01 January 2008

O ANO EM QUE A INDÚSTRIA MORREU



Exactamente há doze meses, o texto de balanço de 2006 intitulava-se “O Ano da Rendição” e sublinhava a importância do aparecimento da SpiralFrog – que havia, então, assinado contrato com a Vivendi Universal (a maior multinacional do negócio discográfico) com o objectivo de, a partir de Dezembro do ano passado, colocar disponíveis para “download” gratuito nos EUA e Canadá todos os conteúdos musicais de que esta detinha os direitos –, no que teria de ser a drástica mudança do modus operandi tradicional da indústria discográfica e, em particular, a sua forma de lidar com os números avassaladores da partilha ilegal de ficheiros musicais online. Como, nessa altura, aí se escrevia “não é ainda certo que o empreendimento tenha êxito (...) e que os responsáveis pelos 20 mil milhões de ficheiros ilegais descarregados em 2005 (...) estejam muito virados para abandonar velhos hábitos”. De facto, o início de operações do SpiralFrog apenas aconteceu a 17 de Setembro último, as primeiras avaliações não foram unanimemente positivas mas, pior do que isso, a realidade, menos de um mês depois, a 10 de Outubro, encarregou-se de dar outro gigantesco salto em frente: a publicação ao preço de “você paga o que quiser” de In Rainbows, dos Radiohead.



Vão perdoar-me mas, desta vez, terei de tomar de empréstimo o título do “Times” de 7 de Outubro, “The day the music industry died”. E, tal como a conhecemos, morreu indiscutivelmente, ao fim do oitavo ano consecutivo de vertiginosa quebra de vendas. Isso mesmo, implicitamente, o admitiu John Kennedy, “chairman" do IFPI (International Federation of the Phonographic Industry): “Esperávamos que o declínio nas vendas de CD físicos fosse compensado pelas vendas digitais. Mas, apesar destas terem crescido, a queda dos CD foi muito maior do que imaginávamos, o que se agravou ainda mais em 2007. Especialmente, nos EUA e também no Reino Unido que, até agora, tinha resistido a esta tendência”. Como será, então, a “nova indústria”? Música gravada totalmente gratuita e encarada como mero material de promoção para concertos, “merchandising” diverso e subsistindo apenas um nicho de edições físicas “especiais”, para coleccionadores? O modelo-Prince (vendeu o seu último, Planet Earth, ao “Mail On Sunday” – tiragem de dois milhões de cópias semanais – que o distribuiu gratuitamente na edição de 24 de Julho)? A proposta de Rick Rubin de pagamento de uma mensalidade acessível – ele apontava para os 20 dólares - que daria acesso, em todos os suportes, a toda a música disponível? A hipótese de uma “flat-rate” aplicável aos utilizadores da Internet, telemóveis, leitores digitais e CD virgens? A solução Amiestreet segundo a qual todos os ficheiros de música começam por ser gratuitos e vão subindo de preço à medida que o número dos seus “downloads” aumenta? Nenhuma destas? Uma só coisa é certa: nada voltará a ser como dantes. (2008)

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