31 May 2019

12 comments:

Daniel Ferreira said...

O PAN não argumenta correctamente em muitas situações, o que não significa necessariamente que não tenha razão, mas nisto sofre do problema da maioria dos amigos dos animais: transmitir a mensagem correcta da forma errada (é por isso que eu, amigo dos animais, há muito que deixei de fazer voluntariado). Já os autores do texto do Observador argumentam de forma patética e não têm razão em quase nada, pelo que a questão da credibilidade nem se põe. Gerir o ensino superior como um aviário dá nisto. E a falta de vergonha também.

Quando muito, concordo com a opinião em relação às terapias alternativas. Ainda assim, acreditar que o charlatanismo não abunda na medicina convencional é, por definição, o cúmulo da distracção. Ou, se preferir, da ignorância.

João Lisboa said...

"não têm razão em quase nada"

Por exemplo?

"acreditar que o charlatanismo não abunda na medicina convencional é, por definição, o cúmulo da distracção. Ou, se preferir, da ignorância"

Primeiro, não existe tal coisa como a "medicina convencional". Há apenas medicina. Ponto. Depois, uma coisa é "haver charlatanismo" - dizer que "abunda" já é abuso -, outra é "ser" charlatanismo e apenas charlatanismo.

Táxi Pluvioso said...

"faturando votos numa geração de pessoas preocupadas mas que ignoram ou negam a ciência que lhes mostra o caminho" ahahahah, muito bom. A fé na Ciência é tão enternecedora como a fé no Altíssimo.

João Lisboa said...

Nem pense que vou explicar pela milionésima vez por que motivo falar de "fé na ciência" é um disparate do tamanho do Godzilla.

Daniel Ferreira said...

«Por exemplo?»

A bem da brevidade (estou a ser irónico) irei restringir-me a este parágrafo, cheio de afirmações estapafúrdias:

«Na realidade a agricultura biológica não demonstrou ser melhor para a saúde, não demonstrou produzir alimentos mais nutritivos e apresenta-se pior para o ambiente segundo a última meta-análise de 2017, pela simples razão de precisar de mais terra para produzir a mesma quantidade de alimentos (entre 25% a 110%) e levar a maior eutrofização dos ecossistemas circundantes [...]»

A engenharia agrónoma é uma área multidisciplinar, vastíssima, complexa, que exige uma aprendizagem contínua e uma vida de aperfeiçoamento. Por seu lado, a agricultura biológica recorre a um vasto arsenal de conhecimento que exige competências acrescidas. Os autores, não percebendo nada de agricultura e optando pela estratégia dos jornalistas de ciência e divulgadores, optaram pelo cherry picking (coisa que qualquer pessoa poderia ter feito para refutar tudo o que foi afirmado no artigo, o que nos levaria a um impasse). Isto, só por si, é o atestado da sua incompetência científica.

Um estudo não se torna correcto nem as suas conclusões verdadeiras só porque foi publicado, principalmente no mundo do «publish or perish» e quando a fraude na investigação se tornou um problema endémico (a este propósito: https://www.cracked.com/article_20789_6-shocking-studies-that-prove-science-totally-broken.html e http://retractionwatch.com). Além disso, qualquer estudo publicado está sujeito a confirmações, mas também a refutações.

Para dar o exemplo que me pediu, vou pegar apenas num pequeníssimo pormenor do tal parágrafo (evito assim escrever várias páginas sobre o assunto). É dito: «pela simples razão de precisar de mais terra para produzir a mesma quantidade de alimentos (entre 25% a 110%)». A meta-análise diz «We found that organic systems require 25%–110% more land use (p < 0.001; n ¼ 37) […]». Qual é o problema? É que a meta-análise refere-se à amostra utilizada no estudo, enquanto que os artistas do Observador fornecem este dado como sendo universal. Acontece que qualquer pessoa com os conhecimentos mais rudimentares de agricultura biológica sabe que a taxa de ocupação do solo em relação à agricultura convencional pode até ser negativa. E arrisco a dizer que uma taxa de ocupação de 110 % pode bem ser provocada mais por incompetência do agricultor do que por uma real necessidade.

Também sugiro a leitura da seguinte crítica à meta-análise, que vai de encontro à minha opinião relativa a outra questão abordada: http://www.thomasbackhaus.eu/a-comparison-between-organic-and-conventional-agriculture-youre-missing-the-point/

Depois disto, prometo que não torno a fazer comentários aos seus posts nos próximos 10 anos :)

«Primeiro, não existe tal coisa como a "medicina convencional". Há apenas medicina. Ponto.»

Concordo.

«dizer que "abunda" já é abuso»

Nada disso. Apenas vivo num universo paralelo onde a medicina é exercida de uma forma muito peculiar.

João Lisboa said...

Ok. Não tenho arcaboiço - não faço sequer parte das "pessoas com os conhecimentos mais rudimentares de agricultura biológica" - para concordar ou discordar dos seus comentários relativos aos exemplos.

"Apenas vivo num universo paralelo onde a medicina é exercida de uma forma muito peculiar"

Fiquei na mesma...

Táxi Pluvioso said...

Não lhe chamemos “fé na ciência”, de facto repugna, chamemos-lhe uma “forte crença na ciência”.
Mobilization
Science
Religion
Domination
Communication
Teleportation

https://www.youtube.com/watch?v=jOFzTjjZcZw

João Lisboa said...

Fé = crença. Try again.

Daniel Ferreira said...

«Fiquei na mesma...»

Quis dizer que temos experiências diferentes enquanto utentes dos serviços de saúde.

E, provavelmente, a nossa opinião sobre a Medicina e a Farmácia também divergirá bastante.

João Lisboa said...

Não digo que seja impossível mas as experiências poderão ser assim tão, tão diferentes?

"a Medicina e a Farmácia"

Não são territórios puros e imaculados - existirão alguns? - mas é o melhor que temos. É como aquela frase do Churchill sobre a democracia...

kataklismo said...

Eu vivo num universo em que o SNS me manteve vivo durante 5 anos através de diálise gratuita e me fez um transplante renal igualmente gratuito, enquanto que o senhor Pedro Choy me fez gastar uma pequena fortuna em sessões terapêuticas e agulhas para, sem o mínimo sucesso, me suavizar as insónias.

João Lisboa said...

Não será perfeito mas é indispensável. O SNS, não o Choy.