29 April 2017

Ó Chiquinho vai lá ler o gudebuque com atenção...
vhm, a audição convicta, a sarapitola, Strauss, a ausência de pontos de interrogação e o chazinho *

A presidente do clube de fãs de vhm provoca-o para um chazinho

"(...) Interromperem-nos a audição convicta de uma música é da ordem da intromissão íntima, parece que somos apanhados a acariciar-nos (...)"

"(...) Abri a janela, ela também, baixei o som e perguntei: que foi agora. E ela respondeu, também perguntando: isso é Strauss. Eu disse: sim. Ela disse: vá a um médico. Você está deprimido. Um homem com essa barba bonita devia ter mais felicidade na vida. Estou muito habituado a que senhoras da minha idade me provoquem para um chá ou um cinema. Que mo façam com Verdi e Strauss é menos comum (...)" (valter hugo mãe no "JL" de 15 a 28/4/2017)

* reparar na persistência do tema "chazinho"
Livrarias muito especiais (JPP)

26 April 2017

 
... como se o assunto não estivesse já resolvido...
L'OSSERVATORE ROMANO (XLI)

Olha... converti-me!

Ó minha santa!...
"When you have people who don’t know much about science, standing in denial of it, and rising to power, that is a recipe for the complete dismantling of our informed democracy"
 
Sleaford Mods - "B.H.S."

Gnod - "Real Man"

24 - Em antecipação do formidável festival
da superstição
   
The Great Fatima Swindle
(patrocinado pelo CEO da Vaticano S.A. e 
acolitado por meliantes vários)

O Carlitos insiste nas subtilezas semânticas para boi dormir ("visão"/"aparição") mas fiquemos-lhe eternamente gratos pela revelação da tirada do Pio XI (quase à altura da do colega Leão X): “Se a Nossa Senhora tem coisas a dizer, porque não me diz a mim?”

25 April 2017

"Take On Me" 
(A-ha - North Korean Style)

Accordeon players from Kum Song School

"Numa época de Trump, pós-verdade, a ciência está ameaçada de muitas maneiras e esta é mais uma. Não podemos dar-nos ao luxo de ser contemplativos com os factos alternativos das terapias homónimas" (David Marçal + reler aqui e aqui)
CICLONE 


“1000 Days, 1000 Songs” – uma por cada dia útil do mandato presidencial de Donald Trump, caso ele chegue ao fim – constitui o desenvolvimento natural de “30 Days, 30 Songs”, primeiro site/movimento musical organizado de protesto anti-Trump surgido durante o último mês da campanha eleitoral, e agora, após a consumação do desastre, inevitavelmente ampliado. Ultrapassada a primeira centena, há, no entanto, uma tendência (quase inexistente entre Outubro e Novembro passados) que parece acentuar-se: a promessa de incluir “original tracks, unreleased live versions, remixes, covers, and previously released but relevant songs” tem vindo a ser afunilada, concentrando-se exclusivamente nas “previously released but relevant”. Um compêndio da canção politicamente activa (de Nina Simone a Sly & The Family Stone, Hüsker Dü, Temptations, John Coltrane, Odetta, Ani Di Franco, John Lennon, Public Enemy, Rolling Stones, Chi-Lites, Buffalo Springfield, Woody Guthrie, Springsteen e dezenas de outros) é sempre bem-vindo e educativo mas, assim apresentado, deixa a pairar a inquietante ideia de que, na actualidade, não existiria descendência. 



