YEAH RIGHT, GARANTIAS ABSOLUTAS E SOLENES...
31 July 2013
O ESTABELECIMENTO REABRIU MAS OS CLIENTES QUEIXAM-SE DA EXISTÊNCIA DE DEMASIADAS RESTRIÇÕES NO ATENDIMENTO
TRADUÇÃO: A FRASE QUE ME FOI ATRIBUÍDA NÃO SÓ ME FOI ATRIBUÍDA COMO A DISSE MESMO; MAS NÃO LEVEM A MAL PORQUE NÓS, DONDOCAS DOS FILTHY RICH, DIZEMOS MUITAS COISAS ASSIM SEM DAR USO AOS DOIS NEURÓNIOS E ERA ABORRECIDÍSSIMO SE ISSO PREJUDICASSE O NEGÓCIO DA FAMÍLIA (QUE, JURO, ADOOOORA POBREZINHOS!)
30 July 2013
Não se pode voltar a sintonizar a ditosa pátria que não nos caia logo em cima um chuveirinho de mui odorífera merda refrescantemente estival
23 July 2013
A RESPOSTA É SIM
Se, como sugere a mitologia grega, a origem e a natureza da música devem ser associados a dois instrumentos (o aulos e a lira) e a dois deuses (Diónisos e Apolo) em torno dos quais se definiriam, para sempre características essenciais – a exaltação, a tragédia e o drama num, a contemplação, o rigor, a harmonia no outro –, que ambas as divindades derramem generosamente os seus favores sobre “cagin”, utilizador do YouTube: supostamente desde há dois anos (mas sendo o YouTube o animal esquivo que é, nunca pode ter-se a certeza), ele foi lá colocando, um por um, os seis episódios das conferências de Harvard, realizadas por Leonard Bernstein em 1973, subordinadas à designação The Unanswered Question, mais de 11 horas dedicadas a procurar responder a interrogações como “de onde vem e para onde vai a música?”. Inicialmente publicadas em vinil, pela CBS (1974), e em livro, pela Harvard University Press (1976), mesmo após o seu aparecimento em DVD, descobri-lo disponível nas lojas físicas e virtuais deste mundo sem bater regularmente com a testa no aviso “fora de stock”, não é a missão mais fácil a que poderíamos entregar-nos.
É por isso que, quem não se deixar intimidar pela aparente dificuldade de lidar com terminologia como tónicas, dominantes, séries harmónicas, tonalismo ou serialismo – estão lá todos e muitos mais mas, daquela forma só acessível aos grandes professores, Bernstein, mesmo quando não torna a totalidade dos conceitos evidente, deixa passar a ideia tranquilizadora de que o essencial foi apreendido – mal acabar de ler esta crónica, deverá precipitar-se para o YouTube e, "by all means necessary", assegurar-se que algures na memória do seu electrodoméstico preferido ligado à Net, as "six talks" ficam a salvo e prontas a ser longamente digeridas. Da busca, por via chomskiana, de uma competência inata comum para a linguagem e a música, Bernstein parte da fonologia para a semântica (“as delícias e os perigos da ambiguidade” é um dos grandes momentos), daqui para a morte e ressurreição do tonalismo no século XX e, no último capítulo, para a discussão, naturalmente polémica, da condição de beco-sem-saída estético do dodecafonismo (“Será que essa ambiguidade é apenas demasiado grande para ser entendida pelos nossos ouvidos humanos, ouvidos que estão, afinal, sintonizados com as nossas predisposições inatas, a despeito de todos os condicionamentos? Teremos finalmente tropeçado numa ambiguidade incapaz de produzir resultados estéticos positivos? Poderá conceber-se a existência de uma ambiguidade negativa?”). Antes, detivera-se sobre a peça de Charles Ives, de 1908, que dá o título às conferências – exemplo significativo, para ele, da crise da música tonal – e, após anunciar, profeticamente, a emergência de “um novo e magnífico ecletismo”, conclui declarando: “Acredito que ‘The Unanswered Question’ tem uma resposta. Não estou já muito certo de qual era a pergunta mas sei que a resposta é ‘sim’”. Podem começar pela primeira postura de “cagin” e vão por aí fora. Hoje ainda está lá. Amanhã pode já não estar.
