ARTE TOTAL
(sequência daqui)
Björk - Biophilia
Por um pouco, quase escrevi: experimentemos colocar entre parêntesis toda a parafernália tecnológica associada a Biophilia e concentremo-nos na música. Mas muito rapidamente me apercebi de como isso seria não apenas impossível mas totalmente absurdo. Porque Biophilia, em rigor, não é um álbum mas, muito provavelmente, a primeira Gesamtkunstwerk (a obra de arte total wagneriana) da era digital.
O suporte iPad a partir do qual foi concebido determinou-lhe a natureza profunda e os jogos, as possibilidades interactivas, as animações, as partituras (convencionais e contemporâneas), as explorações espeleológicas da estrutura de cada tema, são-lhe tão intrínsecas quanto a invulgar instrumentação a que recorre – gameleste (um híbrido de gamelãs e celeste), bobina de Tesla, órgão digital de tubos, harpas pendulares, "sharpsicord" – ou o facto de la Guðmundsdóttir cantar sobre vírus, relâmpagos, placas tectónicas, estruturas de cristais, os astros ou a matéria negra. Se isso tudo soa a uma bizarra intersecção entre liturgias siderais, coreografias de mitocôndrias no interior de uma cristaleira, a melhor criação de sempre da National Geographic, e, no fundo, algo de tipicamente björkiano, serão, certamente, imprescindíveis diversas escutas para que aquilo que é, sem dúvida, admirável, possa vir a dar o salto quântico que lhe permita ser amado.
(2011)
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