28 July 2016
27 July 2016
HOHI, HOHO, BANG, BANG
“Declaro que Tristan Tzara encontrou a palavra Dada no dia 8 de Fevereiro de 1916 às 6 horas da tarde; eu estava presente com os meus doze filhos quando Tzara pronunciou pela primeira vez essa palavra que desencadeou em nós um entusiasmo legítimo. Passou-se isso no Café Terrasse em Zurique, e eu trazia um brioche na narina esquerda. Estou convencido que esta palavra não tem nenhuma importância e que só imbecis ou professores espanhóis se interessam por datas”, garantia Hans Arp. Mas foi em Julho desse ano que Hugo Ball subiu ao palco do Cabaret Voltaire (perto do qual, vivia Lenine, alegado frequentador do clube), e leu o Manifesto Dada: “Dada guerra mundial sem fim, dada revolução sem princípio, amigos e auto-intitulados poetas, estimados cavalheiros, fabricantes e evangelistas. Dada Tzara, dada Huelsenbeck, dada m'dada, dada m'dada dada mhm, dada dera dada, dada Hue, dada Tza. (...) Como nos livrarmos de tudo o que fede a jornalês, a vermes, tudo o que é bonitinho e limpinho, preconceituoso, moralista, europeizado, debilitado? (...) A palavra, a palavra, a palavra fora do vosso domínio, da vossa pestilência, da vossa ridícula impotência, da vossa siderante auto-satisfação. A palavra, cavalheiros, é um assunto público de primeira importância”.
Exactamente a meio dos quatro anos de horror da guerra, Dada definia o seu lugar (“Dada permanece no quadro europeu das fraquezas, não deixa de ser merda também, mas, de agora em diante, desejamos cagar em cores diferentes para ornamentar o jardim zoológico da arte de todas as bandeiras dos consulados. Somos directores de circo e assobiamos por entre os ventos das feiras, conventos, bordéis, teatros, realidades, sentimentos, restaurantes, hohi, hoho, bang, bang”), fazia anti-teoria anti-política ("Poder-se-ia construir uma máquina de fazer política, com um veio excêntrico automodificável, e assim substituir com vantagem o centro governamental; sendo uma espécie de maquiavel automático, essa máquina cuidaria da vida pública de um país com uma precisão impressionante, proveria a todas as combinações necessárias à respectiva saúde e impediria a sua senilidade”) e, de caminho, inventava o mundo moderno nas colagens, "cut-ups", "readymades", fotomontagens, "assemblages" e "sound poetry". Identificando-o como primeiro elo da “história secreta do século XX” que desembocaria no punk, Greil Marcus escreveu: “Dada foi uma profecia mas não fazia nenhuma ideia do que profetizava e a sua força era não querer saber disso para nada”.
26 July 2016
25 July 2016
24 July 2016
O Marcelinho das meiguices já começa a repetir-se; mas, sendo verdade, por que espera para ir até Berlim e exigir que o Schäuble lhe engraxe os sapatos?
