A LUTA CONTINUA
Não é improvável que, empolgada pelo efeito-Deolinda, uma nova vaga de politólogos, sociólogos, hermeneutas, historiadores, exegetas, psicólogos e outros Professores Karamba, se lance, avidamente, sobre o crucial acontecimento político-cultural que foi a vitória dos Homens da Luta na relíquia televisiva anual conhecida como Festival RTP da Canção. Uma trupe revisteira de "clowns" mascarados de bonecos-do-PREC - o proleta, a ceifeira, o soldado, o pintas, a jovem-estudante-de-esquerda e o zecafonsodepunhoerguido - é uma caricatura que não só diz bem com o espírito do Carnaval como é pitéu demasiado tentador para se lhe conseguir resistir. Não esquecendo que o triunfo foi assegurado por esse feliz casamento entre democracia directa e negócio para as operadoras telefónicas que é o "voto popular" via-chamada para a RTP (factor decisivo responsável pela "viragem" do resultado final no sentido da "cause du peuple"), que os neo-Situacionistas de Parque Mayer anunciaram ir estar presentes na manifestação de dia 12, da "geração-Deolinda" ("tout comunique!", como diria a Mme Arpel), e que - detalhe nada menor - o Festival da Eurovisão onde "A Luta É Alegria" representará a lusa pátria terá lugar em Düsseldorf, a 5 de Maio, no quintal das traseiras da Angie Merkel.
Nada disso, porém, é mais importante do que um outro facto que era conveniente não passar despercebido: perante o desfile proverbialmente deprimente das doze canções a concurso, os dezoito júris - recheados até às guelras de "maestros", "professores de música", "músicos" e "directores de conservatório"... tão imensa (e democraticamente regionalizada) riqueza musical da pátria foi uma fulgurante revelação - manifestaram-se desmedidamente agradados face à magnífica exibição de talentos e derramaram elogios e piropos sobre os excelsos artistas. Que a ministra da Cultura e os seus colegas da Educação e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior prestem toda a atenção: por mais severa que seja a crise, cortar verbas e subsídios a estes sobreexcelentes músicos e pedagogos... NUNCA!
(2011)
16 comments:
Tem uns pozinhos de Village People.
( http://theartofmemory.blogspot.com/2011/02/rio-bravo.html )
"Tem uns pozinhos de Village People"
Tem, tem. E ficam-lhes muito bem.
Para que hei de eu ter uma TV, para quê?
Voltas a dizer isso e obrigo-te a pagar a taxa.
eu acho isto muito deprimente...
Leopardo, então?...
Agora os jovens têm de, no dia da Eurovisão, ir a Espanha, aproveitar para encher o depósito e fazer umas compras, e votar para que a canção vença o Festival. Não seria inédito, são os jovens que têm o telemóvel. Por causa disso, quando os Lordi venceram, a antiguidade Eládio ficou estarrecido e incrédulo.
Sempre será melhor do que postar sobre Kadhafi, e a sua relação com líderes mundiais ou caseiros, como se ele nada tivesse a ver com o “cidadão comum”, ou seja, connosco. (É engraçado que, para o luso, as coisas têm sempre a ver com os outros e não com ele: ele é o puro, o sabichão, o solucionista). Quando se poderia ter feito algo, como recusar a andar de carro ou de transportes públicos, ou a usar a eletricidade, porque o petróleo vem da Líbia, ou ir para lá combater com os jovens revolucionários e, em vez disso, opta-se por ficar em casa a escrever post. Bom Carnaval.
Como é que eu nunca tinha pensado nisso?
é tudo merda, lá vão uns tristes fazer umas fitas,jánão bastava um provinciano idiota ir pedir batatinhas agora temos a chicana à portuguesa em Berlim como se isso nos salvasse da desgraça porque alguém armado em chico esperto nos fez passar.
É só um polaroide-retro. Nada de grave.
João, lamento estragar-lhe o Carnaval, mas está linkado no Jugular.
João, lamento estragar-lhe o Carnaval, mas está linkado no Jugular.
É um nojo!
"João, lamento estragar-lhe o Carnaval, mas está linkado no Jugular"
:-)
Linque-me sempre que lhe apetecer (já comentei lá).
Não quero dar-lhe má fama (já basta a minha). Além disso temos uma galeria de maluquinhos de estimação.
Post a Comment