02 April 2014

A FALTA QUE ELE FAZ


Leonard Rosenman até poderá ter ganhado dois Óscares atribuídos aos arranjos que compôs para Barry Lyndon (1975) e Bound For Glory (1976) mas nem assim o seu nome se converteu num daqueles que vêm imediatamente à memória (Bernard Herrmann, Miklos Rosza, Max Steiner) quando se pensa nos clássicos da "film music" dos anos de ouro de Hollywood. E, no entanto, ter sido responsável pela primeira partitura para uma longa-metragem que incluía linguagem serial dodecafónica – The Cobweb, de Vincente Minnelli, 1955 – não foi proeza menor. Um dos seus mestres, Arnold Schoenberg (Rosenman estudaria também com Luigi Dallapiccola e Roger Sessions), duas décadas antes, desperdiçaria essa oportunidade, quando, convidado a compor para The Good Earth (1937), exigiu ao produtor Irving Thalberg que nem uma única nota escrita por ele pudesse ser mudada. Pelo que, nesse particular marcador histórico, Rosenman apenas seria antecedido por Scott Bradley, com a "incidental music" que criou para The Cat That Hated People, um "cartoon" de 7 minutos realizado por Tex Avery em 1948. 



Não é, por isso, de admirar que, ao aperceber-se que a sua jovem higienista oral, Linda Perhacs, era uma compositora de algum talento, Leonard Rosenman se tenha oferecido para lhe produzir o álbum de estreia – Parallelograms, 1970 – e, em particular na canção-título, haja desempenhado papel idêntico ao que Joseph Byrd (do efémero e nunca suficientemente louvado colectivo The United States Of America), três anos atrás, assumira para "Crucifixion", de Phil Ochs, em Pleasures Of The Harbor: transfigurar peças, originalmente de matriz folk, em assombrosas explosões contemporâneas de dissonância e electrónica. À época, Parallelograms foi tão mal tratado pela editora (promoção nula, mistura inqualificável, ordem das canções trocada na contracapa) que passou inteiramente despercebido, embora gerando o proverbial culto entre adeptos de obscuridades. Foram necessários, porém, 44 anos para que, redescoberta por Julia Holter, Perhacs dispusesse, por fim, de uma oportunidade para gravar o segundo disco, The Soul of All Natural Things. E uma inamovível evidência se impõe: a imensa falta que faz um Rosenman para converter uma sequência de doces afagos sonoros trasladados da inefável era de Aquário em algo mais substancial do que uma "new age" entradota.

No comments: