08 June 2008

HIPER REALISMO



Noites de bola em momento de transe patriótico, são belas oportunidades para ter uma sala de cinema praticamente em exclusivo para nós. E La Graine Et Le Mulet/O Segredo de um Cous Cous valeu por mil ronaldos. Sendo que o "ronaldo", evidentemente, está a caminho de substituir o € como unidade monetária com que se enche o depósito. Esse é, pelo menos, de certeza, o sonho húmido da camarilha governante que, em matéria de sonhos húmidos, é até onde consegue chegar.



Muito apropriadamente, este Couscous, mergulha de cabeça na famigerada "crise", nos despedimentos por "inadaptação ao posto de trabalho", nas "deslocalizações", nas comunidades emigrantes. Mas, tão ou mais importante do que isso, é cinema. No interior do qual, Abdellatif Kechiche quase se pode afirmar que inventa o hiper realismo - dos grandes planos sobre os rostos, dos movimentos de câmara que perseguem em turbilhão a sobreposição dos diálogos em espaços exíguos, do esticar até ao limite do tolerável - sem chegar a pisar o risco - a duração em real time dos diálogos e das sequências (mesmo quando em montagem alternada). Azar o da comunidade tunisina emigrante em Sète, não ter os bolsos cheios de "ronaldos" para poder olhar a crise de cima do cavalo...



(2008)

1 comment:

Anonymous said...

Vem a meus braços, irmão, por partilhares da minha profunda admiração por tão magistral objecto cinematográfico!

E como está D. Diogo?