Agora em tradução portuguesa, novos elementos acerca dos valorosos feitos das heróicas forças armadas lusas
30 October 2016
Quer parecer-me que o JMF esteve de folga outra vez (o Capelão Magistral vai fazer uma peixeirada daquelas...)
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recluso nº44
"We talk about the contrast between the American ideal of masculinity – generous, confident, empathetic, determined; the one you think of when you imagine the 'Greatest Generation' who fought in the second world war – and the one Trump presents. He [Bruce Springsteen] laughs at the difference. 'In Trump’s case, the facade is easy to see through, and what you see is a bundle of anxiety, fragility and insecurity', he says. 'It’s the thinnest possible mask of masculinity. And it wouldn’t fool anybody from the Greatest Generation'. There’s a faint hesitation around his use of those words, as if acknowledging that not everyone who fought in the war, including his father, was necessarily great. 'It’s such a thin costume that for me it doesn’t hold for a moment. But there have been quite a few people he has attracted along the way, so I suppose the bluster works to a certain degree. He’s really quite an embarrassment if you’re from the USA. It’s simply the most rigid and thinnest veil of masculinity over a mess'.
29 October 2016
Maravilhemo-nos com o extraordinário poder de síntese do Capelão Magistral ("Já vão longe os tempos de São João Paulo II, Ronald Reagan e Margaret Thatcher, três grandes estadistas"), capaz de, em poucas palavras, juntar quem só pode estar junto e de, ao mesmo tempo, atribuir, com todo o rigor, ao Kinky Wojtyla, o estatuto de chefe de estado de uma monarquia absoluta e teocrática na qual, como apenas na Arábia Saudita, as mulheres não têm qualquer direito de voto
Vida e obra de alguns dos ilustríssimos presentes, ontem, no lançamento do livro do Dom enfarinhado 44:
La Potiche;
André Figueiredo.
"Sócrates é o pior da política portuguesa e que possa continuar a fazer política pelos intervalos da chuva mostra bem como existe uma degradação da vida política e como isso é indiferente aos partidos, neste caso a começar pelo PS. (...) Sócrates é o exemplo vivo de alguém que mostra todos os dias como os partidos políticos são mais sensíveis à dissidência e ao delito de opinião do que a reiteradas 'más práticas', isto para usar um eufemismo" (JPP)
28 October 2016
Eis uma excelente oportunidade para quando, por exemplo, o padreco de serviço citar a Epístola aos Efésios 5:22-24 ("Mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido, como ao Senhor, pois o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, que é o seu corpo, do qual ele é o Salvador. Assim como a igreja está sujeita a Cristo, também as mulheres estejam em tudo sujeitas a seus maridos"), o tradutor gesticular:
"Oh Bondage! Up Yours!"
... Braga, so much to answer for...
Este, o outro e o Relvas deviam ir ao lançamento do livro do enfarinhado 44 e constituirem um poderoso lobby de deslicenciados inflexíveis
Se, em nome do filho do Panthera, não se matarem antes, irão "descobrir" o túmulo de ficção de uma personagem de ficção
Como já se sabe, é Farinho do mesmo saco, mas a grande questão é: o Dom já distribuiu o guito para fazer esgotar a edição?
27 October 2016
Rembrandt - The Anatomy Lesson of Dr. Nicolaes Tulp (1632)
Mark Stoermer - "Blood and Guts (The Anatomy Lesson)"
O descobridor de vikings na Finlândia numa interpretação de um tema de Burt Bacharach carinhosamente dedicado ao recluso nº 44
26 October 2016
SUZANNE MCCULLERS
"Tom’s Diner" já foi suficientemente festejada como uma das canções de Suzanne Vega que não apenas milhões dão por si a trautear involuntariamente mas também uma das mais sampladas e objecto de versões. Desde o “golpe” dos DNA, em 1990, que a fez trepar bem acima de onde – em matéria de glória nas tabelas de vendas – o original de Vega tinha chegado, de Billy Bragg aos R.E.M., Public Enemy ou Timbaland, a música que celebrava o mesmo "diner" onde Seinfeld & Cº se encontravam para filosofar sobre o nada já passou por inúmeras mãos. Até as do criador do mp3, Karlheinz Brandenburg, que a utilizou para a realização de testes destinados a comprovar a viabilidade da compressão sonora relativamente à voz humana. Não lhe fazia, por isso, falta nenhuma que, no ano passado, Giorgio Moroder a tivesse escolhido para o álbum Déjà Vu, numa interpretação de... Britney Spears. Suzanne, contudo, aplaudiu a ideia (“I’m a big Donna Summer fan”) embora contasse com uma revisão mais radical.
