03 April 2008

ELDER STATESMEN



R.E.M. - In Time (The Best Of R.E.M. 1988-2003)




R.E.M. - In View (The Best Of R.E.M. 1988-2003)

No cada vez mais irrelevante "New Musical Express", houve quem sugerisse que, parafraseando "Losing My Religion", esta compilação se deveria ter chamado Losing My Direction. Ainda que se tenha tratado de um lapso decorrente de alguma sessão de autocrítica editorial, Stephen Dalton perdeu uma excelente oportunidade de poupar o teclado. Porque, no que aos R.E.M. diz respeito, é difícil encontrar outra banda (eventualmente os U2 e, mesmo aí...) que, tendo alcançado o patamar superior da projecção mediática (e, sem problemas de maior, tendo-o abandonado quase logo a seguir), tenha prosseguido tão linearmente a sua evolução sem cedências nem compromissos embaraçosos. É um caso típico de snobeira pacóvia perante o sucesso comercial a que, convém sublinhar, TODAS as bandas aspiram: podem ser musicalmente nulas e esteticamente derivativas mas, enquanto tiverem contrato com uma editora obscura e venderem duzentos exemplares, mantêm a "credibilidade indie"; assim que assinam com uma "major" e assomam aos tops, pactuaram irremediavelmente com o grande Satã e o caminho só pode ser a descer. Que não é necessariamente assim provam-no sobejamente In Time e In View, CD e DVD "best of" dos anos-Warner dos R.E.M., que exemplarmente documentam os derradeiros passos até ao êxito planetário de "Losing My Religion" e "Everybody Hurts" (e como seria óptimo que os tops pudessem estar sempre recheados de canções assim!) e toda a posterior e elegantíssima descida (?) do grupo até ao actual estatuto de "elder statesmen" do alt.rock que lhes assenta como uma luva.



Ou, como diria Michael Stipe, não-rock, não-folk, não-country, não-experimental, mas um pouco de tudo isso em simultâneo. Entre música e imagens — combinação de que o magnífico clip para o inédito "Bad Day" é demonstração exemplar —, daria jeito inventariar quantas bandas actuais ("indie" e "whatever") serão capazes de exibir um reportório tão rico e inventivo. Quem não desejaria ter assinado "At My Most Beautiful", "Man On The Moon", "Electrolite", "Imitation Of Life", "All The Way To Reno", "E-Bow The Letter" ou "What's The Frequency Kenneth?", poder ter-lhes acrescentado (em edição limitada) um CD bónus de inéditos, lados B e versões alternativas e sair-se com pleno êxito do empreendimento? Quem não rasgava imediatamente o contrato em papel de embrulho com a "indie" de vão de escada para poder oferecer uma tão excelente e visualmente estimulante colecção de 25 videoclips (incluindo, aí também, raridades e inéditos) como In View? Os R.E.M. desejaram-no, fizeram-no, ninguém perdeu com isso e todos ganharam. Pudessem muitos gabar-se do mesmo. (2003)

2 comments:

Anonymous said...

O assunto que me traz aqui hoje não são os R.E.M. (ok, gosto imenso, embora não tanto desde o «new adventures in hi-fi»), mas sei, pela consulta que fiz ao blog «coisas do arco da velha», que desejava obter uma cópia em condições do filme «As lágrimas do tigre negro». Não sei se já a conseguiu, mas eu adquiri o filme (em dvd) na Fnac (será que é o mesmo? o realizador é Wisit Sasanatieng), e caso queira, diga-me só como lhe faço chegar uma cópia em perfeitas condições. (via Espresso, ao seu cuidado, talvez?

João Lisboa said...

Obrigado, Rui. Mas o Manuel-do-arco-da-velha já tratou de me enviar um pacotão gigante com o tigre e mais uma infinidade de coisas que nem sequer me passavam pela cabeça.

De qualquer modo, obrigado outra vez.