A verdade, porém é que, só nos primeiros três meses deste ano, poderiam ter sido extraídas belíssimas contribuições de The Navigator (Alynda Segarra/Hurray For The Riff Raff), de English Tapas (Sleaford Mods), e "They're Killing Children Over There", dos Magnetic Fields, também ficaria muito bem no retrato. Mas, para lá da menor dúvida, apenas o título de Just Say No To The Psycho Right-Wing Capitalist Fascist Industrial Death Machine – dificilmente alguma vez se exterminaram tantas ervas daninhas de um só golpe... –, dos Gnod, seria mais do que suficiente para funcionar como manifesto, programa e bandeira. Não apontando, obviamente, para Trump como único alvo, haverá que louvar incondicionalmente a largueza de vistas da banda de Salford/Manchester: secar o caldo de cultura onde germinam todos os agentes patogénicos contemporâneos é medida higiénica da máxima urgência; fazê-lo no interior de um gigantesco caldeirão de lava sonora incandescente alimentado por uma trupe de psiconautas com um ciclone no lugar do cérebro e “Don’t wanna be a cog in the machine, I wanna be a stick in the wheel” como palavra de ordem é empreendimento infinitamente mais entusiasmante e de dimensão incomparavelmente superior.

24 April 2017

Aimee Mann - The making of
 "Mental Illness"




 
 
 
 
 

"(...) Olhemos para Le Pen e o seu partido, que não é uma força marginal na França, mas o mais importante partido de extrema-direita da Europa. E eu não uso a expressão extrema-direita sem pensar que se trata mesmo de extrema-direita. Marine Le Pen foi às urnas em França com um apoio que pareceria impossível e bizarro, mas que retrata bem os dias políticos de hoje: Trump e Putin. Putin recebeu-a com honras no Kremlin, e Trump apoia-a nos seus tweets. Os dois têm muita coisa em comum, pensam muita coisa da mesma maneira e, mesmo que não possam materializar essa comunidade de pensamento tanto como queriam, principalmente Trump, não deixam de ser em muitas coisas 'irmãos em armas'. E, uma das coisas que os une, é exactamente Marine Le Pen de que ambos são apoiantes sem disfarce (...)" (JPP)

22 April 2017





Claro que será praticamente impossível fazer compreender ao ex-"sit-down comedian" dos beijinhos e das meiguices que a bola, desde há muito, não é um desporto mas apenas negócio, indústria (do espectáculo) e parque de diversões para - de alto a baixo - puríssima bandidagem analfabeta 

23 - Em antecipação do formidável festival
da superstição
   
The Great Fatima Swindle
(patrocinado pelo CEO da Vaticano S.A. e 
acolitado por meliantes vários)

A Drª mana Angelita, logo no primeiro parágrafo, explica como os fedelhos não passavam de uns desavergonhados oferecidos ao primeiro badalhoco que os desafiasse
Ou como (evocando o trafulha do Freud) a literatura lusa continua fixada na fase oral (III)


"À semelhança do que acontece em Rodrigues dos Santos, as mamas grandes são a matéria, a substância e o assunto do corpus literário de Miguel Sousa Tavares (aliás Sousa Tavares tem muito de Rodrigues dos Santos e vice versa). De certo modo, ao elevá-las à altura de uma doutrina, as mamas grandes tornaram-se um símbolo constitutivo da escrita do autor de Não Te Deixarei Morrer, David Crockett e são hoje uma marca pessoalíssima da sua obra. Na verdade, as palavras e os pensamentos de Sousa Tavares costumam ir dar às mamas, único terreno onde as suas ideias se costumam mover com algum à vontade" (João Pedro George, "As mamas na literatura portuguesa", número de Primavera-2017 da revista "Ler" - série iniciada aqui)
"An antique carved ivory ladies’ companion" é uma óptima designação

(reler aqui e, sob outro ângulo também actualíssimo, aqui)
A propósito da hipótese de eleições primárias no PSD, Rui Nunes (médico, professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto) declara ao "Expresso": 

"Esta ideia é como um vírus. Não é possivel estancá-la"

Ficamos, pois, a saber que: 

1) Estamos lixados: todo o esforço da ciência médica contra as doenças provocadas por vírus é em vão; 

2) Isso poderá dever-se ao facto de, vá lá entender-se porquê, alguns médicos suporem que os vírus são líquidos.