De facto, deixar de ser encarada para a eternidade exclusivamente como a criadora de "Luka" e "Tom’s Diner" não tem sido tarefa simples. É verdade que a discografia não será abundante – nove álbuns de originais de 1985 até agora – mas em nenhum momento seria justo dizer-se que Vega se acomodou à sombra dos sucessos passados e se satisfez em oferecer mais do mesmo. Há dois anos, poucos terão reparado na excelente colecção de canções de Tales From The Realm Of The Queen Of Pentacles mas seria de desejar que o mesmo não voltasse a repetir-se com Lover, Beloved: Songs From An Evening With Carson McCullers. É preciso fazer a história recuar até aos anos em que Suzanne Vega estudava Literatura Inglesa no Barnard College de Nova Iorque e, para um projecto académico, tropeçou numa biografia (e, posteriormente, na obra) da escritora Carson McCullers). A personalidade trágica, bissexual, alcoólica, política e socialmente activa de uma escritora no Sul dos EUA dos anos 40 e 50 ganharia a forma de peça de teatro musical que, só há quatro anos, Vega levaria à cena em forma de "one-woman show". As canções – escritas a meias com Duncan Sheik, num registo que oscila entre o cabaret jazzy, o impressionismo satieano e o dramatismo de Brel –, em particular, "12 Mortal Men", "Lover, Beloved" e a venenosa "Harper Lee", entram instantaneamente para o cânone.
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O Pedrito tem, sem dúvida, perfil de líder: depois do Relvas (tendo o Moreirinha, como outras eminências anteriores, decidido que a vida dele não era isto), só mesmo o Big Mac (outra vez)!
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25 October 2016
Pussy Riot - "Straight Outta Vagina"
(feat. Desi Mo & Leikeli47)
"Pussy Riot celebrate the vagina in lyrical riposte to Trump"
Does your vagina have a brand?
Let your vagina start a band
If your vagina lands in prison
Then the world is gonna listen
My vagina is tough and dangerous
Shaking up the major labels
Vagina gonna take the stage
Cuz vagina’s got a lot to say
Don’t play stupid
Don’t play dumb
Vagina’s where you’re really from
(Where you from?)
(Where you from?)
Vagina gonna win the race
Vagina gonna play in space
Vagina gonna top the charts
Vaginas fill your shopping carts
Vaginas in the art museum
And people buying tickets just to see ‘em
Put your pussy on a diet
Then paparazzi gonna start a riot
Don’t play stupid...
V.A.G.I.N.A.
We got pussy for days
Back up, pussy don’t play
First they come and then they stay
You gon’ always gonna find it when you need it
You gone’ always come back and repeat it
Oh, cuz you know where home is
Go down like you know what dome is
Woah now man I’m losin focus
Va jay jay on hocus pocus
Don’t act like you don’t notice
Girls run it like U.S. Open
Throw a fit right now (right now)
Put up a fist right now (right now)
Cuz you the shit right now (right now)
Probably acting like a bitch right now
Don’t play stupid...
My pussy my pussy
Is sweet just like a cookie
It goes to work
It makes the beats
It’s CEO, no rookie
From senator to bookie
We run this shit, go lookie
You can turn any page, any race, any age
From Russia to the states
We tearing up the place
I rip shit like Sinead O’Connor
I wear my vag as a badge of honor
I take pride in the way we rise
One love to Maya Angelou, the 8th world wonder
How we do it all sometimes I wonder
I could play nice so I can bring that thunder
So sad I gotta end right here
But this vagina gotta go make them numbers
Don’t play stupid...
Does your vagina have a brand?
Let your vagina start a band
If your vagina lands in prison
Then the world is gonna listen
My vagina is tough and dangerous
Shaking up the major labels
Vagina gonna take the stage
Cuz vagina’s got a lot to say
Don’t play stupid
Don’t play dumb
Vagina’s where you’re really from
(Where you from?)
(Where you from?)
Vagina gonna win the race
Vagina gonna play in space
Vagina gonna top the charts
Vaginas fill your shopping carts
Vaginas in the art museum
And people buying tickets just to see ‘em
Put your pussy on a diet
Then paparazzi gonna start a riot
Don’t play stupid...
V.A.G.I.N.A.
We got pussy for days
Back up, pussy don’t play
First they come and then they stay
You gon’ always gonna find it when you need it
You gone’ always come back and repeat it
Oh, cuz you know where home is
Go down like you know what dome is
Woah now man I’m losin focus
Va jay jay on hocus pocus
Don’t act like you don’t notice
Girls run it like U.S. Open
Throw a fit right now (right now)
Put up a fist right now (right now)
Cuz you the shit right now (right now)
Probably acting like a bitch right now
Don’t play stupid...
My pussy my pussy
Is sweet just like a cookie
It goes to work
It makes the beats
It’s CEO, no rookie
From senator to bookie
We run this shit, go lookie
You can turn any page, any race, any age
From Russia to the states
We tearing up the place
I rip shit like Sinead O’Connor
I wear my vag as a badge of honor
I take pride in the way we rise
One love to Maya Angelou, the 8th world wonder
How we do it all sometimes I wonder
I could play nice so I can bring that thunder
So sad I gotta end right here
But this vagina gotta go make them numbers
Don’t play stupid...
24 October 2016
MEDALHAR O EVERESTE
Leonard Cohen conta que, numa das vezes que se encontrou com Bob Dylan, este confidenciou que um famoso "songwriter" lhe terá dito “Bob, tu és o número um, mas o número dois sou eu”. Cohen sorriu e Dylan continuou: “Na minha opinião, Leonard, tu és o número um. Eu sou o número zero”. O que, segundo a interpretação de Cohen, significaria que Dylan – ainda que manifestando grande admiração pela obra dele – se considerava fora desse tipo de competições e para além de qualquer escala de avaliação. Isto é, a questão desde há uma semana intensamente debatida deveria, afinal, ser outra: ganhar o Nobel seria coisa que Bob Dylan merecia que lhe fizessem? O prémio não é flor que se cheire e uma rápida vista de olhos à lista de vencedores, desde 1901, basta para nos darmos conta da generosa lista de inexistências literárias que foi acolhendo, em contraponto com a outra, não menor, de excluídos infinitamente mais importantes.
Na verdade, a história da relação de Dylan com os prémios que lhe foram sendo atribuídos não é exactamente pacífica. Entre ausências, discursos de aceitação monossilábicos e comparências inteiramente silenciosas, deve recordar-se, em 1963, a cerimónia de recepção do Tom Paine Award entregue pelo Emergency Civil Liberties Committee, sobre a qual diria: “Do estrado, olhei para baixo e assustei-me. Todos tinham estado envolvidos com a esquerda, nos anos 30, e, agora, apoiavam a luta pelos direitos cívicos. Mas também usavam jóias e casacos de peles e era como se me dessem aquele prémio por um sentimento de culpa. Levantei-me para sair. Foram atrás de mim e agarraram-me. Disseram-me que tinha de o aceitar”. Ou a outra, na Universidade de Princeton, em 1970, quando lhe foi conferido um Doutoramento Honoris Causa em Música, que recorda na magnífica peça literária que é Chronicles: Volume One (2004): “Apanhado noutra armadilha. Estava a perder toda a credibilidade”. Bob Dylan seria, então, apenas Bob Dylan se, desta vez – ainda que juntando-se à pouco recomendável companhia de Jean-Paul Sartre –, recusasse o Nobel e viesse a público contradizer todos aqueles que defendem a correcção dos motivos para o ter ganhado (até ao momento em que este texto é escrito, não fez qualquer declaração sobre o asunto).