É por isso que, quem não se deixar intimidar pela aparente dificuldade de lidar com terminologia como tónicas, dominantes, séries harmónicas, tonalismo ou serialismo – estão lá todos e muitos mais mas, daquela forma só acessível aos grandes professores, Bernstein, mesmo quando não torna a totalidade dos conceitos evidente, deixa passar a ideia tranquilizadora de que o essencial foi apreendido – mal acabar de ler esta crónica, deverá precipitar-se para o YouTube e, "by all means necessary", assegurar-se que algures na memória do seu electrodoméstico preferido ligado à Net, as "six talks" ficam a salvo e prontas a ser longamente digeridas. Da busca, por via chomskiana, de uma competência inata comum para a linguagem e a música, Bernstein parte da fonologia para a semântica (“as delícias e os perigos da ambiguidade” é um dos grandes momentos), daqui para a morte e ressurreição do tonalismo no século XX e, no último capítulo, para a discussão, naturalmente polémica, da condição de beco-sem-saída estético do dodecafonismo (“Será que essa ambiguidade é apenas demasiado grande para ser entendida pelos nossos ouvidos humanos, ouvidos que estão, afinal, sintonizados com as nossas predisposições inatas, a despeito de todos os condicionamentos? Teremos finalmente tropeçado numa ambiguidade incapaz de produzir resultados estéticos positivos? Poderá conceber-se a existência de uma ambiguidade negativa?”). Antes, detivera-se sobre a peça de Charles Ives, de 1908, que dá o título às conferências – exemplo significativo, para ele, da crise da música tonal – e, após anunciar, profeticamente, a emergência de “um novo e magnífico ecletismo”, conclui declarando: “Acredito que ‘The Unanswered Question’ tem uma resposta. Não estou já muito certo de qual era a pergunta mas sei que a resposta é ‘sim’”. Podem começar pela primeira postura de “cagin” e vão por aí fora. Hoje ainda está lá. Amanhã pode já não estar.
Conheci o conceito "indústria do adultério" há uns bons anos, a propósito de Brighton (suposta capital britânica da dita indústria, da mesma forma que se diz "Paços de Ferreira, capital do móvel"); acabei por ir a Brighton (não para "adulterar" mas para entrevistar o Nick Cave) e, nesse momento, apercebi-me de como deve ser lúgubre o adultério na Britânia
22 July 2013
"A confiança que conquistámos ao longo destes dois anos foi um pouco abalada" (aqui)
House of Games - real. David Mamet (1987)
"O ministro dos Negócios Estrangeiros acha normal descrever o seu país como um protectorado. Como eram Marrocos, a Manchúria, a Boémia e Morávia, a Basotulândia, ou as ilhas Tonga. Repito: eu posso dizê-lo, ele não. O facto de o ministro usar essa classificação (ele não é analista, é ministro, pelo que a sua voz é aceite pelas diplomacias estrangeiras como sendo a descrição legítima, não só de facto mas de jure, da situação portuguesa) não tem origem em nenhum acto do Parlamento, nenhuma rendição de tropas, nenhum Pétain a assinar a submissão a Hitler, em nome da 'salvação nacional'. Se somos um protectorado, devemos organizar a resistência ou ser 'colaboracionistas'?" (daqui)
21 July 2013
"Olhem, não deu e eu não sei fazer melhor; e, mesmo que soubesse, não fazia (e tu, Maria, cala-te que já não posso ouvir-te com essas lengalengas à Fatinha!)"
Tózero (& etc), moço, não queiras à viva força fazer-te interessante: acredita, ninguém desejaria aborrecer-se tanto
É tão interessante saber que não, não é "a aplicação do programa de ajustamento, com uma forte contracção salarial e várias reformas estruturais [que] está a produzir efeitos significativos na competitividade das empresas nacionais"
como é divertido imaginar os "spin doctors" a conspirar sobre a melhor forma de virar acrobaticamente os números do avesso
20 July 2013
O QUÊ?!!!... ENTÃO A PROTECÇÃO DO GRANDE FANTASMA CÓSMICO NÃO LHE CHEGA?
(clicar na imagem e, depois, usar a lupa)
O calca-mar monogâmico encheu-lhe a alma de felicidade mas, pouco depois, a aparição da osga foi um presságio de que o fim se aproximava (a hermenêutica presidencial é uma ciência de elevada complexidade)
19 July 2013
"Preconceito aristocrático e reaccionário" será o equivalente a dizer: Tózero, petúnia murcha, suave e fofa costureirinha, meiga Floribella, deliciosa mistura de professora primária solteirona, Laurinda Alves de saias, Cocó Rosie do Rato, escuteirinho sonso e xâmane de comuna hippie do sector dos bancários, se o menino existisse gostava de ser o quê? (Joãozinho, olhe que o papá zanga-se...)
LE DORMEUR DU VAL - ARTHUR RIMBAUD
C'est un trou de verdure où chante une rivière
Accrochant follement aux herbes des haillons
D'argent ; où le soleil de la montagne fière,
Luit : C'est un petit val qui mousse de rayons.
