets anymore”. Por fim, a parábola: “Elvis outside of Flagstaff, driving a camper van, looking for meaning in a cloud mass, sees the face of Joseph Stalin and is disheartened, then the wind changed the cloud into his smiling Lord and he was affected profoundly, but he could never describe the feeling, he passed away on the bathroom floor”. Cabe tudo nos 5’20” de "A Private Understanding", a faixa inicial de Relatives In Descent e exemplo supremo de que uma canção pode conter mais alimento para cérebros ávidos do que muitas páginas de papel impresso. Há outras 11 de idêntica estatura no quarto álbum dos Protomartyr, banda de Detroit que compõe e toca com a mão no pulso da cidade destroçada e a sente latejar como um sintoma do grande mal americano contemporãneo.
"Manuel Pinho: É evidente que os gajos vão gostar imenso de estar consigo e, quanto mais à-vontade e mais aberto, isso é melhor. E depois vai ser você nos anos subsequentes, quer vir cá [Universidade de Columbia] um mês ou dois ou qualquer coisa, e arranja a coisa tranquilamente, não é?
José Sócrates: ’Tá bem.
MP: E até, se quiser se eternizar num desses [imperceptível], eu até lhe digo qual é a técnica, pá, não é? E, e você pode fazer isso de caras […].
JS: Sim?
MP: Sabe […], arranja um tema qualquer sobre o Brasil, que o Brasil ache interessante que se estude, pá, relações com a China, sustentabilidade e pá, meta um coisa, relações como o Chile, uma merda qualquer, e depois diz ao Lula, 'vocês que têm milhões de bolsas, patrocínios e essa coisa toda, façam, eh pá, suportem financeiramente um estudo sobre qualquer coisa' […].
JS: Uh, uh…
MP: … que seja falsa, pá. Bem eles, então, aí ficam satisfeitíssimos, porquê? Porque, ’tá a ver, isto aqui não tem mistério, isso são coisinhas que precisam de conhecimentos, de verbas para investigação e essa coisa toda, e depois, o talento deles é que conseguem pôr muita gente a puxar para o mesmo lado da carroça, pá, pronto. Portanto, vão gostar imenso, você vai adorar isto.
JS: Uh, uh. [...]
MP: E eu até vou tratar disso directamente com a reitora, nem vou tratar lá com os outros mixurucas...
JS: Sim, sim.
MP: ... essa coisa toda, depois vamos fazer uma coisa que passa por cima disso, não é?
JS: Sim, sim [...] Pois. Ó pá, agora veja lá essa história do Domingos [Farinho], tá bem? Depois diga-me qualquer coisa"
"(...) estes Projectos de Lei representam um sério ataque à credibilidade do Ensino Superior, desprestigiando a já fragilizada carreira docente do ensino superior em Portugal. Numa altura em que tantos e tantas doutorados(as) lutam por mais e melhor emprego científico, com profissionais altamente qualificados vedados a uma carreira digna, os PL em causa pretendem que sejam abertas as portas das instituições de Ensino Superior a um conjunto de profissionais não-qualificados, promotores de falsa ciência e de práticas danosas para a saúde pública" (aqui)
... e, quando um fulano menos espera, salta-lhe em cima um Marselfie qualquer que lhe espeta uma carica na lapela!... Mas aquilo por que o p.o.v.o. verdadeiramente anseia é que o ex-"sit-down comedian" exija um pedido de desculpas público a Jean-Yves Ferri e Didier Conrad pela ultrajante representação dos bravíssimos Lusitanos em Astérix e a Transitálica! Ou isso ou o corte imediato de relações diplomáticas!!!
David Lynch sabe do que fala quando, sobre as particularidades da banda sonora no cinema, afirma: “Há efeitos sonoros e efeitos sonoros abstractos; há música e há música abstracta. E, algures por aí, a música converte-se em efeito sonoro e os efeitos sonoros em música. É uma área um pouco estranha”. Se, evidentemente, isso se aplica a toda a obra de Lynch, Blade Runner, de Ridley Scott (1982), transformou-se num caso particularmente exemplar de como essa “área estranha” pode assumir um papel determinante na definição profunda da natureza de um filme. Vencedor, no ano anterior, do primeiro Oscar para uma BSO maioritariamente executada em sintetizadores (Chariots of Fire), seria Vangelis o autor da partitura – a ilustração de uma densa e húmida atmosfera de pesadelo urbano neo-noir, feita de despojos do romantismo, farrapos de jazz e electrónica ambiental – que vivia tanto da música como convencionalmente a entendemos quanto da constante polifonia de computadores, néons, zumbidos de electricidade estática e de todo o tipo de ruídos de uma metrópole sci-fi pós-apocalíptica, tal como Philip K. Dick e Scott imaginaram que ela seria em 2019.