Porém, numa das poucas ocasiões em que se pronunciou aberta e longamente – a entrega do galardão MusiCares Person Of The Year pela National Academy of Recording Arts & Sciences, em Fevereiro de 2015 – fez questão de identificar os ombros sobre que se ergueu: “Vejo as minhas canções como ‘mystery plays' do género daquelas a que Shakespeare assistiu quando jovem; suponho que a origem do que faço poderá recuar até aí. Estavam nas margens e nas margens continuam, após uma caminhada por terrenos escarpados. (...) Aprendi a escrever escutando ‘folk songs’, tocando-as e cruzando-me com quem as cantava quando ninguém ainda o fazia. Durante três ou quatro anos, não fiz outra coisa. Cantava-as por todo o lado em clubes, bares, cafés, festivais, dormia com elas. Foram elas que me revelaram o código para tudo o que era justo”. Algo a que, nas Chronicles já havia acrescentado a veneração por Woody Guthrie, Rimbaud, os blues, Eliot, os clássicos do American Songbook (Berlin, Gershwin, Porter), os beats, o rock’n’roll, a Bíblia, e uma interminável lista de autores, de Tácito a Dante, Milton, Gogol, Dickens, Shelley, Poe, Tolstoi ou Leopardi. Tudo destinado a alimentar aquilo a que, um dia, chamaria “that wild mercury sound”.
Naturalmente, letras de canções (sem deixarem de ser matéria literária) são letras de canções e poesia é poesia. Mas, no caso de Dylan (como acontece também, de formas diversas, com Cohen, Brel, Buarque, Caetano) essa distinção começou a deixar de fazer sentido, pelo menos desde 1965, quando escreveu e gravou "Like A Rolling Stone". Num dos textos que acompanham a recente compilação The Cutting Edge, explica-se que foi por essa altura que Dylan abandonou a ideia de publicar um livro de poesia que começara a escrever no início dos anos 60 ao aperceber-se que uma canção poderia conter tantas ideias como um romance ou um poema. Na mesma época, numa entrevista com a realizadora e argumentista Nora Ephron (então jornalista do “New York Post”), esta perguntou-lhe se os textos dele sobreviveriam no papel, sem música. A resposta foi “Claro que sim. Mas eu não os leio. Prefiro cantá-los”. “Muito mais importantes do que entertenimento ligeiro”, as canções eram, para Dylan, “uma república diferente, uma república libertada” e, enquanto, ingenuamente, o mundo continuava a classificá-las como rock (ou folk rock) o que os ouvidos iam escutando eram, sim, os sucessivos capítulos da mítica “Great American Novel”.
Porque a escrita de Dylan – por muito que resista sem perdas à redução à página escrita – nasceu inexoravelmente enlaçada com a música e a articulação e respiração da voz (e, muito em particular, daquela voz), é nessa exacta medida que deverá ser apreciada: enquanto "storytelling" torrencial, ruído eléctrico, dilúvios de imagens e metáforas testando os limites da linguagem, trazendo à superfície a dimensão propriamente sonora e musical do texto poético e recuperando uma antiquíssima relação entre ambos. Ou, então, como escreveu na “New Yorker” Philip Gourevitch (com mais graça do o havia feito a porta-voz do comité Nobel), “terá sido um enorme erro supor que os textos do influente 'singer-songwriter' e executante de lira cego, Homero, eram literatura”. E, mesmo que a distinção entre “alta” e “baixa” cultura já tenha apresentado sinais vitais em melhor estado, vale a pena referir que, até hoje, caução académica não lhe escasseou: entre inúmeros estudos e ensaios, The Oxford Book of American Poetry (2006), The Cambridge Companion to Bob Dylan (2009), The Norton Introduction to Literature (2005) ou The Princeton Encyclopedia of Poetry and Poetics (2012) incluiram e abordaram a sua obra.