Un soldat jeune, bouche ouverte, tête nue,
Et la nuque baignant dans le frais cresson bleu,
Dort ; il est étendu dans l'herbe, sous la nue,
Pâle dans son lit vert où la lumière pleut.
Les pieds dans les glaïeuls, il dort. Souriant comme
Sourirait un enfant malade, il fait un somme :
Nature, berce-le chaudement : il a froid.
Les parfums ne font pas frissonner sa narine ;
Il dort dans le soleil, la main sur sa poitrine
Tranquille. Il a deux trous rouges au côté droit.
DULCE ET DECORUM
Em Hitch-22, Christopher Hitchens conta
como, quando universitário em Oxford, a decisão de se dedicar à escrita só foi
verdadeiramente incendiada no momento em que descobriu o seu “padrão-ouro”, ao
“embater contra o recife” da poesia de Wilfred Owen. Mais exactamente, o
devastador "Dulce Et Decorum Est", imprecação anti-militarista contra a
sanguinária selvajaria imperialista da Primeira Grande Guerra, espécie de
versão "gore" do "Dormeur du Val", de
Rimbaud. Não seria essa a última vez que o verso retirado das Odes, de
Horácio (“Dulce et decorum est pro patria
mori” – “é doce e honroso morrer pela pátria”), surgiria – ácido e
envenenado ou ironicamente brandido – como estandarte anti-guerra: ninguém
conseguirá uma noite de sono tranquilo depois de o ver projectado no genérico
final do intolerável pesadelo que é Johnny Got His Gun (Dalton Trumbo, 1971)
mas, sem descer a abismos tão profundos e escavando apenas a memória da música
popular, ele enfrenta-nos, sob modelo punk tardio, via-The Damned, em "In Dulce Decorum" (“Where I walk, where I
see the haunting flares where my friends bleed, I see the face of the enemy of
a man or boy who is just like me, and if I could ever sleep again, I know till
the end of time I'd hear their screams of pain, dulce dulce decorum”, 1987), na
voz de Regina Spektor (“After all the children being born into a time of
searching for some glory, and the lie's still repeating through the years,
dulce et decorum est pro patria mori”, em "Dulce Et Decorum Est Pro Patria
Mori", nunca editada em disco), ou, com “mori” pronunciado como “morai” para
rimar problematicamente com “tonight”, na "Drinking Song" dos Divine Comedy (“We
live in an age when no man need bother, except on the stage, with dulce et decorum est pro patria mori,
and definitely not tonight”, de Promenade). O que não impediu que a “old
lie”, como Owen a designava, continuasse a ser o lema de diversos monumentos e instituições
militares (nomeadamente da Academia Militar portuguesa).
Não sendo propriamente o género de
cometimento que esperaríamos de Ian McCulloch, Pro Patria Mori é agora também
o título de um dos volumes que constituem o duplo Holy Ghosts e,
simultaneamente, de uma das canções – épica, insistente, amargamente quase weilliana
– que tanto figura nesse como no outro que regista um concerto com secção de
cordas na Union Chapel de Londres. Se a atmosfera deste remete para os
empolgamentos orquestrais de Ocean Rain alargados a 15 temas do reportório
clássico dos Echo & The Bunnymen e algum de McCulloch a solo que os acolhem
sem quaisquer sintomas de rejeição (a música dos Bunnymen, mesmo nos momentos
mais rasgadamente eléctricos de Porcupine, teve sempre implícito um desejo de
grandiloquência), Pro Patria Mori, quarto álbum em nome individual, só num ou
noutro ponto deixa acreditar que, algum dia, a glória sonora dos Bunnymen
iniciais possa vir a ser recuperada apenas com uma das peças em actividade. Mas a genuflexão naïve de "Me And David Bowie" (“thanks
for all you showed me, how to smoke a cigarette better than anyone, how to wear
my overcoat so cool that I could freeze the sun”) tem muita piada.
18 July 2013
"Há pessoas com propensão para escolhas infelizes. Cavaco Silva, quando líder do PSD, escolheu Dias Loureiro para secretário-geral do partido e apadrinhou Duarte Lima no percurso que o levou a líder do respectivo grupo parlamentar. Já presidente da República, Cavaco Silva convidou João Rendeiro para dirigir a EPIS - Empresários pela Inclusão Social. Dias Loureiro não é propriamente alheio às trapalhadas que originariam a gigantesca burla do BPN. Duarte Lima é presidiário de luxo e suspeito de crime de homicídio. A fraude BPP tem um responsável: João Rendeiro" (Santana Castilho no "Público" de ontem)
É "oficial" e não tem nome? A sms veio de número anónimo? E, se veio de número anónimo, como saber que é "oficial" e "socialista"?
