03 July 2007

A CANTORA, A CANÇÃO



June Tabor - Always

Já redigi mais declarações de rendição incondicional à voz de June Tabor do que muito bom devoto muçulmano em relação a Alá. Já expliquei inúmeras vezes quanto a experiência de a escutar — no interior da tradição folk, cantando Jobim, Thompson, Reed ou Costello, reanimando o espírito medieval ou chegando-se a Kurt Weill — é o género de circunstância que nos ensina como aquilo a que habitualmente chamamos "silêncio" não é senão uma variedade de "ruído". Já terei repetido até ao vómito que nunca ter prestado atenção a June Tabor é uma das raras atitudes que deverão ser consideradas como "pecado" (na justa acepção etimológica de "falhar o alvo").

Por isso, deixem que passe a palavra a Ken Hunt no excelente texto do "booklet" desta preciosíssima caixa de quatro CD que sintetiza a discografia de Tabor e, no total, lhe acrescenta cerca de 50% de inéditos: "[June Tabor] possui uma voz que desata os habituais nós críticos e culturais que aprisionam a besta chamada Folk. No fundo, a música folk, tal como a religião, tem vivido amarrada por idealismos, literalismos, pronunciamentos de heresia e querelas de propriedade desde o Iluminismo até à era Industrial e aos Tempos Modernos. Como os melhores dos seus camaradas e companheiros de viagem no género, a obra de June e a fluidez da sua abordagem criaram um corpo artístico com 'A' maiúsculo. Mas, depois de tudo ter sido dito, feito e cantado, ela é a personificação da cantora e da canção.

Naturalmente, ela é essencialmente encarada como 'folksinger', 'folk revivalist' ou qualquer outra designação que inclua 'folk' porque desde há muito actua em contextos de música acústica e porque, na maioria dos casos, a expressão 'folk' presta-se a ser tudo aquilo que cada um quiser que ela seja. Contudo, antes de mais, June Tabor é uma extraordinária contadora de histórias. Por muito que ela afirme que é o amor pela poesia mais do que os velhos contos que a motivam, a sua combinação de música e significado é única. Como Always evidencia, ela explorou repetidamente áreas muito distantes daquelas onde é habitualmente 'arrumada'. Mais ainda, demonstra como ela regularmente transformou em novo — e 'novo' como só ela é capaz de fazer — aquilo que parecia por demais familiar"
. Directamente para a arca dos tesouros. (2005)

2 comments:

Anonymous said...

Cadê os links para download?

João Lisboa said...

Aqui não há links para download, Marcos. Sorry.