Francamente mais esclarededores serão, enfim, detalhes como o que Alex B. Long, professor de Direito na Universidade do Tennessee, em The Freewheelin’ Judiciary: A Bob Dylan Anthology (2012), revela: desde há muito, Bob Dylan é o autor mais citado em pareceres jurídicos nos EUA. Acrescentem-se a isso os 100 episódios do programa de rádio, Theme Time Radio Hour que, entre 2006 e 2009, Dylan manteve na XM Satellite Radio (mais de 10 000 gravações e 140 000 ficheiros digitais organizados tematicamente num compreensivo panorama da história, literatura e música da América) ou aquela eloquente sequência de No Direction Home (2005), de Scorsese, na qual, Dylan, de modo exuberantemente livre, a partir dos anúncios de serviços da montra de uma "pet shop", improvisa (e dança sobre) uma colagem delirante de palavras e frases que vai disparando num desalinhado puzzle de surrealismo "live" em andamento acelerado. Bruce Springsteen não poderia ter sido mais certeiro quando, em Born To Run – a recém-publicada autobiografia – escreveu: “Dylan é o pai do meu país. Highway 61 Revisited e Bringing It All Back Home foram não apenas grandes discos mas também a primeira vez que me recordo ter sido colocado perante uma visão autêntica do lugar onde vivia. O véu de illusão e engano tinha sido rasgado, as trevas e a luz estavam ali. Com a bota esmagou os bons modos ridículos e a rotina diária que ocultava a corrupção e a decadência. O mundo que ele descrevia estava bem à vista na minha pequena cidade e alastrava à televisão que emitia para as nossas casas isoladas, mas passava sem comentários e era tolerado em silêncio”. Mas, uma vez mais, terá cabido a Leonard Cohen o julgamento definitivo: “Atribuir o Nobel a Bob Dylan é como medalhar o Evereste por ser a montanha mais alta”.
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23 October 2016
"Salvo para o próprio e para meia-dúzia de alucinados que tanto acreditam no fulano como podiam ser prosélitos de uma seita sul-coreana de adoradores da lua em quarto minguante, Sócrates está politicamente morto e passou a interessar (a interessar-nos, reconheçamos todos) pelo mesmo motivo pelo qual a mulher barbuda era a atracção principal das feiras de saltimbancos. (...) Nada disto dá para um Feios, Porcos e Maus à portuguesa porque falta a esta gente até a densidade para darem bons filhos da puta. Tudo somado, quando a poeira assentar, teremos o enredo para um Duarte & Companhia de badamecos de terceira apanha. A questão essencial é todavia outra. O gozo, a verrina, o enxovalho que dirigimos a Sócrates está bem e é higiénico. Diz de nós que mantemos sanidade e sentido comum. Mas e os outros? Aqueles que o acompanharam e que por aí continuam. Os Galambas, os Pedros Silvas Pereiras, os Costas, os apaniguados, os compagnons de route. Os que beberam do fino. Eram cegos, não viam, eram burros, não entendiam, eram oportunistas, não queriam ver? Como podemos continuar a tolerar e a conviver com esta gente?" (daqui)
22 October 2016
"O legislador desenhou um Modelo de Pessoa, do que cada um, aliás, do que todos nós devemos ser. O Ideal a atingir está traçado – agora, é a Pessoa Saudável, mas já foi muitas outras coisas – e os comportamentos desviantes ao Padrão devem ser sinalizados e a mensagem feita passar de forma clara: não deves ser assim. Proíbe-se de fumar em frente às crianças porque isso é um 'mau exemplo'. Obriga-se os fumadores a irem para um cantinho fumar para que percebam, de uma vez por todas, que a sua ação, apesar de lícita, é condenável. Em poucas palavras: estigmatiza-se os que não correspondem ao Modelo" (aqui)
21 October 2016
VINTAGE (CCCXXIII)