21 April 2017

Ou como (evocando o trafulha do Freud) a literatura lusa continua fixada na fase oral (II)


"Na última década, José Rodrigues dos Santos tornou-se um dos mais famosos corifeus desta corrente estética. A título exemplificativo, leia-se n'O Anjo Branco a cena em que somos apresentados à rodesiana Nicole e aos seus 'seios desproporcionadamente grandes adornados por mamilos largos e rosados'; ou O Sétimo Selo, quando Igor se dirige a Cummings e pergunta: 'E as mamas? São grandes? Hã? São grandes?'. Depois, em O Códex 632, que é como que a matriz de toda a produção literária deste autor, na cena em que Lena insinua 'uns seios atrevidos e generosos, com um volume que a cintura estreita mais acentuava', Rodrigues dos Santos aproveita para demonstrar que as regras consentem sempre uma ou duas excepções. Veja-se o folgazão Tomás Noronha (um doido varrido por mulheres), que 'sempre ouvira dizer que as mulheres de seios grandes não eram particularmente boas na cama; mas, se isso era verdade, Lena constituia certamente a grande excepção' (o que faz de Mariana, em Alma de Pássaro, de Margarida Rebelo Pinto, a regra: 'tinha umas boas mamas mas não era grande coisa na cama')". (João Pedro George, "As mamas na literatura portuguesa", número de Primavera-2017 da revista "Ler" - série iniciada aqui)
... mas, no "newspeak" tão moderninho quanto possível da Vaticano S.A., afinal, como já se suspeitava, os putos andavam a dar no estramónio e tiveram uma "visão imaginativa" (diz o Carlitos, convenientemente despachado para Roma)
22 - Em antecipação do formidável festival
da superstição
   
The Great Fatima Swindle
(patrocinado pelo CEO da Vaticano S.A. e 
acolitado por meliantes vários)

aqui se revela o extraordinário milagre da lei da gravidade inofensiva, mais impressionante ainda do que aquele que anulou os temíveis poderes do óleo Fula e que o outro do famigerado pioderma

20 April 2017


Ou como (evocando o trafulha do Freud) a literatura lusa continua fixada na fase oral (I)

La Toilette de Venus - William Bouguerau (1873)

Que ninguém ouse duvidar: haverá, inevitavelmente, um AM e um DM (antes das mamas e depois das mamas) na história da literatura portuguesa! Para sempre o deveremos às 33 páginas do enciclopédico ensaio "As mamas na literatura portuguesa", publicado por João Pedro George, no número da Primavera-2017 da revista "Ler". Tão erudita investigação sobre a dimensão eminentemente glandular da escrita dos nossos maiores vultos não poderia aqui passar despercebida. Inicia-se, pois, uma série na qual, por assim dizer, se dará o devido relevo a alguns dos mais saborosos nacos. Da prosa de JPG.

"Quem leu Camões, Eça de Queirós, Mário de Sá-Carneiro, David Mourão-Ferreira, Baptista-Bastos, Maria João Lopo de Carvalho, Nuno Júdice ou Margarida Rebelo Pinto, entre outros, não terá por certo deixado de notar a abundância e variedade de mamas. Os personagens dos romances de Miguel Sousa Tavares, por exemplo, são propensos a ver mamas em toda a parte, vivem dominados pelo desejo de mamas, parecem não ter outra ideia, outro objectivo que não seja a busca de um genuíno par de mamas. (...) A este mesmo grupo pertence o fabuloso criador de O Códex 632, de A Fórmula de Deus e de tantos outros livros em que as descrições das mamas, combinando a sugestão freudiana e o estilo proustiano, são da maior importância para a compreensão e interpretação do pensamento literário de José Rodrigues dos Santos".
The Magnetic Fields - "Have You Seen It in the Snow"


