22 March 2010

TREMOÇOS E MONTESQUIEU



"Entrei como cientista político, saí como antropólogo. Em Mafra, no congresso do PSD, vi pouca política, mas vi, ao vivo e a cores, a imensa selva social que é Portugal. Às tantas, até parecia que estava no meio de um imenso e caótico casamento cigano, cheio de mulheres lindíssimas claramente overdressed (no meio destas madrinhas de casamento, aqui o escriba parecia um pedinte). Neste caos antropológico, falei de quotas partidárias enquanto bebia umas imperiais com uns senhores simpáticos, e, logo a seguir, discuti Tocqueville com umas senhoras ainda mais simpáticas (além de giras, as rangelistas são inteligentes).



A gradação de inteligência do PSD vai assim desde a epistemologia do tremoço ao debate sobre o liberalismo clássico. O PSD junta, no mesmo espaço, taberneiros profissionais e 'caixas de óculos' da teoria política. Como podem calcular, esta amplitude térmica transforma o PSD numa coisa fascinante para qualquer repórter. No próximo congresso, quando voltar a ser o David Attenborough do PSD, espero encontrar uma rangelista a ler Montesquieu e a trincar tremoços ao mesmo tempo". (Henrique Raposo, "O Microscópio Laranja", "Expresso" de 20.03.10)

(2010)

2 comments:

marta morais said...

Pois diz que é mesmo isso: tenho um tio do PSD que se diz um homem de esquerda, e que defende (e é capaz de ser mesmo assim) que o PSD é o único partido em que ele pode dizer o que pensa, e o que lhe apetece.
Eu cá não tenho experiência partidária e sou de esquerda, bom, a maior parte do tempo, mas suspeito que nos outros partidos o pessoal tem que alinhar mais pelo mestre de orquestra senão vai com os porcos, como se dizia quando eu era adolescente.

João Lisboa said...

Pois eu suspeito que - com todas as idiossincrasias incluídas - são todos mais ou menos iguais.