Em Blade Runner 2049, Dennis Villeneuve, Hans Zimmer e Benjamin Wallfisch, não fizeram tábua rasa do riquíssimo legado do capítulo inicial mas – ainda que de modo imperfeito – amplificaram-no desmedidamente: K, aliás, Joe K (um Josef K desqualificado?), deambula por um mundo de (raras) árvores petrificadas, de desertos calcinados côr de fogo habitados pelos destroços das estátuas do “Ozymandias”, de Shelley, durante um teste psicológico recita um poema extraído de Pale Fire, de Nabokov, voluntariamente ou não invoca e materializa os espectros de Marilyn Monroe, Elvis Presley e Frank Sinatra (que, em "One For My Baby", lhe canta “Set 'em' up Joe, I got a little story I think you oughtta know”), e, quando activa Joi, a namorada virtual, faz soar os dois primeiros compassos de Pedro e o Lobo, de Prokofiev. Mesmo quando não é inteiramente aparente, já há aqui muita música. Mas Zimmer e Wallfisch, ultrapassando a sua condição de pistoleiros a soldo da indústria dos "blockbusters" – assim acontecera também com o Vangelis pomposamente "new age" –, oferecem-lhe uma moldura sonora implacável, sinistra e descarnada, um uivo mecanicamente sufocado, qual requiem agreste, por vezes quase ligetiano, por uma civilização dizimada e já incapaz de identificar a linha que distingue o humano do não humano.
Christ and the Woman Taken in Adultery - Pieter Bruegel the Younger (1600)
"Jesus came upon a small crowd who had surrounded a young woman they believed to be an adulteress. They were preparing to stone her to death.
To calm the situation, Jesus said: 'Whoever is without sin among you, let them cast the first stone'.
Suddenly, a lady at the back of the crowd picked up a huge rock and lobbed it at the young woman, scoring a direct hit on her head. The unfortunate young lady collapsed dead on the spot.
Jesus looked over towards the lady and said: 'Do you know, mother, sometimes you really piss me off'.
23 October 2017
Poderá ser da origem alemã do Dr. Fred mas este precioso e utilíssimo opúsculo que inova na perspectiva sob a a qual aborda os temas claudica em questões de género (gramatical) e, quiçá por ter sido publicado em 1969, nas últimas linhas do excerto reproduzido, exerce uma abusiva e imperdoável discriminação sobre o famoso número (não algarismo)
"Ao já mencionado 'cunnilingus' em que o homem lambe as partes genitais da mulher, corresponde a 'felatio' em que a mulher introduz o membro viril na boca, podendo sentir prazer especial de deixar vir o esperma para a língua e engoli-lo até. Neste caso fala-se de orgasmo alimentar designado como mais saboroso do que o orgasmo genital.
Psicologicamente evoca-se uma espécie de antropofagismo, visto que, devido a esta exagerada erótica oral, a mulher deseja engolir alguma parte do amante, por fome de amor. Ver também 'Penilingus'.
Na vida dos homossexuais, o 'cunnilingus' é usado entre as mulheres e a 'felatio' entre homens. O chupar mútuo dos membros de dois homens é designado com o algarismo 69" (daqui)
St. Vincent | Pitchfork Music Festival Paris 2014
É verdade, sim, o gudebuque que contêm a palavra autêntica do sinhor diz exactamente isso!*
*Na verdade, em príncipio, para acabar com a poucavergonhice, lerpavam os dois mas, como se sabe desde o Génesis, no fundo, no fundo, a culpa é dela. Amen.
