20 March 2009

VIGÉSIMO NONO COMUNICADO DO C.A.L.A.
(Comité de Apoio a Laurinda Alves)




Da obra maior da candidata Laurinda - Atitude Xis: Um olhar positivo sobre a vida -, divulgamos hoje o poema/texto confessional "Gosto Muito", momento fundador do optimismo lírico lusitano e lugar de confluência cósmica onde um panteísmo ingénuo se confunde com o "stream of consciousness" joyceano e com o arrebatamento emocional que Cristina Caras Lindas plasmou nesse outro marco geodésico da literatura contemporânea, Sandálias de Prata.

GOSTO MUITO...

Gosto muito
da lua cheia
do silêncio puro
da geometria da minha rua
dos dias compridos
de abraços demorados
de sorrisos no elevador
de pessoas autênticas
de conversas eternas
das janelas todas abertas sobre o rio e a cidade
de luzes baixas e amarelas dentro de casa
de quadros grandes
da cor do fogo
de todas as estrelas do céu
do sol da manhã e da luz do dia
do barulho do mar ao entardecer
da maré vazia ao fim do dia
do vento quando deixa marcas na areia lisa
do rumor vegetal das folhas nas árvores
do manto lilás das folhas de jacarandá que cobre o chão
de coincidências, surpresas e milagres
de ver pessoas felizes
de olhos que riem
de cidades grandes com rio
da voz dos que amo
de estar calada
da casa cheia de amigos
de jantares improvisados
de ouvir tocar piano e violino sempre
de ficar abstracta, às vezes
de livros e de poetas



de acordar tarde
de certas rotinas
de me esquecer das horas
da areia da praia ao meio dia, quando está a ferver
das vozes descombinadas no ar nas tardes de calor
do rapaz que passa na mota, ao meu lado
de quando sai a correr para a última fotografia com a luz do dia
dele muito mais do que ninguém
de saber que ele sabe isso
gosto da luz dourada do entardecer reflectida nos seus olhos
gosto da intimidade
da verdade e da cumplicidade
de templos e lugares sagrados
de horizontes líquidos
do azul infinito
de riscos brancos no céu
da cor púrpura do entardecer
de histórias de pessoas
de descobrir umas mãos fortes
de ir mais longe com alguém
dos que rezam comigo
da lua árabe só com uma estrela, no alto do céu
de ficar em casa, embalada nos barulhos da casa
de ainda ter comigo todos os que mais amo
de adormecer e de sonhar acordada
de amar e ser amada
de ser alguém especial
do amor dos amigos também
de estar com eles na praia até ser noite
de tantas outras coisas
e da vida, todos os dias.


(2009)

15 comments:

Anonymous said...

Belíssimo. E para acompanhamento musical proponho isto:

http://www.youtube.com/watch?v=g7aoPBzkYK4&feature=related

Anonymous said...

E comparando o lirismo de um Paul Celan com o lirismo da Laurinda Alves, o primeiro sai a perder. Também não se percebe que este poema não tenha sido incluído na antologia Rosa do Mundo, da Assírio. Fica mais uma vez provado que este País é governado por elites culturais que desprezam os valores nacionais autênticos.

Táxi Pluvioso said...

Me gusta...

cj said...

eh eh

Filipa Júlio said...

a mais intrigante:
"gosto muito...dos que rezam comigo"
??????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????

Anonymous said...

"gosto muito de ficar abstracta"
LOL !!

fallorca said...

A lista é exaustiva ou de conveniência?

ana salomé said...

'de estar calada' :D

ND said...

só me ocorre sublinhar com a praxe mais obtusa e de uso corrente nestes casos: minha senhora, gostos não se discutem...

sebastian spini said...
This comment has been removed by the author.
sebastian spini said...
This comment has been removed by the author.
sebastian spini said...

Aceitam-se novos membros para o C.A.L.A.? Preciso de uma causa na minha vida :)

João Lisboa said...

O C.A.L.A. é uma estrutura aberta de apoio à candidata Laurinda e que apenas exige dos seus militantes um sorriso no olhar e uma imensa capacidade de, no fundo do mais escuro poço, enxergar o brilho das estrelas que, lá em cima, cintilam.

menina alice said...

Reparo que a candidata não aprecia Pringles ou Sunny Delight (California). E eu preciso de me identificar.

João Lisboa said...

Até pode ser que aprecie. Só não entendeu referi-lo aqui. São coisas demasiado íntimas.