Cat Power - "Stuck Inside of Mobile With The Memphis Blues Again" (Bob Dylan)
"Anyway, then we went downstairs and he was like, 'I want to show you what I want you to wear'. When he opened the little dressing room, it was all Bob Dylan T-shirts. 'I just want you to wear this. I’m going to rip it a little'. I was like, 'No way'. He’s like, 'You look great. Just leave your hair up'. He took about six Polaroids, 8x10. I was sick. I’d just gotten back from Mexico. I had some toxin in my blood. On the seventh shot, he had cut my shirt. He said, 'Keep pulling it up — just like it’s a towel or something'. And that’s the picture. My stomach was hurting so bad because I wasn’t eating and was just manic. My jeans were unbuttoned and unzipped the whole time, but when he told me to take the shirt off to snip it, that picture happened. The first pubic hairs ever to be published in The New Yorker. My grandmother shit a brick" (aqui + reler aqui)
20 October 2016
19 October 2016
Maurice Ravel - Piano Concerto in G Major (Martha Argerich, Orchestre de la Scala, dir. Ricardo Chailly)
APROPRIAÇÃO CULTURAL
Debussy - "Pagodes" (Martha Argerich)
Nas páginas do “Guardian”, nas últimas semanas, tem sido tema constante. Tudo começou, pela notícia da intervenção da escritora Lionel Shriver, numa conferência em Brisbane, na qual contava a história de dois estudantes do Bowdoin College, no Maine, EUA, que, no início deste ano, organizaram uma festa temática de aniversário para um amigo. Sendo a tequila o tema, distribuiram "sombreros" pelos convidados. Mal as fotos da festa surgiram nas redes sociais, desencadeou-se uma tempestade na universidade: acusados de “estereotipificação étnica”, os “culpados” foram expulsos das instalações que ocupavam e a associação de estudantes exigiu que fossem tomadas medidas que impedissem novos e pérfidos actos de “apropriação cultural”. Pouco depois, foi a notícia de uma empresa canadiana produtora de um gin aromatizado com plantas silvestres do norte do país, obrigada a pedir desculpa ao povo Inuit (anteriormente designado como “esquimó”, o que viria a ser considerado insultuoso) por causa de um video publicitário de animação onde apareciam bonecos Inuit, canoas, cantos tradicionais, igloos e ursos polares. O pecado? “Apropriação cultural”. Logo a seguir, chegou a vez da Disney, forçada a acto de contrição por, no filme (ainda por estrear) Moana, se ter atrevido a representar personagens, trajes e adereços nativos da Polinésia.
Django Reinhardt - "Blues"
Acerca de tão iníquas profanações identitárias – proibido seria ainda que um escritor abordasse temas e contextos exteriores ao seu género, etnia, orientação sexual –, Shriver afirmara: “Ser membro de um grupo não é uma identidade. Ser asiático, gay, deficiente ou pobre não é uma identidade. (...) Se abraçarmos identidades de grupo estreitas, encerramo-nos nas próprias jaulas em que nos querem aprisionar”. Mas poderia também ter acrescentado que, se pretender conduzir-se a denúncia da “apropriação cultural” às últimas consequências, irá ser necessário, por exemplo, eliminar uma imensa fatia da história da música ocidental: não serão as "mourisques" e "morris dances" uma ofensa à cultura árabe? Deveria Mozart ter-se permitido o “Rondo Alla Turca” e o francês Bizet ter composto a Carmen? Debussy tinha autorização para colher inspiração nos gamelãs de Java? E Duke Ellington errou gravemente ao incorporar Debussy e Ravel que, por sua vez, bebeu do jazz, género que o cigano franco-belga, Django Reinhardt, também praticava? E as intimidades de Philip Glass com a música indiana para não falar das inomináveis promiscuidades rock, blues e country? Muitas cabeças irão ter que rolar...