"The oldest surviving round in English is 'Sumer Is Icumen In'. (...) The first published rounds in English were printed by Thomas Ravenscroft in 1609... 'Three Blind Mice' appears in this collection, although in a somewhat different form from today's children's round" (aqui)
Richard Thompson - "Sumer Is Icumen In"
20 October 2017
Devia era começar a enviar-se já à Vaticano S.A. a papelada para a canonização
Trata-se de uma singularidade cósmica particularmente rara: o lugar onde o clube das bandas lendárias que publicaram apenas um álbum (Young Marble Giants, The United States Of America, Sex Pistols, The Germs, The Del-Byzanteens, Life Without Buildings, The Monks) se cobre com a poeira dos arquivos nos quais se ocultam os míticos "great lost albums". Com o incalculável valor acrescido de, no caso, não ser por gentileza ou reflexo de "hype" instalado que "great" acompanha "lost album": Slights Still Unspoken (Selected Recordings 1978-1979), dos Voigt/465, é, sem a menor dúvida, uma preciosa recuperação arqueológica por que teremos de ficar eternamente gratos à editora espanhola Guerssen Records. Oriundos da nunca suficientemente louvada cena rock australiana que, entre inúmeros outros, nos deu a conhecer os Triffids, Go-Betweens, Apartments, Nick Cave, The Saints, Radio Birdman e The Church, os Voigt/465 eram cinco catraios da Technical Boys High School, de Sidney (Rae Byrom, voz, Phil Turnbull, voz e teclados, Lindsay O'Meara, baixo, Rod Pobestek, guitarra, e Bruce Stalder, bateria), que, em 1976, no espaço de uma oficina cedida pelo pai de um deles, lançaram desordenadamente para o caldeirão das bruxas todos os ingredientes que tinham à mão.
A saber, os mais suculentos nacos dos Velvet Undergtound, Roxy Music (fase Eno), Pink Floyd (aliás, The Piper At The Gates Of Dawn, isto é, Syd Barrett), Stooges, Pere Ubu e Devo, generosamente temperados com pitadas de Faust e Can, essências-garage, art-rock britânico, ruído avulso e libérrima improvisação. Como será fácil de compreender, uma tão rica e eclética dieta não conduz ao tipo de digestão fácil que faz desenrolar as passadeiras vermelhas para carreiras gloriosas. Na verdade, o radar da notoriedade apenas lhes assinalou a existência durante aqueles fugazes instantes em que o único single, “State”/“A Secret West” (1978), soou nas ondas radiofónicas de John Peel. Tanto assim que o solitário álbum que publicariam, Slights Spoken (1979) era só um registo para memória futura de uma banda já oficialmente dissolvida. Quase 40 anos mais tarde, apenas poderemos dizer que, como só improvavelmente acontece, nunca havíamos ouvido nada semelhante antes e dificilmente o viremos a fazer depois. Uma estrondosa festa para o canal auditivo.
18 October 2017
St Vincent on SNL 2014
("Digital Witness" + "Birth In Reverse")
É uma tortura ouvir a língua portuguesa ser impiedosamente massacrada num debate do parlamento: é o "chamar à atenção", da Cristas, as "alterações que se alteraram", do Costa, o "fazer gáudio" (?) do Hugo Soares (são só três exemplos para que não me acusem de provocar vómitos)
Coincididindo com a publicação do seu álbum anterior (St. Vincent, 2014), Annie Clark anunciou o lançamento de um lote especial de café Flecha Roja, da Costa Rica, por ela seleccionado para a Intelligentsia Coffee: “Adoro café. Por vezes, à noite, fico excitada só de pensar no café que irei beber na manhã seguinte. O café é a razão para eu acordar. Não é a única, claro. Mas é um forte incentivo. Adoro o café da Intelligentsia. Faço fila aos balcões deles qual fã à espera de um concerto. Ansiosa. Impaciente. Por isso, quando a minha marca de café preferida me abordou para colaborar com ela, fiquei emocionadíssima”. Mesmo não conhecendo bem Clark, para o estrato superior do sapiens incapaz de viver sem essa dádiva do Islão ao mundo, não poderia haver melhor cartão de visita. Mas, nestes três últimos anos, não foi essa a única actividade extra-curricular de St. Vincent: realizou uma curta de terror (The Birthday Party) e deu início à produção de uma releitura cinematográfica de O Retrato de Dorian Grey sob uma perspectiva feminina, aceitou ser um dos rostos da joalheira Tiffany – para a qual também gravou uma versão de "All You Need Is Love", dos Beatles – e concebeu e assinou uma guitarra eléctrica para a Music Man/Ernie Ball.