Primeira etapa da visita às Ilhas Selvagens entusiasmou o Chefe de Estado, especialmente pelos encontros com algumas aves locais (isso faz-se às vaquinhas?...)
Highlights:
"O director do parque parou, baixou-se, enfiou a mão num buraco e da
areia tirou um pequeno calca-mar, uma das espécies em maior número nas
ilhas. Logo depois passou-o para a mão de Cavaco Silva que, sorridente, a
mirou com um olhar deliciado e a exibiu aos jornalistas";
"O director do parque adiantou alguns detalhes sobre o animal, explicou
que o macho e a fêmea se alternavam a chocar os ovos o que motivou nova
interrogação do Presidente: “É sempre o mesmo parceiro?”. “Sempre o
mesmo”, explicou Paulo Oliveira (garantida fonte de inspiração para futuro opus da poetisa Silva).
What will we do with a drunken sailor?
What will we do with a drunken sailor?
What will we do with a drunken sailor?
Early in the morning!
Way hay and up she rises,
Way hay and up she rises,
Way hay and up she rises,
Early in the morning!
Shave his belly with a rusty razor,
Shave his belly with a rusty razor,
Shave his belly with a rusty razor,
Early in the morning!
Way hay and up she rises...
Put him in a long boat till his sober,
Put him in a long boat till his sober,
Put him in a long boat till his sober,
Early in the morning!
Way hay and up she rises...
Stick him in a barrel with a hosepipe on him,
Stick him in a barrel with a hosepipe on him,
Stick him in a barrel with a hosepipe on him,
Early in the morning!
Way hay and up she rises...
Put him in the bed with the captains daughter,
Put him in the bed with the captains daughter,
Put him in the bed with the captains daughter,
Early in the morning!
Way hay and up she rises...
That's what we do with a drunken sailor,
That's what we do with a drunken sailor,
That's what we do with a drunken sailor,
Early in the morning!
Way hay and up she rises...
17 July 2013
Não chega aos calcanhares da Taxa Camarae mas, graças a deus, pecar tornou-se, sem dúvida, muito mais fácil
Código Civil Artigo 336.º - Acção directa
1. É lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito, quando a acção directa for indispensável, pela impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais, para evitar a inutilização prática desse direito, contanto que o agente não exceda o que for necessário para evitar o prejuízo.
2. A acção directa pode consistir na apropriação, destruição ou deterioração de uma coisa, na eliminação da resistência irregularmente oposta ao exercício do direito, ou noutro acto análogo.
Um refrão que não sai da cabeça (XXI): "Pour punir la trahison, la haute rapine, voilà pour qui l'on a fait ce dont on connaît l'effet, c'est la guillotine!"
Juro que já nem vagamente me lembrava que tinha escrito isto * - mas as "genuine social-political implications of a revolutionary musical movement" parecem ficar agora muito mais esclarecidas
16 July 2013
Como ninguém, no seu perfeito juízo, desejaria entrar para o governo neste momento (e não é aos 62 anos que se vai "fazer currículo"), só se pode concluir pela imensa generosidade quase "pro bono" de ir lá fazer umas limpezas e arrumar alguns papéis
PROFESSORES ARROJA E DAS NEVES, PODERIAM ELABORAR SOBRE O MOMENTOSO TEMA "A VERGONHA DE JESUS E AS VERGONHAS, AI JESUS!"?
15 July 2013
O PENSAMENTO FILOSÓFICO PORTUGUÊS (CXIX)
Pedro Arroja
E chegamos, enfim, ao ponto em que (sob aclamação) o homem viril fecunda a MILF!
Um refrão que não sai da cabeça (XX): "Pour punir la trahison, la haute rapine, voilà pour qui l'on a fait ce dont on connaît l'effet, c'est la guillotine!"
14 July 2013
Dada a vertiginosa elevação do nível metafórico da linguagem, é de prever que, muito brevemente, se passará do "entalado" para o "sodomizado"
... ou, na língua de Tarantino: "I'm gonna get medieval on your ass...!"