Nem é preciso perder muito tempo. Está contada a história todinha, aqui, em 60 posts (os últimos já bastante "après la lettre"), quase minuto a minuto (e nada disso colide - muito pelo contrário - com o que aqui se escreve)
"(...) a sensibilização para as vacinas deve ser enquadrada também à luz da avalanche legislativa que nos últimos anos tem contribuído em Portugal para credibilizar os terapeutas alternativos, que atrás das portas dos seus consultórios vendem impunemente mentiras acerca das vacinas e 'vacinas alternativas'. O primeiro decreto-lei, assinado em 2003 pelo primeiro-ministro Durão Barroso, enquadra legalmente as terapias alternativas e obriga, na prática, à sua regulamentação. Seguiu-se, com algum atraso e após uma decisão de tribunal, a publicação de um conjunto de portarias delirantes que definem as terapias alternativas como 'abordagens holísticas, energéticas e naturais do ser humano', falam em 'desarmonias energéticas', 'redes de meridianos' e outras coisas que não significam nada. No entanto, prevêem que estes terapeutas mágicos sejam credenciados e possam pendurar nas paredes dos seus consultórios respeitáveis cédulas profissionais emitidas pela administração central do sistema de saúde. Um outro conjunto de portarias alucinogénicas governamentais, de 2014, definiu os conteúdos programáticos para as licenciaturas em terapias alternativas, que contemplam coisas como a auricoloterapia (a ideia de que o pavilhão auricular é uma espécie de boneca vudu em que a cada pontinho corresponde a um órgão ou a uma parte do corpo) e a iridologia (a mesma coisa, mas com olhos). Toda esta legislação que contribui para dar indevidamente crédito a quem aconselha a não vacinar deveria ser imediatamente revogada (...)" (D. Marçal)

19 April 2017

Gnod - "People"

NEUROCIÊNCIA

  
No último mês da campanha para a presidência norte-americana, Aimee Mann, contribuiu com uma canção peculiar para o site independente “30 Days 30 Songs”, ponto de encontro dos “musicians for a Trump-free America” (actualmente convertido em “1000 Days 1000 Songs”, segundo o Washington Post, “a playlist of songs that Donald Trump will hate”): numa demonstração exemplar do seu “sense of irony made of real iron”, "Can’t You Tell?" apresentava um Trump que, falando na primeira pessoa, confessava que apenas se candidatara pela emoção da vitória e para se vingar da humilhação que sofrera às mãos de Barack Obama, em 2011, no jantar de correspondentes da Casa Branca. Mas que, apavorado perante a possibilidade cada vez mais concreta de vir a ser presidente, terminava, suplicando: “Isn’t anybody going to stop me? I don’t want this job, my god, can’t you tell I’m unwell?” 



“Unwell” é também o mínimo que poderá dizer-se do estado de espírito da maioria das personagens que, desde 1985, com os ‘Til Tuesday, e, a partir de 1993, a solo, habitam as canções de Mann. Muito em particular em álbuns como Bachelor No. 2 (2000), Lost in Space (2002), The Forgotten Arm (2005), @#%&*! Smilers (2008), e, acima de todas, nas que escreveu para a perfeitíssima banda sonora de um dos mais devastadores filmes de sempre – Magnolia, de Paul Thomas Anderson (1999) –, cujo argumento foi, aliás, inspirado nelas. Razão pela qual não seria, de todo, um disparate supor que um título como Mental Illness designaria uma compilação/"best of" de Aimee. Afinal, é tão só o seu nono registo de estúdio que, em modo sarcástico, assume o rótulo “depressivo” que lhe foi colado mas não desiste de investigar e inventariar aquilo de que, já há 50 anos, em The Ghost In The Machine, Arthur Koestler suspeitava: fundamentalmente disfuncional, do cérebro da criatura humana pouco há a esperar senão a trágica repetição dos mesmos erros. Nas palavras e melodias de uma suprema classicista pop, isto deverá ler-se “Here we go again, it's obvious, here we go again, we've just become our worst mistakes, the rattles off two rattlesnakes, the antidote that no one takes, so here we go again”. Ou, nitidamente, já no fim da linha, “Philly thinks, and when he thinks he can't feel anymore, Philly drinks, and when he drinks, all the drunks hit the floor”.

