TRANSPIRAÇÃO
Bruce Springsteen & The E Street Band - London Calling/Live In Hyde Park (duplo DVD)
Steve Van Zandt está com um facies de peixe-balão e aquela pinta de fazer coagular o sangue do mais maligno Drácula que foi aperfeiçoando durante a sua vida paralela como Silvio Dante, nos “Sopranos”. Clarence Clemmons, o único saxofonista do mundo capaz de tocar com uma banda de rock sem que, do palco, comecem imediatamente a escorrer Amazonas de óleo, é um discreto (porém, contundente, quando necessário) faraó. Max Weinberg, após diversos anos à ilharga de Conan O’Brien, cada vez menos foge a ser visto como o atinado chefe de família, profissional de seguros, de dia, e baterista, à noite (mas, claro, com horários flexíveis).
E, se não existisse, Soozie Tyrell teria de ser inventada: não apenas porque o timbre do seu violino circula já na corrente sanguínea da E Street Band mas também pela não menos importante razão de que o seu glamour de loira cabeleireira suburbana é – na ausência de Patti Scialfa – o perfeitíssimo contraponto do bravo operário metalúrgico Springsteen, mouro de trabalho e jóia de rapaz que, mesmo já entrado nos sessenta, dá o litro como muitos de vinte não conseguem.
Perdoem-me se volto a citar Tiago Guillul mas, depois de três horas ininterruptas de concerto, em Hyde Park, com pôr-do-sol e tudo pelo meio, faltam-me as forças: “Sempre os mesmos acordes. Sempre os mesmos xilofones sentimentais. Sempre as mesmas capas péssimas em subtis variações de auto complacência. Sempre os mesmos optimismos insufláveis ianques. Sempre as mesmas queixinhas de classe média. Sempre a mesma coisa. Bruce Springsteen não sabe fazer maus discos". Este duplo DVD (um quase-greatest hits ao vivo) não só não é mau como é, deveras, óptimo. A intensidade pode ser, objectivamente, medida pelo alastrar das manchas de transpiração na camisa de Bruce: começam no segundo tema e, ao quinto, já está ensopada. E ainda faltam mais vinte e cinco.
(2010)
21 August 2010
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1 comment:
:D:D:D:D:D:D
É exactamente, exactamente isso.
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