03 September 2012

NÃO ARRISCAR


Ry Cooder  -  Election Special
   
Nas profundezas mais tenebrosamente perversas de alguns de nós, há um lugarzinho reservado para os formidáveis momentos de bom humor que os George W, Sarah Palin, e meninos guerreiros deste mundo nos garantem. Em instantes de especial desvario, sonha-se mesmo com a possibilidade de os podermos ter numa gaiolinha, na sala, onde nos animariam os dias e divertiriam as visitas com ditos de espírito e sabedoria como "norteio a minha vida pela simplicidade da procura do conhecimento permanente”. Nesta ordem de ideias, ser o feliz possuidor de um candidato à presidência dos EUA capaz de jurar que, em França, o casamento é um contrato estabelecido por períodos de 7 anos, homem para, por um descuidinho, fazer comícios eleitorais em estabelecimentos cujo proprietário é um conhecido narcotraficante, e que, em matéria de fé, avança para a Casa Branca absolutamente convicto de que Deus é um fulano de carne e osso que habita no planeta Kolob, seria puro luxo asiático. 



O problema grave é que, atrás disso, vem inevitavelmente agarrado lixo tóxico do género daquele que aprecia regressar à Idade Média arengando que mulher “legitimamente violada” não engravida. Ry Cooder prefere não arriscar e, em ano de eleições, qual Woody Guthrie ou Phil Ochs, não disfarça sequer de que lado está: desde a primeira canção, "Mutt Romney Blues", em que narra a história (verídica) de como, uma vez, o candidato mormon fez uma longa viagem com o seu setter irlandês amarrado à capota do automóvel e daí infere a idêntica sorte que poderão esperar os americanos até "Cold Cold Feeling", pretexto para pôr um Obama/T-Bone Walker a cantar “If they resegregate the White House, I’ll have to go in through the kitchen door”, o homem que trata os blues e tradições afins por tu oferece mais um belo exemplo de agitprop musicalmente superlativa.

No comments: