Mais conversas de café destas (ali, mesmo à beirinha da casa do recluso nº44, têm logo outro picante...) é que deveriam acontecer com regularidade.
29 November 2014
Diz também o coiso: "É fundamental baixarmos os impostos das empresas e das famílias. Deve ser a prioridade número um" ("Expresso" de hoje)... mas está só na reinação
... e começa a formar-se a filinha dos iluminados, loucos e mártires prontos a imolar-se pelo messias...
Albrecht Dürer - O Martírio dos 10 000 (1508)
28 November 2014
A ARCA TEM FUNDO
Em Revolution In The Air/Still On The Road (2009/2010) – mais de mil páginas que inventariam todas as canções de Bob Dylan publicadas, inéditas ou hipotéticas –, Clinton Heylin afirma que “1967 foi, qualitativamente e talvez até numericamente, o ano mais produtivo de Dylan como 'songwriter', ultrapassando até 1965”. Por isso, divide esse ano em dois capítulos, nos quais inclui um total de sessenta canções de que a maioria tem origem nas famosas Basement Tapes, desde há dias, enfim disponíveis na íntegra e oficialmente, no Volume 11 das Bootleg Series. A tentação de crer que Bob Dylan mantém uma espécie de arca pessoana sem fundo onde é sempre possível ir desencantar mais umas pepitas de que ele, generosamente, abdica para distribuir pelos meros humanos musicalmente famintos, é grande mas, nem no caso-Basement Tapes, era absolutamente verdade: um dos objectivos do retiro em Woodstock, com a Band, consistia em criar reportório que a sua companhia de "publishing" – Dwarf Music –, actuando como Tin Pan Alley alternativa, procuraria (como aconteceu) colocar junto de outros músicos.
Quase 50 anos depois, a história repete-se, com Dylan e os "publishers" actuais urdindo outra manobra de sedução em torno de T Bone Burnett: uma caixa de textos de Dylan que nunca teriam conhecido carnalmente melodias fora descoberta e ofereciam-se a quem estivesse disposto a roubar-lhes a inocência. Eram também do precioso ano de 67, pelo que a equipa de ávidos amantes-arqueólogos reunida por Burnett – Elvis Costello, Marcus Mumford, Jim James, Taylor Goldsmith e Rhiannon Giddens –, naturalmente, adoptou a designação de The New Basement Tapes, embora, Heylin, convocado a autenticar as relíquias pela “Uncut”, as situe nos seis meses após o lendário acidente de moto mas antes do exílio em Big Pink. Não é esse, porém, o maior problema. Os fragmentos dos textos, por vezes, apenas duas ou três linhas, não são os manuscritos do Mar Morto e, nem o mais inspirado vate – desgraçadamente, aqui, nenhum está na sua "finest hour" – poderia soprar o bafo da vida sobre coisas como “when I get my hands on you, gonna make you carry me, when I get my hands on you, gonna make you marry me”. Lost On The River teriam ficado bem melhor.
"O dr. António Costa quer hoje separar os sarilhos de um alegado caso criminal do seu antigo mentor da política do Partido Socialista e do seu plano para salvar a Pátria. O que seria razoável, se José Sócrates não encarnasse em toda a sua pessoa o pior do PS: o ressentimento social, o narcisismo, a mediocridade, o prazer de mandar. Claro que, como qualquer arrivista, Sócrates se enganou sempre. Começou pelos brilhantíssimos fatos que ostentava em público, sem jamais lhe ocorrer se as pessoas que se vestiam 'bem' se vestiam assim. Veio a seguir a 'licenciatura' da Universidade Independente, como se aquele papel valesse alguma coisa para alguém" (VPV)
27 November 2014
Ao cuidado da House Of Bijan: provavelmente, ainda não vos informaram mas era capaz de ser boa ideia repensar essa última linha...
"Sanguin, autoritaire, des manières un peu bling-bling à la Sarkozy, il a su dépoussiérer une administration ankylosée, voire inefficace, et obtenir, lors de son premier mandat, des résultats probants. Mais, en parallèle, José Sócrates fut ce leader louche, ce 'produit médiatique' ou 'politicien Armani' (dixit le Publico pour fustiger son côté gauche caviar), impliqué dans maints scandales et parvenant à chaque fois à se sortir des griffes de la justice. 'Depuis les origines, il a été ce jeune loup, opportuniste, sans idéologie, obsédé par l’escalade des échelons vers le pouvoir suprême, toujours borderline', dit l’historien Fernando Rosas. Ancien militant du parti de droite, le PSD, passé chez les socialistes en 1981, cet admirateur de Tony Blair a connu un parcours peu limpide. Il y a d’ailleurs de fortes chances que son diplôme d’ingénieur civil, obtenu en 1980, soit un faux"
"Da mesma forma que os gatos têm sete vidas, eu acho excelente que um cidadão tenha sete presunções de inocência. O problema de José Sócrates, tal como o de um gato que falece, é que já as gastou. Sócrates foi presumível inocente na construção de casas na Guarda, foi presumível inocente na licenciatura da Independente, foi presumível inocente na Cova da Beira, foi presumível inocente no Freeport, foi presumível inocente na casa da Braamcamp, foi presumível inocente no assalto ao BCP, foi presumível inocente na tentativa de controlar a TVI, foi presumível inocente no pequeno-almoço pago a Luís Figo. Mal começou a ser escrutinado, a presunção de inocência tornou-se uma segunda pele" (aqui)
26 November 2014
Portugal numa casca de noz (XIX)
ou A Verdadeira História Trágico-Marítima:
da fuga do cherne à teoria da cavala
É só para o recluso nº44 ficar a saber que se situa "na base da cadeia alimentar", num ternurento ex-aequo com "os agressores sexuais de menores" (aqui)
25 November 2014
... e a tropa socrática ainda não se lembrou de começar a dizer que foi (quase) um novo 25 de Novembro
Edit: ... era inevitável...
24 November 2014
Fontes próximas do processo garantem que apenas foi excluída a possibilidade da pulseira electrónica porque o arguido exigia que fosse Cartier
23 November 2014
"Entretanto, chegavam as cinco horas e no nosso lugar já se tinham acumulado alguns papéis sem justificação do seu fim ou indicação da sua origem. Um funcionário do partido vinha dizer aos representantes do povo como deviam votar ou não votar. A páginas tantas, veio mesmo um com um novo processo. Trazia uns papelinhos de cor que agrafava aos documentos que deviam fazer a felicidade da Pátria: encarnado significava não, verde sim e amarelo esperar. Assim se poupavam explicações ao rebanho" (VPV)
COM UM CÃO DEITADO NO CHÃO
“O processo de aprendizagem para os artistas de todos os géneros segue habitualmente a via da imitação, assimilação e inovação. (...) Por vezes, se algo, por algum motivo, se revela impossível de replicar, o artista procura descobrir outro caminho – é a inovação por defeito. (...) Era óbvio que Bob Dylan era um inovador. Esforçava-se para aprender o seu ofício, para imprimir um cunho próprio à música. (...) Aqui e ali, reconhecia possíveis influências. Uma noite, entrou pelo Kettle Of Fish dentro, acenando com uma folha de papel: ‘Têm de ouvir esta canção que acabei de escrever! Escrevi-a ou, pelo menos, julgo que a escrevi... mas posso tê-la escutado algures’”, conta Suze Rotolo, a namorada de Dylan nos seus primeiros anos nova-iorquinos, em A Freewheelin’ Time: A Memoir of Greenwich Village in the Sixties (2008).
Em 1967, Dylan havia já completado a aprendizagem – Bringing It All Back Home (1965), Highway 61 Revisited (1965) e Blonde On Blonde (1966) eram bem mais do que licenciatura, mestrado e doutoramento – mas, quando, após o famigerado acidente de moto do ano anterior, decidiu, em pleno Summer Of Love, exilar-se com a família, em Woodstock, na companhia da Band (ainda, então, apenas o grupo de músicos, ex-The Hawks, que o havia acompanhado em tournée), a atitude colectiva foi, essencialmente, a de uma descontraída cimeira de académicos da música popular norte-americana para revisões da matéria: ao universo poético e sonoro do tempo para cuja criação contribuíra, preferia, agora, intermináveis "jams" em torno das memórias de Hank Williams, Johnny Cash, Brendan Behan, John Lee Hooker, Curtis Mayfield, Patsy Cline ou Fats Domino, no cenário ideal de “uma atmosfera tranquila, uma cave com as janelas abertas e um cão deitado no chão” em que ele “actuaria como um médium numa sessão espírita, procurando captar o mistério, a magia e a verdade da grande música tradicional” e, por improváveis atalhos, oferecendo-lhe uma possibilidade de reconfiguração.
