29 March 2009

RETOMANDO A "ARTE DA MENTIRA POLÍTICA"...

... John Arbuthnot - leitura obrigatória em ano de balanço e peleja eleitoral - derrama detalhada e utilíssima sabedoria sobre os praticantes da arte e, uma vez mais, demonstra a validade eterna do epigrama de Jean-Baptiste Alphonse Karr, "plus ça change, plus c'est la même chose":


John Arbuthnot

"Quanto às mentiras que se propalam no público para animar e encorajar o povo, vejamos por ora as regras que o Autor prescreve. Não devem tais mentiras, diz-nos ele, exceder os graus ordinários de verosimilhança; deverão ser variadas, não se insistindo com teimosia só numa delas. E quanto às que contêm promessas ou prognósticos, prudente não será fazer previsões a prazo breve; seria o mesmo que exporem-se à vergonha e ao transtorno de a breve trecho se verem impugnados e convictos de falsidade. (...) Quanto ao prodigioso, quer dizer, quanto às mentiras que anunciam prodígios, contenta-se o Autor, dirigindo-se aos que queiram inventá-las, com dar-lhes à laia de regras os seguintes conselhos:



que os Cometas, as Baleias e os Dragões sejam de tamanho razoável e proporcionado; e que a respeito das trovoadas, das tempestades e dos tremores de terra convém sempre pressupor e anunciar irem acontecer em comarcas que fiquem afastadas do sítio em que se esteja obra de pelo menos uma jornada a cavalo. (...) Já para o fim deste capítulo, dá como conselho aos chefes de partido que não creiam excessivamente nas suas próprias mentiras; e lhes propõe o exemplo do que tem sucedido nestes últimos anos, em que um partido sábio e uma sábia nação trataram de seus negócios com base em mentiras de sua própria invenção. Supõe ele que a causa disso deva ser atribuída a exagerado zelo, a um excesso na prática de tal arte, e bem assim a uma acalorada veemência nas conversas; zelo este, e excesso, e veemência, por via dos quais uns aos outros nos vamos convencendo de que aquilo que queremos e recitamos como verdadeiro, o é de facto".

(2009)

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