13 July 2013
"Deu-se há dias a primeira manifestação organizado pelo sindicato do governo. Não foi na rua, nem na Assembleia (nas galerias), nem às portas duma fábrica ou empresa, nem a cantar a Grândola, foi numa igreja durante uma missa. Não sei o que pensa o novo Patriarca, ou a Igreja, mas assistir à primeira manifestação pública do sindicato do governo durante uma missa coloca-lhe o dilema da lembrança de Cerejeira, presumo que lembrança muito mal vinda. Ele há cada uma, ir manifestar-se para uma Igreja durante uma missa, com dezenas de guarda-costas cá fora, é um penoso retrato do nosso sindicalismo governamental. No entanto, tem uma enorme vantagem sobre os grevistas da CGTP e da UGT, não perdem o salário de um dia de trabalho" (aqui)
Fé, muita fé e a persistente crença no milagre tricológico
12 July 2013
O pós-troika está já em preparação! Ou tratar-se-á da chegada da "personalidade de reconhecido prestígio"? A imagem, no entanto, faz pensar que o observador poderá ter-se distraído com outra coisa
Aí por volta das 10 da manhã, numa breve escuta do show em versão rádio, o que mais sobressaía era o timbre de barítono histerizando perturbadoramente para tenor e ameaçando perigosamente o falsetto
BESTIÁRIO
Dêem-lhe corda e, enquanto tiver fôlego,
Tom Waits é capaz de, interminavelmente, debitar nacos de improvável sabedoria
sobre o mundo animal: "Sabia que se deitar uma gota de álcool em cima de
um escorpião, ele enlouquece e pica-se até morrer? E sabia que as moscas só
vivem duas semanas? Eis uma coisa a ter em conta quando matamos moscas. Serão
velhas? Terão acabado de nascer? E sabia que os mosquitos preferem as crianças
aos adultos e as loiras às morenas? Não sei se são capazes de distinguir as
loiras naturais das outras mas acredito que alguns já devem ter sido capazes de
evoluir até esse ponto. E as formigas espreguiçam-se quando acordam (já foram
vistas a fazê-lo ao microscópio!) e também bocejam. E, depois do trabalho, vão
a uns barzinhos pequeninos onde bebem um néctar que as põe um bocadinho tontas.
Só para acabar (não o quero maçar com mais histórias destas), os mosquitos são
mais atraidos pelo azul do que por qualquer outra cor. O que quer dizer que,
nos trópicos, convém usar camisas vermelhas”. Brett e Rennie Sparks (aka The Handsome Family) não costumam fazer
o mesmo mas o seu último álbum, Wilderness, reúne uma dúzia de canções em que
o título de cada uma é o nome de um animal (“Flies", "Frogs", "Octopus", "Lizard"...). Não se trata, contudo, de ampliar a outras espécies o subgénero
da folk-entomológica inaugurado por Mirah em Share This Place (2007).
Deles – sobre quem Greil
Marcus afirmou “O seu surrealismo do quotidiano não tem paralelo na escrita de
canções contemporânea” – ninguém espera algo de tão confortável: durante os já
vinte anos de percurso desde que o ex-cristão "born again" estudioso de música medieval e a
ex-"acid head"
adolescente que acredita ter sido Hildegard von Bingen a maior "songwriter"
de sempre se encontraram (quando ela lhe entregou um cartão com manchas de
sangue e uma citação de Thomas Pynchon), habituaram-nos a patinar sobre aquele
terreno escorregadio em que Flannery O’Connor reescreve os pesadelos de Kafka
e, algures entre o gótico sulista e a devoção pelos Beatles, o imprevisível
equilíbrio se descobre. Desta vez, porém, talvez seja mais apropriado falar de
um universo filmado, em simultâneo, por dois David (Lynch e Attenborough) com texto e
música de Hank Williams e Edgar Allan Poe: o que o "bear hug" com que o barítono
profundo de Brett nos envolve vai narrando são a gastronómica beleza do cadáver
do general Custer tal como as moscas o viram nas pradarias de Montana (“there’s
a Wal-Mart now where once the grizzlies roamed”), a história de Mary Sweeney, a
louca do Wisconsin, que, em 1896, se aplicava a estilhaçar vidros de janelas
(“She was a woodpecker, she couldn’t help but free all the things that hide
inside all the pretty trees”) ou a daquela outra mulher que, atingida por um
raio, acaba aprisionada num casulo tecido por lagartas (“Keeping time with
every rumble, every quiver of the earth, and she slowly changes shape with the
turning of the world”). Em matéria de folk "noir"
vertida no registo de bestiário sobrenatural assombrado pelo espectro das "murder ballads", durante muito tempo, não
irá haver melhor.
11 July 2013
1) Se "o actual Governo se encontra na plenitude das suas funções", porquê propôr-lhe já uma alternativa e/ou antecipar-lhe o óbito para daqui a um ano?