23 July 2016
Quando a ACL e eu pusemos termo ao diálogo na caixa de comentários deste post, faltava meia hora para nos ser oferecida nova matéria de reflexão (+ aqui)
22 July 2016
A pataratice neo-hippie (com molho de rocalhada arqueológica) no seu desgraçado melhor: "Somos um culto voodoo do norte da Suécia que idolatra tudo, desde Shiva a Odin"... não lhes bastando a tolice de uma superstição, papam-nas todas (mas a história do puto a desenhar a bandeira da Suécia é impagável)
"(...) Oh, a humanidade! Essa 'velha horrível', como lhe chamou Nietzsche, no momento em que, na Gaia Ciência, proclamava: 'Nós não somos humanitários' e 'não amamos a humanidade' (...)" (AG)
20 July 2016
Porquê? Porque, sendo obrigado a escolher entre carreiras profissionais idiotas, apesar de tudo - como explica o Capelão Magistral -, a oferta da Vaticano S.A. (no entanto, também às moscas) é francamente mais atraente
2016 - Prémio "Fluidos corporais"
E tudo valeu a pena se nos deu a possibilidade de ler a frase "Não se pode urinar na cara das pessoas num programa de televisão"
19 July 2016
TALHADO NA ROCHA
Mick Blake, "singer-songwriter" de Leitrim – na margem do “broad majestic Shannon”, como diria Shane MacGowan –, há dois anos, publicou no YouTube, "Oblivious", uma canção que, embora referindo-se muito especificamente à realidade irlandesa, se traduzida para português, nunca adivinharíamos que pudesse ter tido outra origem. Dedicada a “those suffering from blind allegiance or apathy”, é uma amável "folk ballad", a transbordar de amargura e revolta: “When they give all that you treasure away for a pittance, or banish your children to toil on a rich foreign shore, when they prey on the weakest and bow to the ones that have plenty, they know that you'll follow blindly as you did before (…) What will it take to make you angry? Where is the spark to light your flame? We've been sold out, taken in, yet blindly you do it all again, fuel that gravy train, oblivious, it's like we’re oblivious”. Já em 2012 – sempre exclusivamente via YouTube –, "Leitrim (A Brief History)" traçava uma arrepiante diagonal entre a Grande Fome de 1845/1852 (que dizimou um milhão de irlandeses e obrigou à emigração de outros tantos) e o tremendo colapso bancário de Setembro de 2008 (do qual a gravação das conversas entre administradores do Anglo Irish Bank, revelada pelo “Irish Independent”, poria um pacifista a sonhar com guilhotinas).
Christy Moore não estava desatento. Ele, “Irish national treasure” a comemorar 50 anos de carreira, fundador dos prodigiosos Planxty e Moving Hearts, orgulhoso autor de canções proibidas (por “subversivas”) na rádio e, em 2004, ao abrigo do Prevention of Terrorism Act, detido e interrogado pelo Special Branch britânico acerca dos textos que cantava, ele, Christy Moore, apadrinhou "Oblivious" e "Leitrim" e incluiu-as no seu reportório. A primeira surge, agora, em Lily, último álbum de Moore. E, transportada por aquela voz que se diria talhada na rocha de Benbulben, dificilmente se encontraria terapia mais poderosa contra a “blind allegiance” e a “apathy”. Algo que a intensa versão de "Wallflower", de Peter Gabriel (sobre os prisioneiros políticos), aprofunda e, com "The Ballad of Patrick Murphy", se converte em centro de gravidade de uma impressionante colecção de nove canções e uma assombração "spoken word" - "The Lost Tribe Of The Wicklow Mountains" – a partir de um poema de Dave Lordan.
... e, dois anos depois, regressa a "never ending story" dos brasões coloniais, sempre com aquele perfumezinho a violeta de velhas beatas...
Bloco de Esquerda (tendência fricolé) e PSD (tendência sou-de-direita-mas-bué-alternativo) unem-se na PUPK (Plataforma Unitária Professor Karamba)
18 July 2016
Melhorar o "visual" mas continuar a servir "junk food" por entre lojas de "souvenirs" xunga não adianta muito
17 July 2016
16 July 2016
O Capelão Magistral faz o elogio das óptimas saídas profissionais que a formação académica da companhia de Jesus oferece o que, reconheça-se, nos dias de hoje, não é nada de deitar fora
15 July 2016
14 July 2016
13 July 2016
12 July 2016
CZARINA
Os historiadores sérios são uns chatos. Incapazes de transigir perante a verdade dos factos, desmontam impiedosamente fantasias que nos alimentaram a imaginação durante anos. Imaginem o que é, por exemplo, ter acreditado piamente na existência das aldeias “à Potemkine” (verdadeiros cenários de teatro montados por Grigory Potemkine - governador da Crimeia e amante de Catarina, a Grande, da Rússia – para, à passagem da czarina por esse território recém-anexado mas ainda fracamente colonizado, a iludir acerca dessa falha) e descobrir que o estratagema das aldeias portáteis não foi senão um boato malicioso e injustamente exagerado? Não se faz. Neil Hannon, provavelmente, adepto da tese fordiana “When the legend becomes fact, print the legend”, pondo termo a seis anos de hiato discográfico, escolheu precisamente a lenda em torno da princesa alemã Sophie Friederike Auguste von Anhalt-Zerbst-Dornburg, aliás, Yekaterina Alekseyevna ou Catarina II, imperatriz da Rússia, como "teaser" (canção e videoclip "starring" Elina Löwensohn, originária da tribo cinematográfica de Hal Hartley) para Foreverland, o álbum dos Divine Comedy a publicar em Setembro.