O resultado final, só hoje finalmente disponível na totalidade, desaguou em 17 bobinas engarrafadas com 138 canções (completas, em múltiplas "takes", apenas fragmentárias), quase metade versões de clássicos ou obscuridades. Na realidade, pouco ou nada é verdadeiramente inédito. Longamente aferrolhado nos cofres da Columbia até à primeira publicação, em 1975, das mui peneiradas Basement Tapes, o espólio transformou-se num dos mais lendários "bootlegs" que, em sucessivas encarnações – Great White Wonder (1969), Blind Boy Grunt & The Hawks (1986), The Genuine Basement Tapes (1992) A Tree With Roots (2001), Mixing Up The Medicine (2009) – acabaria por revelar praticamente todas as canções que as edições oficiais ou bandas como os Byrds, Band, Manfred Mann, Julie Driscoll & Brian Auger ou Fairport Convention ainda não tinham tornado públicas. A preciosidade legalizada (em versão “Raw”, de 2 CD, ou “Complete”, de 6) intitula-se The Bootleg Series Vol. 11: The Basement Tapes Complete e será, sem dúvida, merecido objecto de veneração. Mas a aura corsária já não está lá.
Em 1967, Dylan havia já completado a aprendizagem – Bringing It All Back Home (1965), Highway 61 Revisited (1965) e Blonde On Blonde (1966) eram bem mais do que licenciatura, mestrado e doutoramento – mas, quando, após o famigerado acidente de moto do ano anterior, decidiu, em pleno Summer Of Love, exilar-se com a família, em Woodstock, na companhia da Band (ainda, então, apenas o grupo de músicos, ex-The Hawks, que o havia acompanhado em tournée), a atitude colectiva foi, essencialmente, a de uma descontraída cimeira de académicos da música popular norte-americana para revisões da matéria: ao universo poético e sonoro do tempo para cuja criação contribuíra, preferia, agora, intermináveis "jams" em torno das memórias de Hank Williams, Johnny Cash, Brendan Behan, John Lee Hooker, Curtis Mayfield, Patsy Cline ou Fats Domino, no cenário ideal de “uma atmosfera tranquila, uma cave com as janelas abertas e um cão deitado no chão” em que ele “actuaria como um médium numa sessão espírita, procurando captar o mistério, a magia e a verdade da grande música tradicional” e, por improváveis atalhos, oferecendo-lhe uma possibilidade de reconfiguração.
O resultado final, só hoje finalmente disponível na totalidade, desaguou em 17 bobinas engarrafadas com 138 canções (completas, em múltiplas "takes", apenas fragmentárias), quase metade versões de clássicos ou obscuridades. Na realidade, pouco ou nada é verdadeiramente inédito. Longamente aferrolhado nos cofres da Columbia até à primeira publicação, em 1975, das mui peneiradas Basement Tapes, o espólio transformou-se num dos mais lendários "bootlegs" que, em sucessivas encarnações – Great White Wonder (1969), Blind Boy Grunt & The Hawks (1986), The Genuine Basement Tapes (1992) A Tree With Roots (2001), Mixing Up The Medicine (2009) – acabaria por revelar praticamente todas as canções que as edições oficiais ou bandas como os Byrds, Band, Manfred Mann, Julie Driscoll & Brian Auger ou Fairport Convention ainda não tinham tornado públicas. A preciosidade legalizada (em versão “Raw”, de 2 CD, ou “Complete”, de 6) intitula-se The Bootleg Series Vol. 11: The Basement Tapes Complete e será, sem dúvida, merecido objecto de veneração. Mas a aura corsária já não está lá.
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22 November 2014
Olha que giro!
A
Octapharma... outra vez!
(e, afinal, tudo se explica sobre a romântica mansarda)
... mais um instante de "comic relief"
... e ainda outro... e ó coisa mailinda!...
o factor-extra de perversidade
da "sexta-feira à noite"!...
... e ainda outro... e ó coisa mailinda!...
o factor-extra de perversidade
da "sexta-feira à noite"!...
+ recordar, muito a propósito, amizades, júbilos & apoios e livrinhos* diligentemente autopromovidos; o grupo Lena tem protecção divina
* ... olha a Odebrecht...