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18 October 2016
Um encontro, em Roma, há 15 anos,
com o Nobel da Literatura - 2016
com o Nobel da Literatura - 2016
"I wanted to write about Trump in the first person because I think it's more interesting to speculate on what people’s inner life might be. I had heard a theory that Trump’s interest in running for President was really kicked off at the 2011 White House Correspondent’s dinner when President Obama basically roasted him, so that’s where I started. And my own feeling was that it wasn’t really the job itself he wanted, but the thrill of running and winning, and that maybe it had all gotten out of hand and was a runaway train that he couldn’t stop" - Aimee Mann
"Can't You Tell?"
That bastard making fun of me in front of all my peers
Those people think I own this town, you’re stripping all my gears
Well guess what Mr. President,
I’ll be seeing you
In four years
Though on the campaign trail the papers paint me like a clown
Still all I see are crowds who want to fit me for a crown
I point out all my enemies just so my fans
Bring them down
Isn’t anybody going to stop me?
I don’t want this job
I don’t want this job, my god
Can’t you tell
I’m unwell
You try to pin me down but you don’t really try that hard
I throw out any shit I want and no one trumps that card
So dazzled and distracted by your fantasy
Of Hildegard
Isn’t anybody going to stop me?
I don’t want this job
I don’t want this job, my god
Can’t you tell
I’m unwell
You ask about my plan but baby my plan is to win
I wind up all the tops and watch the others keep the spin
You handing me grenades is just compelling me
To pull the pin
Isn’t anybody going to stop me?
I don’t want this job
I can’t do this job, my god
Can’t you tell
I’m unwell
(aqui)
"(...) En su Poética, el primer tratado de teoría de la literatura de la cultura occidental, Aristóteles define la poesía como una manifestación natural del hombre cuyo origen es la tendencia a imitar la naturaleza, ya que la mímesis es una actividad placentera. La poesía — explica el filósofo — es un 'canto' que nace de la 'improvisación'. Es decir: un arte verbal que se exterioriza de múltiples maneras. Su clasificación depende de tres cosas: los medios que usa el poeta, el objeto imitado y el modo (la forma) en la que se concreta (narración, enunciado o mediante personajes). Entre estos medios, escribe Aristóteles, estarían 'el ritmo, la palabra y la música'. Todos juntos o por separado. Las canciones de Dylan son construcciones rítmicas construidas con palabras y música. Desde la óptica aristotélica no cabe duda: son una forma de poesía. Que puedan leerse sin música no las hace más literarias. Tampoco lo son menos por el hecho de que sean interpretadas con voz e instrumentos. Estos aspectos formales afectan a su tipología, no a su naturaleza (...)".
17 October 2016
15 October 2016
"If I had to choose my favorite Bob Dylan song, it would probably be 'Just Like Tom Thumb’s Blues'. That’s the one that begins, 'When you’re lost in the rain in Juarez / And it’s Eastertime too'. It conjures up a Touch of Evil', Roberto Bolaño sort of situation, with a dark tourist urban legend embedded in one verse: 'Sweet Melinda / The peasants call her the goddess of gloom / She speaks good English / And she invites you up into her room / And you’re so kind / And careful not to go to her too soon / And she takes your voice / And leaves you howling at the moon'. I don’t know why I love the tune so much. Possibly because I’ve traveled to places that, in retrospect, I feel lucky to have gotten out of alive. But the song is more than a cautionary ballad about a corrupt, social-disease-ridden border town. It describes a state of mind. I never once taught at a summer writers’ conference without becoming obsessed with a line from that song, about someone named Angel, just arrived from the coast, 'Who looked so fine at first / But left looking just like a ghost'. I’d hear it the way Dylan sang it, with a full stop after each word: Just. Like. A. Ghost! And then I’d look at my pale face in the mirror. (aqui)
14 October 2016
Estava a ver que os militantes da santa causa "qualquer coisinha de português" (LVI) nunca mais davam com isto... mas era fatal como o destino
13 October 2016
"From zoot suits to Mexrrissey: LA's Latino youth subcultures get their respect" (Vincent Price Art Museum)
O Marcelo das meiguices deve ter deixado de ouvir o Dylan aí por volta de 1969 - mas isso não interessa nada que o que importa é promover o Guterres-qualquer-coisinha-de-português (LV)
Se há coisa em que os governos do PS nunca desiludem é na educação: é sempre a descer (não que os outros sejam muito melhores...)
