11 DE SETEMBRO DE 2009 - AEROPORTO CHARLES DE GAULLE

18 horas. Cidadão europeu, com "print" do bilhete electrónico e documento de identidade na mão, após ter verificado que o voo Paris-Lisboa, da Air France, partiria da porta D70, dirige-se, no terminal D2, à área de embarque. Papéis verificados, segue para o ritual do detector de metais e hipotéticas irregularidades afins. Bolsos esvaziados de chaves e moedas, cinto retirado das calças. E a máquina, mesmo assim, uiva. Cerimonial da palpação e marcha atrás, para descalçar sapatos. Máquina aprova. Dirige-se à porta D70 onde só nesse momento se dá conta de que não fez ainda o "check-in" e, naturalmente, não possui o cartão de embarque. Estranho... será que é ali, na própria "porte" D70, que o deverá fazer? Quando o pergunta à sorridente moça de serviço, ela arregala os olhos, salta sobre o computador e treme-lhe a voz: "MAS, SEM CARTÃO DE EMBARQUE, NUNCA DEVERIA SEQUER TER CHEGADO AQUI!!!..." Pois é, mas tinha chegado. Pequeno rebuliço e inversão de percurso ("A culpa não é sua mas vai ter de sair, fazer o 'check-in' e repetir todo o processo"), com gentil mas visivelmente preocupado acompanhamento feminino. "Check-in" despachado e, de novo, chaves, moedas, cinto e sapatos sob apertada observação. Que isto, como o mundo está, com a segurança aérea não se pode brincar!...

Durante a restante hora que decorreu até à descolagem, o cidadão europeu do voo Paris-Lisboa, da Air France, enquanto bebericava uma Eau de Vittel morna, interrogou-se acerca de quantos artistas dados a práticas estéticas de intervenção urbana mais radicais, não circulariam por ali, perfeitamente despreocupados e sem cartão de embarque, naquele 8º aniversário do "nine eleven". Pelos vistos, nenhum. A arte já não é o que era.

(2009)