E - assim se deseja e aplaude - o equilíbrio entre verdade e ficção é perfeito. Sob belíssima moldura orquestral-festivaleira, apresenta-nos a personagem: “Let's talk of Catherine the Great, let's talk of love and the power of the state, she was a crazy spontaneous girl, everyone paid homage to her”. Os académicos dificilmente concordarão com a qualificação de “crazy spontaneous” mas, embalados pela melodia que, entretanto, levantou voo, serão obrigados a render-se perante a rima de “brainier” com “Lithuania” (a propósito da relação com Stanislaw Poniatowski, outra das numerosas variáveis da sexualmente voraz Sophie Friederike, na resolução da equação “love vs power of the state”): “There were few brainier, just ask the king of Lithuania, she could dictate what went on anywhere, she had great hair, and a powerful gait, Catherine the Great”. O biógrafo está tão indisfarçavelmente apaixonado (“With her military might, she could defeat anyone that she liked, and she looked so bloody good on a horse, they couldn't wait for her to invade, if I could touch but the hem of her dress, tell her a joke, bake her a cake, Catherine the Great...”) que - adivinha-se -, em sonhos, se imagina nos braços da condessa Praskovya Aleksandrovna Bruce, "l'éprouveuse" dos candidatos ao leito imperial. E, sim, isto é verdade!
Nada disso, Tó! Agora, basta chegar lá e dizer que "não somos só cidadãos de primeira, mas somos 'tão bons ou melhores do que vocês'"
Chega a ser aflitivo como, até gente inteligente, é, leninhamente, incapaz, de compreender que um ponto de vista não é necessária, inevitável e exclusivamente "de direita" ou "de esquerda", do "regime" ou do "anti-regime"
11 July 2016
Para além de saloio, isto é um bocadinho repugnante, não é?
"Pedi-vos que se lembrassem dos portugueses que vivem cá dentro e dos que vivem lá fora e vocês lembraram-se sempre em todos os minutos. Lembraram-se do que podiam fazer pelo orgulho de ser português e os portugueses retribuíram: os que foram há 50 anos ou os de agora e que hoje entram nos empregos dizendo que não são só cidadãos de primeira, mas são 'tão bons ou melhores do que vocês'" (daqui)
10 July 2016
09 July 2016
"Une fin de carrière qui n’a rien d’étonnant quand on connaît l’homme, mais qui n’en reste pas moins choquante, GS étant l’une des banques les plus impliquées dans la crise des subprimes qui a débouché sur la crise financière de 2007, et dans la crise grecque, ayant aidé à dissimuler l’étendue de son déficit avant de spéculer, en 2009-2010, contre la dette grecque dont elle connaissait évidemment l’insoutenabilité… C’est, au pire moment, un symbole désastreux pour l’Union et une aubaine pour les europhobes, un président de Commission étant censé incarner, bien au-delà de son mandat, les valeurs européennes qui ne sont justement pas celles de la finance débridée qu’incarne Goldman Sachs: tous les anciens présidents de Commission, qui bénéficient d’une pension confortable censée les préserver de toute tentation, ont, jusque-là, su éviter un tel mélange des genres. Mais la morale et les convictions n’ont jamais étouffé cet ancien président des étudiants maoïste"
08 July 2016
E o marçano lá conseguiu o supermercado (ou outra história de sucesso de um pobre emigrante luso a fazer pela vidinha)
Mas como pode ter-me escapado este puríssimo exemplar de qualquer coisinha de português (LIV)?