17 April 2017

Arena - Brian Eno - Another Green World (real. Nicola Roberts, 2010)


"Quando a vida humana, ante quem a olhava, jazia miseravelmente por terra, oprimida por uma pesada religião, cuja cabeça, mostrando-se do alto dos céus, ameaçava os mortais com seu horrível aspecto, quem primeiro ousou levantar contra ela os olhos e resistir-lhe foi um grego [Epicuro], um grego que nem a fama dos deuses, nem os raios, nem o céu com seu ruído ameaçador, puderam dominar; antes mais lhe excitaram a coragem de espírito e o levaram a desejar ser o primeiro que forçasse as bem fechadas portas da natureza. Mas triunfou para além das flamejantes muralhas do mundo, percorreu com o pensamento e o espírito, o todo imenso, para voltar vitorioso e ensinar-nos o que não pode nascer e, finalmente, o poder limitado que tem cada coisa, e as leis que existem e o termo que firme e alto se nos apresenta. E assim, a religião é por sua vez derrubada e calcada aos pés, e a nós a vitória nos eleva até os céus. Temo, porém, que por acaso julgues que penetras em elementos ímpios de doutrina e te metes pela senda do crime. Pelo contrário: na maior parte das vezes foi exatamente a religião que produziu feitos criminosos e ímpios" (Lucrécio, De Rerum Natura)
Michael Chapman - "Falling From Grace"

15 April 2017

Cambada de mariquinhas!... Peregrino que é peregrino sofre, sangra e baba-se até à insolação final (durante a qual vai, de certeza, ver o solzinho a dançar)!!!... não há cá paneleirices de "Ai doem-me tanto as bolhas nos pezinhos... estou mesmo a precisar é de apoio psicológico, massagens e podologia"...
"(...) Na verdade, um homem como Trump não está nunca do 'lado certo', porque o seu único lado é a sua voz interior dentro da cabeça e, juro-vos, que é a última voz que desejaria ouvir. Infelizmente o mundo todo agora tem de a ouvir (...)" (JPP)
HAVERÁ NOTÍCIAS BOAS?


Quando, a 13 de Outubro passado, a Academia Sueca atribuiu a Bob Dylan o Nobel da literatura, foi necessário esperar quinze dias até que ele emitisse sinais de que tinha tido conhecimento da distinção e que, sim, estava disposto a aceitá-la (“Na verdade, algumas das minhas canções – 'Blind Willie McTell,' 'The Ballad of Hollis Brown,' 'Joey,' 'A Hard Rain,' 'Hurricane' e mais algumas – possuem, definitivamente, um valor Homérico”). E, se não lhe fosse muito incómodo, passaria por Estocolmo, a 10 de Dezembro, para o receber. Aconteceu, no entanto, que, por isto e por aquilo, acabou por não lhe dar jeito e, em seu lugar, enviou emissárias: Patti Smith (que meteu os pés pelas mãos em "A Hard Rain’s A-Gonna Fall") e Azita Raji, embaixadora dos EUA na Suécia, encarregada de ler o discurso de aceitação no qual, declarando-se “presente em espírito”, primeiro, confessava nunca ter sonhado que tal prémio poderia alguma vez ser-lhe entregue e, depois, estabelecia a comparação com Shakespeare que, como ele, em nenhum momento terá parado para se perguntar “se o que fazia era literatura”



Por essa altura, o poeta planetariamente homenageado (e vilipendiado) tinha acabado de publicar, sucessivamente, dois álbuns sem uma única sílaba sua mas integralmente dedicados à interpretação de clássicos do Great American Songbook: Shadows In The Night (2015) e Fallen Angels (2016). Poderia (ingenuamente) supor-se que, pós-Nobel, o supremo Zimmerman contemplaria a hipótese de legitimar os galões académicos, oferecendo ao mundo nova e indiscutível prova da sua excelência literária. Afinal, aquilo que nos caiu no regaço, na véspera do dia das mentiras – altura em que, por fim, aproveitando a circunstância de o concerto agendado para o Stockholm Waterfront Congress Centre lhe ficar em caminho, deu um pulinho a uma cerimónia privada, com a presença de doze membros da Academia, em que lhe foram entregues medalha e diploma (o cheque de 891 000 dólares só o recebe depois de dar uma palestra até Junho) – foi Triplicate, terceiro, quarto e quinto volumes da série iniciada com Shadows In The Night.