2) Se "o governo que resultar das próximas eleições poderá contar com um compromisso entre os três partidos que assegure a governabilidade do país, a sustentabilidade da dívida pública, o controlo das contas externas, a melhoria da competitividade da nossa economia e a criação de emprego", PSD, PS e CDS/PP não deveriam estar dispensados de concorrer a essas eleições? Ou concorrem em coligação?
3) Não estando dispensados de concorrer às eleições em 2014 nem concorrendo em coligação, mas tendo assinado o "compromisso", a Comissão Nacional de Eleições fornecerá lupas aos eleitores para poderem distinguir as diferenças dos programas eleitorais de PSD, PS e CDS/PP?
4) Quando adverte que, caso falhem o "compromisso de Salvação Nacional", os portugueses deverão “tirar as suas ilações” sobre as “responsabilidades" dos três partidos do arco da governação, o Bolicoiso está a apelar ao voto no PCP e BE?
5) Concorrendo separados, em coligação, assinando ou não o "compromisso", com governo de iniciativa presidencial ou sob outra abstrusa fórmula "de entendimento", a campanha eleitoral que, hoje, se inicia não vai condicionar um bocadinho a salvação da pátria?
6) E, se a Fatinha intervier mais uma vez e o governo de iniciativa presidencial (ou sob outra abstrusa fórmula "de entendimento") que se encontrar em funções, em Junho de 2014, estiver a funcionar muito, muito, muito bem, vamos incomodá-lo com eleições ou prosseguimos, felizes, a ascenção ao paraíso?
5) Concorrendo separados, em coligação, assinando ou não o "compromisso", com governo de iniciativa presidencial ou sob outra abstrusa fórmula "de entendimento", a campanha eleitoral que, hoje, se inicia não vai condicionar um bocadinho a salvação da pátria?
6) E, se a Fatinha intervier mais uma vez e o governo de iniciativa presidencial (ou sob outra abstrusa fórmula "de entendimento") que se encontrar em funções, em Junho de 2014, estiver a funcionar muito, muito, muito bem, vamos incomodá-lo com eleições ou prosseguimos, felizes, a ascenção ao paraíso?
10 July 2013
Em síntese:
2) antes não se tivesse passado;
3) na verdade, foi o Bolicoiso que se passou e não perdeu a oportunidade para, de uma só vez, passar a ferro Portas (o "Independente" estava-lhe atravessado) e Coelho;
4) com eleições marcadas para daqui a um ano, um governo "de salvação nacional" constituído pelos três partidos que lutam pelo poder iria fazer parecer a era dos Borgias uma comuna hippie de paz e amor - logo, só pode ser cortina de fumo (será que é agora? - nunca conseguiria imaginar que o Bolicoiso era tão lento);
6) o revogável irrevogável ainda é ministro ou não?
5) foi um bonito momento de autocrítica reconhecer que é capaz de ser necessária "uma personalidade de reconhecido prestígio" para meter a mão no saco dos lacraus;
7) amanhã as acções da Unicer devem dar um tombo que faxavôr;
(as dúvidas, aqui)
O forninho continua a aquecer mas frases como "Estive em silêncio durante dois anos pelo respeito que procurei ter pelo meu sucessor. O mínimo que posso pedir é que seja recíproco" são de uma imensa e fétida eloquência (mas claro que no pasa nada)
09 July 2013
Este pessoal porreirinho e amigão anda a dar umas dicas interessantes "aos de cima"
"At the start of the crisis, it was generally assumed that the national legacy problems were economic in nature. But, as the crisis has evolved, it has become apparent that there are deep seated political problems in the periphery, which, in our view, need to change if EMU is going to function properly in the long run. The political systems in the periphery were established in the aftermath of dictatorship, and were defined by that experience. (...)
Political systems around the periphery typically display several of the following features: weak executives; weak central states relative to regions; constitutional protection of labor rights; consensus building systems which foster political clientalism; and the right to protest if unwelcome changes are made to the political status quo. The shortcomings of this political legacy have been revealed by the crisis. Countries around the periphery have only been partially successful in producing fiscal and economic reform agendas, with governments constrained by constitutions (Portugal), powerful regions (Spain), and the rise of populist parties (Italy and Greece).
There is a growing recognition of the extent of this problem, both in the core and in the periphery. Change is beginning to take place. Spain took steps to address some of the contradictions of the post-Franco settlement with last year’s legislation enabling closer fiscal oversight of the regions. But, outside Spain little has happened thus far. The key test in the coming year will be in Italy, where the new government clearly has an opportunity to engage in meaningful political reform. But, in terms of the idea of a journey, the process of political reform has barely begun". (aqui)
08 July 2013
O PENSAMENTO FILOSÓFICO PORTUGUÊS (CXVI)
Pedro Arroja
A nação é uma MILF (parte I)
"Não existe, provavelmente, ideia mais incompreendida no espírito popular do que a ideia de virilidade. Associa-se, em primeiro lugar, a virilidade ao sexo, e ao sexo masculino, e depois considera-se viril o homem que tem muitas relações sexuais, às vezes com muitas mulheres.