(no domingo, o ex-"sit-down comedian" vai estar divididíssimo...)
"Sem grande rigor terminológico, chamemos jornalismo editorial a um género de discurso e a uma forma de configuração do espaço público mediático que se caracterizam pelo triunfo de um modo de entretenimento, quase exclusivamente assegurado pela classe político-mediática dos intelectuais politólogos e dos políticos anfíbios. É uma classe que compreende tanto os politólogos que ocupam as cátedras instituídas pelos media, como alguns politólogos de vocação e ciência que, uma vez cooptados, já não se distinguem dos seus pares elevados às cátedras profanas por competência na escrita subalterna, no crochet televisivo, no chatting radiofónico, ou nos três ao mesmo tempo. (...) São uma elite que encarna com entusiasmo aquilo a que alguns, equivocados, chamam 'opinião pública', e outros, com excesso de ambição e alguma ingenuidade, chamam 'dinamismo da sociedade civil'. (...) O jornalismo editorial, curto e conformista, é maioritariamente auto-referencial, o que significa que o seu eco-sistema é o espaço autónomo que ele próprio vai criando. É um sistema de vozes em conversa permanente umas com as outras" (AG)
PAREM AS MÁQUINAS!
Lenita Zhdanov, comentadora da bola!!!...
Edit: ... mas sem descurar a investigação etnológica que tanto aprecia
06 July 2016
As "novas regras" do CEO da Vaticano S.A. para a fornicação hetero e gay são um grande passo em frente: tudo bem, amoris laetitia e tal mas... don't do it!
OLDE ENGLAND
Arthur Mee (1875-1943), jornalista, escritor e pedagogo inglês, foi o autor da obra em 42 volumes, The King's England – um guia exaustivo cobrindo 10,000 cidades e aldeias –, na qual criou o conceito de “thankful villages”: aqueles locais de onde todos os homens que partiram para combater na primeira Guerra Mundial regressaram sãos e salvos após o Armistício. Em Let England Shake, PJ Harvey já se havia debruçado sobre a selvagem carnificina, assassina de 16 milhões, e cujos incontáveis horrores Wilfred Owen, em "Dulce et Decorum Est", gravou com a cor do sangue: “If you could hear, at every jolt, the blood come gargling from the froth-corrupted lungs, bitter as the cud of vile, incurable sores on innocent tongues, my friend, you would not tell with such high zest to children ardent for some desperate glory, the old lie: Dulce et decorum est pro patria mori”. Darren Hayman, logo após a conclusão do óptimo álbum do ano passado, Chants For Socialists (sobre textos de William Morris, romancista, poeta e iniciador do movimento Arts & Crafts no final do século XIX), em conversa com o guitarrista, Ian Button (Death In Vegas, Thashing Doves), teve conhecimento da existência das “thankful villages”, pretexto instantâneo para a concepção de novo disco.
Strethall, Essex (Thankful Villages/IV)
A intenção não era compor sobre a guerra (embora, inevitavelmente, aqui e ali, ela surja) mas, tirando partido da definição de Mee, ter um ponto de partida para visitar 54 lugarejos perdidos da Olde England: “Sou agorafóbico mas interessa-me particularmente a ideia de que a música criada em determinados lugares leva consigo algo deles. Tanto desejei ser bem acolhido, sentar-me e conversar com as pessoas como mover-me como um fantasma, silencioso e invisível. Algumas visitas foram planeadas, outras completamente às cegas em busca de uma reacção imediata à paisagem e ao local”. Foi assim que, em Thankful Villages Vol.1, espécie de From Gardens Where We Feel Secure mais rural e num registo algures entre "field report" e "field recording", Hayman procurou um fio narrativo entre as experiências vividas nos 18 primeiros locais, gravou o vento ou a leitura de velhas cartas e poemas, pelo meio, inventou esboços de canções (e, tal como fizera PJ Harvey, uma sequência de videoclips paralela) e, enfim, auscultou o coração daquela antiga e amável Inglaterra que não confia na Europa.
05 July 2016
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