Bastava pensar um pouco: alguém imaginaria seriamente que Robert Allen Zimmerman - aliás, Bob Dylan, Elston Gunn, Tedham Porterhouse, Blind Boy Grunt, Robert Milkwood Thomas, Lucky Wilbury, Boo Wilbury, Sergei Petrov, Jack Frost e (em Pat Garrett & Billy the Kid)... Alias - aos 75 anos, deixaria de fazer exactamente aquilo que lhe apetecesse, quando lhe apetecesse e como lhe apetecesse? Tinha, além de mais, um óptimo pretexto: de modo muito semelhante ao que sucedera com o seu Self Portrait (1969) – quase unanimemente esquartejado pela crítica –, em 1980, Frank Sinatra (intérprete da maioria das canções de Shadows In The Night, Fallen Angels e Triplicate) publicara Trilogy: Past Present Future, que seria alvo de reivindicações de “retirada imediata do mercado” por parte de fãs desiludidos. Prestar-lhe-ia, pois, uma homenagem implícita: dividido em três painéis (´Till The Sun Goes Down”, “Devil Dolls” e “Comin’ Home Late”), Triplicate – explica Dylan, no seu site, em extensa entrevista a Bill Flanagan – “encena uma trajectória de vida que vai do tolamente absurdo ao profundamente sério, passando pelo ridículo e o grosseiro, e, chegando ao limite, interroga-se se não há notícias boas. Não deveria haver notícias boas?...”



Actuando como um prisma através do qual faz desfilar e ilumina o panteão do cancioneiro norte-americano, o mesmo Dylan que, em Love And Theft (publicado a 11 de Setembro de 2001), cantava “The future, for me, is already a thing of the past”, reestabelece elos quebrados (“Embora não parecesse, o rock’n’roll era uma extensão da música das big bands de swing que eu ouvia antes de descobrir Elvis Presley. Mas o rock era de alta energia, surgido das trevas, uma arma cromada perigosa que explodia à velocidade da luz”) e termina, pela mão de Kern e Hammerstein, perplexo: “What is the good of me by myself? Why was I born? Why am I living? What do I get? What am I giving? Why do I want a thing I daren't hope for? What can I hope for? I wish I knew”.

12 April 2017

“We cats didn’t invent the Internet to share it with this(daqui)
21 - Em antecipação do formidável festival
da superstição
   
The Great Fatima Swindle
(patrocinado pelo CEO da Vaticano S.A. e 
acolitado por meliantes vários)

travemos conhecimento com Ângela Coelho, médica, esposa do senhor e "postuladora 
da causa dos pastorinhos":


" - Como se define um milagre? É um acontecimento não explicável pela ciência? 

 - Sim, ou pelas leis da Natureza. 90% são casos médicos. Uma cura duradoura não explicável pela arte médica actual. 

 - Então um milagre no século XVI hoje não seria? 

 - Poderia não ser" ("Sábado" de 12.04.2017)

(1 - Angelita, se a Ordem dos Médicos ainda não te deu uns bons safanões por andares a falar sobre "curas não explicadas pela ciência ou pelas leis da Natureza" e em "arte médica" - é uma CIÊNCIA, moça! -, é porque tem ainda uma ou duas coisas a aprender com a Ordem dos Psicólogos; 
2 - Então anda aí o p.o.v.o. a derreter cera com santinhos do século XVI - e de antes e depois - que nem nas vossas maravilhosas provas de aptidão passam???!!!...)
The Magnetic Fields - "A Cat Called Dionysus"

Jesca Hoop (entrevista c/ FaceCulture)
 


... e um cheirinho de Zyklon B 
pelas ventas acima?...