Com Masseduction, o novo álbum, a atitude, tal como confessou a “The Line Of Best Fit”, terá sido “People might have thought I was going to zig, so I zagged”. Exactamente o género de coisa que, afinal, nunca seria inesperada vinda de quem, por exemplo, aquando da atribuição de um Grammy pelo disco de há três anos, na categoria de “Melhor álbum de rock alternativo, perguntou “Mas alternativo a quê?...” (curiosamente, consta que Masseduction irá ter uma variante… alternativa, "stripped down", apenas com o pianista Thomas Bartlett/Doveman). Porém, rezam as crónicas que francamente pouco convencional foi o cenário montado para acolher, em Londres, quem, agora, lhe iria escutar as opiniões: um cubo lynchiano côr-de-rosa com pontos de luz da mesma côr – “a psychedelic womb” – no interior do qual, Clark, sentada a uma mesa, poderia accionar um botão de resposta automática previamente gravada a indesejáveis perguntas estereotipadas. Que teriam por consequência imediata a expulsão do perguntador.
Sedução e poder. São as chaves de leitura para um álbum cuja digressão se intitulará “Fear The Future” e que St. Vincent descreve como “Dominatrix at the mental institution”: “Sabia que precisava de escrever sobre o poder – a ficção do poder e o poder da ficção”.
Mas se, em "Happy Birthday, Johnny", ela canta “You saw me on magazines and TV, but if they only knew the real version of me“, todas as tentações de leitura (auto)biográfica são severamente desencorajadas: “As canções são testes de Rorschach. A interpretação ou o sentido de uma canção têm muito mais a ver com o ouvinte do que com a intenção de quem a escreveu. Há quem se preocupe com a possibilidade de ser mal interpretado. Desde que não me acusem de racismo, sexismo ou homofobia, por mim, está tudo bem”. Basta, então, que saibamos que esta formidável colecção de 13 canções convulsivamente electrónicas, invasivamente orquestrais e neuroticamente eléctricas se alimentou de Charles Mingus, Nabokov e Nick Cave. E que nada tem a ver com eles.
Deixa ver se percebi: a Vaticano S.A. - agora muito mais arejada e progressista com o Santo Chiquinho como CEO -, para averiguar do grau de machorrice (de que nunca deverão fazer uso!) dos jovens candidatos a funcionários da empresa, vai perguntar ao mulherio beato se o puto já andou enrolado com elas, se já tentou mas a coisa não passou dali, ou se, mesmo que elas até nem desgostassem da ideia, ele não lhes liga peva? É isso? E qual é a resposta certa? E o valor do depoimento é igual quer se trate da bisavó do sacristão ou da moça da tabacaria que é a cara chapada da Eva Green?
Edit: ... e o Capelão Magistral, por interposto Prémio Templeton, explica que o "milagre" do Solzinho dançante foi, afinal, o facto de a futura velha bruxa facha possuir super-poderes que nem o IPMA, hoje, tem. Boa!
"(...) Uma reportagem sobre o consumo de pornografia ou referências eróticas na Internet, feita com base no Google Trends, concluiu que os utilizadores masculinos são os que mais pesquisam a palavra 'pénis' (...) o que se verifica sobretudo através de consultas feitas a partir dos Açores e, depois, por esta ordem, de Bragança, Madeira, Guarda, Vila Real, Portalegre e Viana do Castelo. Quando a palavra-chave é 'vagina' (...), as consultas vêm sobretudo de Bragança, Vila Real, Guarda e Açores. (...) Na explicação científica da sexóloga Vânia Beliz, 'o sexo amador é mais procurado por pessoas que gostam de uma coisa mais amadora'" (António Araújo - Da Direita à Esquerda)
... e, assim, não resta senão concluir que lixo é lixo e que se lixe o ecoponto
Sherlock Holmes and Dr. Watson decide to go on a camping trip. After dinner and a bottle of wine, they lay down for the night, and go to sleep.
Some hours later, Holmes awoke and nudged his faithful friend.
"Watson, look up at the sky and tell me what you see".
Watson replied, "I see millions of stars".
"What does that tell you?"
Watson pondered for a minute.
"Astronomically, it tells me that there are millions of galaxies and potentially billions of planets".
"Astrologically, I observe that Saturn is in Leo".
"Horologically, I deduce that the time is approximately a quarter past three".
"Theologically, I can see that God is all powerful and that we are small and insignificant". "Meteorologically, I suspect that we will have a beautiful day tomorrow" .
"What does it tell you, Holmes?"
Holmes was silent for a minute, then spoke: "Watson, you idiot. Someone has stolen our tent!"
Ó Sodona Madonna, mas eu não lhe disse já a quem devia dirigir-se?
... não queremos ver a Sodona Madonna com os azuis... a propósito já pensou nesta sugestão?...
Lixo é lixo mas, ao depositar no ecoponto, convém fazer correctamente a separação