"RICH KIDS WANNA HAVE FUN"
Os Golpes - Cruz Vermelha Sobre Fundo Branco
Muito e mui justamente foi escrito acerca da recuperação da melhor época do pop-rock português (e em português) pela dupla de editoras teologicamente irmãs/desavindas FlorCaveira/Amor Fúria. Nem tudo – coloquemos os devidos pontos nos exactos "i" – estaria à altura do verdadeiramente óptimo IV, de Tiago Guillul, mas o ímpeto global do empreendimento estético apontava na direcção certa e, mesmo os mais filosoficamente agnósticos/ateus de entre nós, se renderam à singularidade planetariamente anómala de a reanimação da pop nacional se ver entregue a uma dupla brigada de militantes baptistas/católicos.
Agora, se não se incomodam, um ponto de ordem: o álbum de Os Golpes é bom mas – e isso importa e está na cara – totalmente derivativo do nacionalismo dos Heróis do Mar e pós-punk coevo. Mas, mais decisivo, et pour cause, muito melhor do que eu poderia dizê-lo, afirma-o Tiago Guillul no seu blog, "Voz do Deserto": "Sexta-feira passada, o concerto dos Golpes no Santiago Alquimista mostrou que também os "rich kids wanna have fun". Até para alguém politicamente conservador, como eu, era desconfortável o ambiente. Umas centenas de miúdos bem nascidos ansiosos para fazer daquele 1 de Maio o seu 25 de Abril. No que diz respeito à luta de classes, Marx não se enganou. Existe. E eu vi-a, irremediavelmente favorecendo os verdugos do proletariado, em compasso quaternário com estes olhos que a terra há-de comer". Como diria o ateu Lenine, "que fazer?".
(2009)
15 June 2009
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13 comments:
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Caro João,
O título do assunto cola-se ao assunto referido. Não acho ofensiva a comparação, acho-a falsa e desinteressante. Entendo a fantasia jornalística à volta da questão social e religiosa e entendo ser preocupante que se escreva mais sobre isso do que sobre as canções e o trabalho desenvolvido. Também há quem afirme que encontrei a minha St. Vincent. Na minha opinião a minha St. Vincent é melhor que a original por isso vou gravar a sua voz.
Abraço,
Almirante.
Sr. João Lisboa, permita-me dar a minha opinião e discordar de parte da sua análise apresentada neste post. Não considero o álbum d'Os Golpes bom. Conforme descreve chamando à arena os Heróis do Mar, falta-lhe originalidade, o que na minha opinião é um vector fundamental para catalogar qualquer disco de bom.
Contextualizando:
O comentário do Almirante é resposta ao meu comentário na Ribeira das Naus
https://www.blogger.com/comment.g?blogID=6078816712931846198&postID=3460564187149495975
relativo ao post dele também aí:
http://ribeiradasnaus.blogspot.com/2009/06/mal-entendido.html
"Entendo a fantasia jornalística à volta da questão social e religiosa e entendo ser preocupante que se escreva mais sobre isso do que sobre as canções e o trabalho desenvolvido"
Não sei o que é a "fantasia jornalística" - as generalizações são sempre um disparate - (por isso, não a "entendo" nem deixo de "entender") mas sei que não fantasiei. E também sei que (têm todo o direito de o fazer) o tema "religião" não só não é escondido como bravamente puxado para a frente pelos músicos das Flor/Amor. E não tenho reparado que se escreva menos (eu, de certeza, não) sobre "as canções e o trabalho".
"O título do assunto cola-se ao assunto referido. Não acho ofensiva a comparação, acho-a falsa e desinteressante"
Claro que cola. Mas limitei-me a citar o Tiago. E não me parece "falsa" nem, muito menos, "desinteressante". Pelo contrário: poderia ser até um óptimo tópico de discussão.
"a minha St. Vincent é melhor que a original"
Não conheço. Mas, se for, só pode ser óptima.
Paulo César: "falta-lhe originalidade, o que na minha opinião é um vector fundamental para catalogar qualquer disco de bom"
Há muito bons discos nada originais. Essa obsessão pela "originalidade" é uma ideia excessivamente... "moderna". Claro que convém também não dar demasiada trela à - abundantíssima - seita do copy+paste. E os Golpes, uma vez passada a etapa de excessiva proximidade à coisa heróica, podem facilmente largar a antiga "pele" e descobrir voz mais própria.
Caro João
No final resume-se tudo a nomes, a classes sociais, a religiões e crenças. Essa é a tal fantasia jornalística e de alguns artistas à volta da música pope. Seria bom que isto tudo caísse e sobrassem apenas as canções e a sua verdade. Está compreendido e aceite.
Abraço,
Almirante.
Não me parece que fosse necessariamente bom que "isto tudo caísse e sobrassem apenas as canções e a sua verdade", O resto, à volta, poderá não ser o mais importante - não é, de certeza - mas não deixa de ser interessante como tema de discussão. Não em modo tablóide/twitteiro mas como o lado "contextualizador" da coisa.
Abraço retribuído.
É a velha luta de classes.
(só para equilibrar as pontuações aqui na caixa de comentários - eu acho o álbum dos Golpes "muito bom +" e "original")
Continuação aqui:
https://www.blogger.com/comment.g?blogID=6078816712931846198&postID=3460564187149495975
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