PELO BURACO DA FECHADURA

  
O Chateau Marmont, no 8221 de Sunset Boulevard, em Los Angeles – projectado segundo o modelo do Château d’Amboise, residência real francesa no vale do Loire –, foi um edifício de apartamentos de luxo, convertido em hotel em 1931, devido à enorme improbabilidade de, durante a Grande Depressão, haver quem pudesse suportar as elevadíssimas rendas. Ao longo dos anos, porém, acabaria por ganhar o estatuto de Chelsea Hotel da West Coast: como que aceitando o conselho de Harry Cohn, presidente da Columbia Pictures (“If you must get in trouble, do it at the Chateau Marmont”), foi lá que James Dean se atirou de uma janela, Jim Morrison caíu do telhado, John Belushi sucumbiu a uma overdose, Scott Fitzgerald teve um ataque cardíaco, os Led Zeppelin passearam de Harley Davidson pelos corredores, e, aos pares ou em grupos mais liberalmente alargados, celebridades várias (Dennis Hopper, Nicholas Ray, Natalie Wood, Jean Harlow, Clark Gable, Erroll Flynn, Marlene Dietrich, Scarlett Johansson, Benicio del Toro...) travaram conhecimento bíblico. Exactamente o género de matéria-prima que um "peeping tom" profissional e erudito como Jarvis Cocker – também ele, ainda com os Pulp, hóspede do hotel, no quarto 29 – dificilmente deixaria escapar. 



Concebido como um ciclo de 16 canções a quatro mãos, com o pianista canadiano Chilly Gonzales, Room 29 (primeiro álbum da Deutsche Grammophon a ostentar o aviso "Parental Advisory: Explicit Content") inaugura praticamente o sub-género de banda sonora para um documentário imaginário: algures num registo entre Satie e Kurt Weill espevitado por Noël Coward, o ponto de partida é esclarecedor: tratando-se de “a comfortable venue for a nervous breakdown”, obviamente, a questão que se impõe é “is there anything sadder than a hotel room that hasn’t been fucked in?” Daí, decorre, com naturalidade, uma sucessão de instantâneos e observações sobre personagens anónimas (“You’re a tearjerker, you don’t need a girlfriend, you need a social worker”) ou nem por isso (‘Howard Hughes Under The Microscope’, dissecado, em conversa com Cocker, por David Thomson, autor do clássico ensaio The Big Screen) e hábitos de consumo peculiares (“We ordered ice-cream as main course, in a turban of silk, drinking chocolate with milk, with a shot of rum on the side, well of course”). Ou não fosse, afinal, um caso exemplar de, como ali, à beira de Hollywood, é obrigatório apresentar-se “life with the boring bits edited out”.

09 April 2017

Jarvis Cocker and Chilly Gonzales - "Tearjerker"

The Hollies - Butterfly

20 - Em antecipação do formidável festival
da superstição
   
The Great Fatima Swindle
(patrocinado pelo CEO da Vaticano S.A. e 
acolitado por meliantes vários)

pergunta-se: mas, se aquilo de que o p.o.v.o. gosta mesmo é de sofrer e esfolar os joelhos por amor à Fatinha, não será isto um desperdício?...

Woody Guthrie - "Deportee" 
(por Arlo Guthrie e Hoyt Axton)

06 April 2017

Judy Collins - Wildflowers

... como, numa saborosa leitura à hora do almoço, é possível descobrir que, sem nunca ter lido os clássicos da Antiguidade mas não vestindo camisola de nenhuma tribo, afinal, sempre se foi (com imenso proveito), simultaneamente, Cínico, Estóico, Epicurista e Céptico

"Do you believe in a countercultural existence that defies society's conventions? You are a Cynic. Or is life best when we dutifully play the hand that fate gives us, whatever it is, to the best of our abilities? In which case you are a Stoic. Or is the aim to remove the stress and anxiety that comes with society's false demands? You are an Epicurean. Or do you reject any kind of dogma whatsoever? In this case you are a Skeptic" (Battling The Gods: Atheism In The Ancient World - Tim Whitmarsh)