UMA GRANDE DESORDEM SOB OS CÉUS
Após um julgamento que durou nove dias, a 17 de Abril, Peter Sunde, Fredrik Neij, Gottfrid Svartholm e Carl Lundström, responsáveis pelo Pirate Bay – o maior site de download ilegal de ficheiros torrent – eram condenados por um tribunal de Estocolmo a pôr termo à sua actividade, a um ano de prisão e a pagar uma multa de cerca de 2 700 000 euros. Todos recorreram da pena aplicada e, um mês depois, o Pirate Party sueco (braço político do movimento a favor da liberalização completa do filesharing), conquistava 7.13% de votos e dois deputados nas eleições para o Parlamento Europeu. A 6 de Outubro, e na sequência de diversos contratempos e peripécias (só um exemplo: a 15 de Agosto, um uploader anónimo iniciou a partilha de um torrent contendo o índice integral do Pirate Bay), em local indeterminado, o site corsário estava, de novo, online. Entretanto, a 24 de Novembro passado, o Parlamento Europeu aprovou um pacote de medidas destinado a combater a pirataria na Web que prevê a possibilidade do corte, por parte dos fornecedores, do acesso à Internet de quem descarregue ilegalmente ficheiros, não especificando, porém, a quem caberá a decisão: se aos tribunais, se a uma entidade administrativa.
É bem possível que a indústria discográfica não concorde com a célebre afirmação de Mao Tsé Tung “Há uma grande desordem sob os céus, a situação é excelente”. Até porque – a menos que alguma solução milagrosa e inesperada surja –, até agora, cada tentativa de controlar as forças que se libertaram da caixa de Pandora da Internet foi sempre torneada por um agilíssimo jogo de cintura tecnológico que a todas anulou. Naturalmente, tudo isto terá consequências quanto aos recursos de que os músicos (e não apenas músicos: a partilha de ficheiros abrange livros, filmes, séries de televisão...) poderão dispor, numa conjuntura em que as editoras vêem os lucros a reduzir-se drasticamente. Sintomaticamente (ou não), porém, o que na pop parece acontecer é um período de laboração no interior de códigos mais ou menos clássicos, sem que nenhuma sublevação estética se anteveja: dos (admiráveis) neo-academismos de Sufjan Stevens, Grizzly Bear, St Vincent e Noah & The Whale, à folk redescoberta de Alela Diane e The Unthanks, aos segundos e terceiros fôlegos dos clássicos Dylan ou Springsteen ou às grandes operações industriais de reciclagem do passado e repackaging – de que a remasterização da discografia integral dos Beatles foi, este ano, o mais emblemático exemplo – tudo parece ter entrado num compasso de espera de duração imprevisível. A história da música, de certeza, não parou e o negócio discográfico precisa de tempo para inventar e amadurecer modelos viáveis de reconversão. Mas, por enquanto, tudo indica que, tão cedo, não vale a pena sonhar com estrondosas e fulgurantes rupturas e inovações que, de resto, a atmosfera global de pós(?)-crise também não parece favorecer.
(2010)
2 comments:
Dylan, ele mesmo, disse que não tinha problemas com os "downloads ilegais". O compasso de espera está disponível em todas as áreas profissionais. Ou nos espera a utópica anárquica, ou o autoritarismo do "pseudo-conhecimento".
A caixa de Pandora ainda é exclusividade de poucos. Quem tem a chave?
Utopia. Sorry.
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