NÃO ARRISCAR
Ry Cooder -
Election Special
Nas profundezas mais tenebrosamente
perversas de alguns de nós, há um lugarzinho reservado para os formidáveis
momentos de bom humor que os George W, Sarah Palin, e meninos guerreiros deste
mundo nos garantem. Em instantes de especial desvario, sonha-se mesmo com a
possibilidade de os podermos ter numa gaiolinha, na sala, onde nos animariam os
dias e divertiriam as visitas com ditos de espírito e sabedoria como "norteio a minha vida pela simplicidade da procura do conhecimento permanente”. Nesta
ordem de ideias, ser o feliz possuidor de um candidato à presidência dos EUA capaz
de jurar que, em França, o casamento é um contrato estabelecido por períodos de
7 anos, homem para, por um descuidinho, fazer comícios eleitorais em
estabelecimentos cujo proprietário é um conhecido narcotraficante, e que, em
matéria de fé, avança para a Casa Branca absolutamente convicto de que Deus é
um fulano de carne e osso que habita no planeta Kolob, seria puro luxo asiático.
O problema grave é que, atrás disso, vem inevitavelmente agarrado lixo tóxico
do género daquele que aprecia regressar à Idade Média arengando que mulher
“legitimamente violada” não engravida. Ry Cooder prefere não arriscar e, em ano
de eleições, qual Woody Guthrie ou Phil Ochs, não disfarça sequer de que lado
está: desde a primeira canção, "Mutt Romney Blues", em que narra a história
(verídica) de como, uma vez, o candidato mormon fez uma longa viagem com o seu
setter irlandês amarrado à capota do automóvel e daí infere a idêntica sorte
que poderão esperar os americanos até "Cold Cold Feeling", pretexto para pôr um
Obama/T-Bone Walker a cantar “If they resegregate the White House, I’ll have to
go in through the kitchen door”, o homem que trata os blues e tradições afins
por tu oferece mais um belo exemplo de agitprop musicalmente superlativa.
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