21 November 2014
tão engraçados
pedem esmolinha
com mil cuidados (I)
Todos sujinhos
e tão magrinhos
a linda graça
dos pobrezinhos
20 November 2014
Sempre que escuto o timbre vocal de esferovite-em-vidro da autora do imortal "e tal e tal e o caralho", a minha heterossexualidade vacila perigosamente
"O conselho de redacção da RTP (...) 'entende que o eventual retorno do melhor futebol do mundo permite reforçar, de forma inquestionável, a capacidade da RTP no cumprimento das obrigações de serviço público'" (aqui)
Oferecer prendinhas com o dinheiro alheio é uma naturalíssima liberdade poética, sempre de esperar do marido da poetisa Silva
19 November 2014
OLHAR AS TREVAS
Numa entrevista de há um ano ao blog Ace Hotel, Bonnie ‘Prince’ Billy (aliás, Will Oldham), debatendo-se com a eterna questão de saber se a obra é, inevitavelmente, um reflexo mais ou menos autobiográfico do criador, lateralizando a resposta, afirmava: “Ser alguém que apresenta aquilo que cria como uma completa extensão de si mesmo foi sempre o meu sonho. (...) Compreendemos isto muito bem se escutarmos um músico como Richard Thompson a fazer um solo. Está sentado em palco e a canção que ele interpreta ganha verdadeiramente vida no instante em que se atira a um solo. Durante esse momento de generosidade, nós somos Richard Thompson. É uma dádiva esse tipo de relação com o seu talento, como se ele se apossasse do nosso cérebro”. Já deveríamos ter-nos apercebido de que, entre Oldham e Thompson, há algo mais do que a mera admiração de um discípulo pelo mestre. A inclusão de “The Calvary Cross”, segunda faixa de I Want To See The Bright Lights Tonight (estreia de Richard & Linda Thompson, 1974) em The Brave And The Bold, o álbum de versões – de Milton Nascimento aos Devo e Springsteen – gravado com os Tortoise e publicado em 2006, poderia ter sido um alerta.
Mas, lá mais para trás, em 1999, estávamos, de certeza indesculpavelmente distraídos quando, em I See A Darkness, não identificámos os ecos de Watching The Dark, título da compilação de Thompson de 1993, retirado de "Shoot Out The Lights" (1982): “Keep the blind down on the window, keep the pain on the inside, just watching the dark”. E aquele instante com Dawn McCarthy, em "Breakdown", de What The Brothers Sang (2013)... Singer’s Grave – A Sea Of Tongues varre, definitivamente, todas as dúvidas que pudessem ainda restar: incluindo onze canções de que a maioria são inesperadas revisitações do bem recente Wolfroy Goes To Town (2011), é impossível não detectar nas guitarras (acústicas e eléctricas), nas inflexões vocais, nos coros das McCrary Sisters, no assentamento dos acordes sobre a curva das melodias, claríssimamente audível, quase um roteiro da trajectória de Thompson, dos Fairport Convention até hoje. Que não se trata de rasteiro trabalho de copista garante-o o facto de ter sido necessário tanto tempo para decifrar o enigma. Mas respondam sem pensar: quem escreveu “Nothing is better, nothing is best, we are unhappy, we are unblessed”?
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Sacha Goldberger
18 November 2014
"Many other advanced countries have institutionalized critical commentary by peers and also provide intellectual support to improve skills and learning as part of teachers’ professional practice. Japanese teachers even have a separate word for this process, 'jugyokenkyu', which is built into their weekly routines. All teachers have designated periods to observe each other’s classes, study curriculum, and otherwise hone their craft. (...) In Finland, which has become something of an international star in education reform circles, students of education take carefully constructed courses in the subject they will teach; they then spend a full year apprenticing in a school, receiving regular feedback from several mentors; and finally, they research and write an original thesis on a scholarly trend or controversy within their fields" (Why Is American Teaching So Bad?; ver também Waiting For Superman)
"Para mim, seja ela de Tuva, da República Centro-Africana ou de Nova Orleães, a música retém o principal da reação humana ao universo. Nessa perspectiva, é um inventário das suas atitudes. Foi obviamente individualizada pelas mais diversas circunstâncias, técnicas e práticas, mas remete para um impulso comum: que o mundo se mantenha um local reconhecível não obstante tudo o que de imenso, terrível e contraditoriamente belo sucede nas nossas vidas. E, nisso, o que há de assombroso e fascinante são as infinitas possibilidades de lhe dar expressão" (David Harrington, Kronos Quartet)
Professor Marcelo, no próximo domingo, veja lá se não se esquece de o incluir na sua listinha vermelha & verde!
17 November 2014
Pensamento filosófico português (CXXV)
José António Saraiva
"Está ali um chavalo que eu não sei, não..."
O primeiro especialista luso na identificação de mancebos gay em elevadores da Baixa e temática LGBT afim discreteia sobre o facto de "na prática, após mudarem de sexo as pessoas, não serem carne nem peixe" e, profilacticamente, recomenda-lhes "um tratamento psicológico (ou psiquiátrico) intenso" que, além do mais, permitiria poupar ao SNS uns "40 a 50 mil euros" catitas por cabeça (aqui)
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