11 October 2016
"A strange, animatronic Donald Trump fortune telling machine has been popping up all over New York. No one seemed to know who made it or where it would appear next. We found the Zoltar-like machine outside of the News Corp. building and spoke with the group behind the art project that has everyone in the city talking. 'Basically the concept is that Trump foretells a very dark future where he has become president', the artists said. 'And of course he's very happy about it, but the rest of us... not so much'" (aqui)
UM “L” A MENOS
Tenho de confessar: foi por uma unha negra que, neste texto, o título do "box-set"" de Momus não apareceu como Public Intellectual. E devo-o ao facto de, na recensão que a “PopMatters” lhe dedicou, Brice Ezell, no penúltimo parágrafo, ter contado que, também ele, só muito depois de o ter escutado, se apercebeu de que aquilo que se lia na lombada da caixa era, na realidade, Pubic Intellectual: An Anthology, 1986-2016. Com um “l” subrepticiamente a menos, que faz toda a diferença e que, googlando rapidamente, se descobre ter conduzido ao engano um razoável número de vítimas inocentes. Inocente é que Momus/Nicholas Currie não terá sido: a armadilha lançada para capturar todos os que estavam prontos a medalhá-lo na qualidade de figura eminente da "intelligentsia" pop (declaro-me culpado) não é muito diferente das inúmeras e elaboradíssimas outras que foi semeando ao longo de trinta anos.
E que, nas "liner notes" com que faz acompanhar cada uma das 57 canções dos três CD, vai revelando – por exemplo, a propósito de "Lucky Like St. Sebastian": “Quando, em 1984, fui viver para Londres, pintei o meu quarto em Streatham de verde e amarelo e pendurei nas paredes reproduções de quadros da National Gallery onde – juntamente com o British Museum – passava bastante tempo. No autocarro 159 para o centro de Londres, reflecti sobre um ensaio de Kierkegaard (em Ou-Ou/Um Fragmento de Vida), ‘A Rotação das Colheitas’: nele, ‘A’, o esteta, afirma que o tédio é a raiz de todos os males. E cita a frase de Juvenal na qual este diz que as massas apenas desejam panis et circenses, pão e circo, diversão. Gostei da forma como ‘panis’ soava a ‘penis’ e comecei a pensar num álbum sobre pão e circo, o uso do entretenimento popular para pacificar e aplacar as massas”. O tosco preconceito anti-intelectual britânico carimbou-o para sempre: “too clever for his own good”. Nada que o impedisse de, até hoje, permanecer tal como se apresentou: “What's a laugh? The sound of common-sense falling apart. What's common-sense? A million unthinking hearts at the end of the working day. And who am I? Call me the barman standing, waiting for the workers to drink their work away, I'm the man who serves the laughter to the drunkards of disaster after they've got plastered on the news and I've got the situation comedy blues”.
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06 October 2016
"Gosto destes dias
sobremaneira serenos,
de onde se ausenta a incandescência feroz
do estio
sem que se manifeste ainda a desolação fria do Inverno.
A natureza parece alcançar um ponto de sublime quietude.
As próprias cidades ecoam um ruído
propício
a uma reflexão um pouco distanciada das banalidades
do dia-a-dia"
sobremaneira serenos,
de onde se ausenta a incandescência feroz
do estio
sem que se manifeste ainda a desolação fria do Inverno.
A natureza parece alcançar um ponto de sublime quietude.
As próprias cidades ecoam um ruído
propício
a uma reflexão um pouco distanciada das banalidades
do dia-a-dia"
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