Aquilo que se me oferece dizer a este respeito é que a virilidade, embora também se exprima fisicamente, é, em primeiro lugar, uma qualidade espiritual. A virilidade diz respeito, em primeiro lugar, ao espírito e só secundariamente ao corpo. E quanto à ideia popular de que um homem viril é um mulherengo, um homem que passa a vida em relações sexuais com mulheres ou nos braços de mulheres, não pode existir nada de mais errado. Um mulherengo não é um homem viril, é um homem mole, porque uma das consequências essenciais de uma relação sexual entre um homem e uma mulher é o de ela permitir à mulher tirar a virilidade ao homem.
Então o que é um homem viril? Se eu tivesse de definir numa só palavra, diria: é um homem contido. A própria palavra viril, que tem origem no latim, apela à ideia de contentor (âmbula ou redoma de vidro). Do ponto de vista sexual e menos importante para os efeitos do meu argumento, o homem viril pratica o sexo com contenção de tal maneira que, quando o faz, se encontra na sua máxima potência (ao contrário do mulherengo que, passando a vida a praticar sexo, não tem potência nenhuma). (...)
A Nação, que é uma figura de mulher madura, aprecia um homem assim.
Porque esse homem é que lhe dá garantias de que a relação é fecunda e é
uma relação para sempre. A Nação vai provocá-lo muitas vezes e das mais
variadas formas, picando-o, espicaçando-o, gozando com ele, pondo-lhe
alcunhas, insultando-o até, mas ele não reage a nada disso. Mantém-se
calado, aguenta tudo. É um homem contido, é um homem viril". (aqui; agradecimentos ao FNV que me chamou, de novo, a atenção para um grande mestre ao qual andava indesculpavelmente desatento)
Regina Spektor - "Dulce Et Decorum Est Pro Patria Mori"
After all, everything'd been said and done
I feel, I feel better now
Come away, lay your hands and rest and close your eyes
Say a prayer for those who've gone
I feel, I feel better now
Come away, lay your hands and rest and close your eyes
Say a prayer for those who've gone
It's hard, it's hard
It's hard, it's hard
To live, to live
To live, to live
It's hard, it's hard
To live, to live
To live, to live
It's hard, it's hard
It's hard, it's harder
Than it's ever been before
Things that used to comfort me
Don't comfort me anymore
It's hard, it's harder
Than it's ever been before
Things that used to comfort me
Don't comfort me anymore
After all, the children being born into
A time of searching for some glory
And the lie's still repeating through the years
Dulce et Decorum Est Pro Patria Mori
A time of searching for some glory
And the lie's still repeating through the years
Dulce et Decorum Est Pro Patria Mori
It's hard, it's hard...
But you can't spend your whole life
Waiting for God to kiss you
You can't spend your whole life
Waiting for God to kiss you
Can't spend your whole life
Waiting for God to kiss you back
Waiting for God to kiss you
You can't spend your whole life
Waiting for God to kiss you
Can't spend your whole life
Waiting for God to kiss you back
Come on, come on, come on, back
It's hard, it's hard...
"Nunca em toda a minha vida, antes ou depois do 25 de Abril, senti um tão agudo ambiente de 'luta de classes'. Os de baixo contra os de cima. Os de cima contra os de baixo. Os de cima que fazem de conta que não há os de baixo, não existem, ponto. Os de baixo que se pudessem apanhar os de cima, sem a corte de guarda-costas, os fariam passar um mau bocado. Sem organização, sem instigação, como quem respira (...)" (aqui)
07 July 2013
O SILÊNCIO NÃO EXISTE, OUVIRAM?
