11 July 2008

IMAGINEMOS
(porque, hoje, este clip veio à conversa, apesar
de eu ter confundido os Vines com os Hives)




The Vines são uma banda australiana de pop/rock igual ao litro. Não fazem nada que, musicalmente, não tenha sido já realizado milhões de vezes antes deles, satisfazem-se plenamente com o encargo de banda sonora descartável para ócios "teen", dali não sai coisa que, mesmo sem necessidade de grande transcendência, se abeire do tornozelo do "angst" versão-Nirvana, da cantarolice facção-Beatles ou do electrochoque no tímpano tendência Mötörhead. São lisos, chatos e anónimos. Vão durar os proverbiais seis meses e vão passar à história. Quero dizer, não vão fazer História. Mas podia não ter sido assim. Bastava que o conceito que presidiu à realização do videoclip de "Ride" (o primeiro single retirado do último álbum, Winning Days) fosse a fiel tradução da música da banda: numa enorme sala tipo ginásio, após a aparição dos quatro canónicos elementos do grupo, como por milagre, o espaço vai-se enchendo de dezenas (muitas dezenas) de outros músicos tocando o mesmo line-up de instrumentos em simultâneo com os Vines originais. O que se continua a escutar, porém, é apenas a cançãozeca da treta interpretada pelos quatro músicos que "Ride" se limita a ser. Mas imaginemos que não era assim: os cem, duzentos guitarristas, baixistas e bateristas que se vêem na imagem tocavam mesmo! E, deliremos um pouco mais, tocavam todos músicas diferentes!!! Tanto a versão "moderada" — "wall of sound" de mega-banda com centenas de elementos a tocar "Ride" — como a versão "radical" — cacofonia terminal, muitos decibéis acima de pista de aeroporto —, seriam, decerto, francamente mais interessantes do que a popzinha anémica que, afinal, os moços australianos debitam. Mas não temos que nos espantar: há muito tempo que videoclips e respectivos realizadores (neste caso, Olivier e Michel Gondry) caminham esteticamente muitos passos à frente da maioria das bandas e músicos para quem trabalham. Para ficarmos somente por um registo de genialidade-pop, diga-se a evidência: é urgente e indispensável um Quentin Tarantino na música.

(2004)

1 comment:

menina alice said...

Era esse, era. E acho mesmo que o vi na lista lá daquela rapariga de Alcobaça ou Leiria ou lá o que é. Ou então a lista de clips era tão fixolas que eu acho esse lá deveria estar ou ter estado.