23 March 2011

UM TEMPO DE CANALHAS






















Jorge de Sena

1. HEI-DE SER TUDO O QUE ELES QUEREM

(...) Um dia – podres na terra ou nos caixões de chumbo
estes zelosos treponemas lusos –
uma outra gente, e limpa, julgará
desta vergonha inominável que é
ter de existir num tempo de canalhas
de um umbigo preso à podridão de impérios
e à lei de mendigar favor dos grandes (...).

2. CANALHA

Como esta gente odeia, como espuma
por entre os dentes podres a sua baba
de tudo sujo nem sequer prazer!
Como se querem reles e mesquinhos,
piolhosos, fétidos e promíscuos
na sarna vergonhosa e pustulenta!
Como se rabialçam de importantes,
fingindo-se de vítimas, vestais,
piedosas prostitutas delicadas!
Como se querem torpes e venais
palhaços pagos da miséria rasca
de seus cafés, popós e brilhantinas!
Há que esmagar a DDT, penicilina
e pau pelos costados tal canalha
de coxos, vesgos, e ladrões e pulhas,
tratá-los como lixo de oito séculos
de um povo que merece melhor gente
para salvá-lo de si mesmo e de outrem
.

(2011)

4 comments:

Anonymous said...

"de um povo que merece melhor gente
para salvá-lo de si mesmo e de outrem"

É verdade, mas ninguém, além destes "canalhas", se candidata a governar este povo credor.
Os Antónios Barretos, Medinas Carreiras, Mários Crespos, Nunos Cratos desta vida nunca nos dão a oportunidade de lhes dar a oportunidade de nos salvar ou, pelo menos, de mudar o rumo deste rectângulo à beira mar plantado. "Eles falam, falam, falam ...".
À falta de melhor, não acreditando nos amanhãs que cantam e não nos sentindo capazes de os substituir, temos mesmo de nos conformar e escolher o "canalha" mais suitable.

João Lisboa said...

"Os Antónios Barretos, Medinas Carreiras, Mários Crespos, Nunos Cratos desta vida nunca nos dão a oportunidade de lhes dar a oportunidade de nos salvar"

E como o poderiam fazer? Por infiltração "trotskista" nos partidos existentes? Criando um novo? Se tiver uma solução na manga, diga.

Anonymous said...

Criar um novo partido não me parece assim muito complicado. É assim que se faz em todo o lado: França, Grã-Bretanha, Holanda, Suécia, etc. Sinceramente, não vejo aqui problema algum.

João Lisboa said...

E qual desses novos partidos se aproximou sequer do poder?

(oops, os neo-fachos, aqui e ali, conseguiram, é verdade...)