O REGRESSO
Hoje, o segundo dia do "Oeiras Alive" não será tão ricamente preenchido como ontem – quando actuaram os Gogol Bordello (o delírio coisocigano em "overdrive"), The National (quase perfeição - a perfeição mesmo foi na Aula Magna) ou Vampire Weekend (óptimo concerto, som miserável) – mas, num programa em que figuram os Nouvelle Vague, a folia luso-balcânica da Kumpania Algazarra ou o kuduro dos Buraka Som Sistema, as atenções deverão concentrar-se sobre o (sempre imprevisível) momento em que Bob Dylan subirá ao palco. Veterano combatente da brigada grisalha que, este ano, se faz generosamente representar no Verão musical português (para além dele, virão também Lou Reed, Neil Young e Leonard Cohen), só nos seus anos de ouro da década de 60/início de 70 terá conhecido notoriedade idêntica aquela de que, agora, desfruta. Tudo começou verdadeiramente, há três anos, com a publicação do primeiro volume das suas Chronicles, uma evocação cronologicamente godardiana (isto é, com princípio, meio e fim, mas não necessariamente por essa ordem) e deliberadamente lacunar das três décadas que decorreram entre a sua chegada a Nova Iorque enquanto jovem “would-be” Woody Guthrie e a reentrada no número dos vivos, em 1989, com Oh Mercy. Seguir-se-iam o magnífico documentário de Martin Scorsese, No Direction Home, a reedição, em DVD, do outro, pioneiro, de D. A. Pennebaker, Dont Look Back, o álbum de fotos e memorabilia vária, The Bob Dylan Scrapbook 1956-1966, o ensaio essencial de Greil Marcus, Like A Rolling Stone – Bob Dylan at The Crossroads, o seu próprio e, novamente, excelente álbum, Modern Times e, para coroar a mais gloriosa ressurreição de um ícone da cultura pop americana, o puzzle audiovisual de Todd Haynes, I’m Not There. O Dylan-político parece também estar de regresso. Numa entrevista ao “Times” de 6 de Junho passado, declarou: “A América vive um período de convulsão. A pobreza é desesperante. Não podemos exigir que as pessoas exibam virtudes de pureza quando são pobres. Barack Obama procura redefinir a natureza da política, de alto a baixo. Tenho esperança que algumas coisas mudem. Porque só poderão mesmo ter de mudar”.
(2008)
8 comments:
Só falta a referência ao «Love and Theft» de 2001, que também é um óptimo álbum. Mas isto nem chega a ser um reparo, até pq eu venho aqui para aprender e não para ensinar...
Caro João
Não acredisto MESMO que consigas achar piada ao National. "Que cena pá!"
"Não acredisto MESMO que consigas achar piada ao National"
E não é que consigo?
Na revista do jornal de notícias dizia: "na sua primeira apresentação em Portugal". Quando estes olhos que a terra há-de comer já viram o Bob aqui pertinho da aldeia.
O Dylan é apenas um vendedor de banha da cobra para jovens "intelectuales" americanos em desespero de causas, que procuram uma voz, porque não sabem falar. Apoiar Oh!bama é tão modé para estes milionários em fim de vida.
"Na revista do jornal de notícias dizia: "na sua primeira apresentação em Portugal". Quando estes olhos que a terra há-de comer já viram o Bob aqui pertinho da aldeia"
Pelas minhas contas, é a 4ª (ou 5ª?)vinda dele cá.
"O Dylan é apenas um vendedor de banha da cobra para jovens "intelectuales" americanos em desespero de causas, que procuram uma voz, porque não sabem falar. Apoiar Oh!bama é tão modé para estes milionários em fim de vida"
Taxi, já no outro post aí em cima destilavas veneno aos "milionários" e ao "dinheiro". Tens de reavaliar esse ressentimento oh quão luso-católico... E porque é que o homem não há-de poder apoiar o Obama? Digo eu que, até agora, ainda não consegui realmente entender em que é que "o Obama" (como o Barnabé) é diferente dos outros.
«Taxi, já no outro post aí em cima destilavas veneno aos "milionários" e ao "dinheiro"»
Curiosa a semelhança. Tanto veneno destilado era, precisamente, a tarefa a que se dedicava aquele músico já entradote que ficou conhecido por publicar uns extraordinários discos de música fake nos anos 60, como «Bringing it all back home», «Highway 61 revisited», «Blonde on Blonde», etc, etc...
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