John Cage terá escrito e feito tudo o que lhe era possível para nos explicar que “there is no such thing as silence” (demonstrando-o até praticamente em 4’33”). Mas, mais de meio século depois, isso continua a não impedir que – directa ou indirectamente influenciados por problemáticas digestões "new age" (e afins) de orientalismos avulsos – os apelos ao silêncio como suposta via de acesso a duvidosas entidades como “o eu interior” ou “a verdadeira realidade” se repitam. As britânicas (mais gaulesa incluída) Savages elevaram mesmo a atitude ao nível do manifesto, imprimindo na capa do seu álbum de estreia um apelo em que, equivocadamente, proclamam que “o mundo costumava ser silencioso, agora contém demasiadas vozes e o ruído é uma distracção constante que multiplica, intensifica e desvia a nossa atenção do que é conveniente, e do que fala de nós próprios”, concluindo com a sugestão de que “se o mundo se calasse, mesmo que só por um instante, talvez pudéssemos começar a escutar o ritmo distante de uma jovem melodia rebelde”. Naturalmente, a primeira faixa intitula-se "Shut Up", mas, ainda que estivéssemos dispostos a levar a sério a pregação, rapidamente desistiríamos ao descobrir que a “jovem melodia rebelde” é uma quase quarentona com os traços de personalidade de Ian Curtis e a voz de Siouxsie Sioux.
Entretanto, em Lisboa, no passado dia 21 de Junho, teve lugar um concerto, aparente filho natural de Cage: Lisboa Em Si, concebido por Pedro Castanheira em torno do número 7 (7 colinas, 7 minutos de duração do terramoto de 1755 e do próprio concerto), propunha-se gerar uma “’epifonia’, uma epifania de som”, através da articulação das sonoridades de apitos de embarcações, viaturas de bombeiros, comboios, sinos de igrejas e campainhas de eléctricos, produzidas ao vivo e convidando-nos a estar presentes em 7 pontos de escuta, com o centro de operações no Terreiro do Paço. Se a concretização ficou seriamente aquém da potencial “utopia sonora” – à beira Tejo, pouco mais se ouviu do que distantes sirenes de barcos e de um carro de bombeiros –, a raiz do projecto estava já ela infectada por uma “traição” a Cage: segundo Castanheira, “O grande desafio é calar a cidade. Os carros, os bailaricos. Pedimos às pessoas que com o seu silêncio sejam parte activa na partitura. Porque normalmente estão a fazer barulho. E se estiverem em silêncio durante sete minutos é como se estivessem a tocar, naquele momento estão a tocar pausas”. John Cage pensava de modo diferente: “Não existe tal coisa como um espaço vazio ou um tempo vazio. Há sempre algo para ver, alguma coisa para ouvir. Na verdade, por mais que tentemos fazer silêncio, não conseguimos. Estejamos onde estivermos, o que ouvimos é, essencialmente ruído. Quando o ignoramos, perturba-nos. Se o escutarmos, achamo-lo fascinante”. A verdade é que o autêntico concerto dos sons urbanos de Lisboa só ocorreu quando as muitas pessoas que se tinham deslocado à Praça do Comércio a começaram a abandonar e, numa Rua do Ouro engarrafada, um coral de buzinas de automóveis tomou conta do lugar. Está lá, todos os dias, pronto para ser desfrutado.
06 July 2013
Déjà vu
Olha... um primeiro-coiso (patriótico, claro!) com boneco de cartão ao lado outra vez... (mudo mas imensamente eloquente)
“Se me perguntam...
... se eu disse que era 'irrevogável'? Bruxo! Se me perguntam se eu disse que 'obedecia à minha consciência e mais não podia fazer'? Correcto e afirmativo. Se me perguntam se eu declarei que 'ficar no Governo seria um acto de dissimulação'? Olarilas. Se me perguntam por que motivo, então, fico? Sei lá! Se calhar é por causa das condições atmosféricas, como dizia o outro. Ou porque o gajo da Super Bock (rock'n'roll, yeah!) me convenceu que vende mais bejecas se eu estiver com a mão no pote (e, se ele estiver também, ainda melhor). Ou porque, quando ando de submarino, sou acometido pela embriaguez das profundezas. Ou porque digo sempre a primeira coisa que me vem à cabeça. Sou como a Jessica Rabbit, "I'm not bad, I'm just drawn that way".
Mas, pensando bem, no fundo, no fundo, acreditem, foi pela simples razão de que fiquei inteiramente convencido que isso conduziria a uma crise nas negociações com a missão externa, a que se seguiria uma crise do Governo, a que se seguiria um caos que levaria a desperdiçar todo o esforço já feito pelos portugueses (stop me if you think you've heard this one before)". (antecipação do discurso de Paulo Portas, logo ao fim da tarde)
Mas, pensando bem, no fundo, no fundo, acreditem, foi pela simples razão de que fiquei inteiramente convencido que isso conduziria a uma crise nas negociações com a missão externa, a que se seguiria uma crise do Governo, a que se seguiria um caos que levaria a desperdiçar todo o esforço já feito pelos portugueses (stop me if you think you've heard this one before)". (antecipação do discurso de Paulo Portas, logo ao fim da tarde)
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