08 December 2010

A HIPÓTESE ACÚSTICA




















Neil Young - Le Noise

A Neil Young nunca poderá aplicar-se aquela frase – especialmente concebida para os intocáveis do Olimpo pop – que qualquer crítico de música (este incluído) tem sempre, pronta a utilizar, no seu kit de sobrevivência: “ele é geneticamente incapaz de gravar um mau álbum”. Não, Young ostenta desgraçadamente no currículo três ou quatro daqueles discos que, por toda a eternidade, nos interrogaremos acerca do que lhe passava pela cabeça quando imaginou que alguém no mundo aprovaria tal derramamento estético. Re-ac-tor (1981), colagem abstrusa à new wave, Trans (1982), uma inexplicável espécie de Kraftwerk de botas de cowboy, Greendale (2003), "audionovel" – com filme e álbum – político-ecologista-tolinha ou Fork In The Road (2009), elegia ao seu Ford Continental convertido às energias alternativas, não teriam deixado o mundo da música mais pobre se nunca tivessem acedido à existência física.



Esse lado de chutar para onde está virado – tanto quando apelou ao voto em Reagan como quando cantou (em Living With War, 2006) cobras e lagartos sobre W Bush – até poderá encantar por via de uma certa candura primordial mas, no que à música diz respeito, há que reconhecer que, aos sessentas bem medidos, já deveria ter digerido e regurgitado a norma rock’n’roll. Porque Le Noise é pouco mais do que uma demo-tape (processada pela máquina de efeitos sonoros de Daniel Lanois) de Neil para-os Crazy-Horse-sem-os-Crazy-Horse (i. e., voz e guitarra a solo), em que os únicos momentos que valem a pena são as revisitações da hipótese acústica em "Love And War" e "Peaceful Valley Boulevard". E quase só importa a perplexidade da primeira: “When I sing about love and war I don’t really know what I’m saying”. Mas alguém sabe, Neil?

(2010)

1 comment:

soso said...

O "Trans" é um excelente disco!