07 March 2009

1995, ANO GAINSBOURG


Anita Lane - "The World's A Girl"


Mick Harvey (featuring Anita Lane) - Intoxicated Man

No primeiro álbum de Anita Lane, Dirty Pearl, já se podia escutar "The World's A Girl", que dá título ao seu novo single. Mas o que, aqui, realmente conta é a faixa que, de certo modo, assinala a consagração do quase ano-Gainsbourg em que, inesperadamente, 1995 se está a converter. Depois da versão "oculta" de "Bonnie and Clyde" pelos Luna e Laetitia Sadier (Stereolab) em Penthouse, neste CD-single, Lane e Nick Cave procedem à troca de fluídos corporais ao som de "Je T'Aime, Moi Non Plus" convertido em "I Love You, Nor Do I", exercício de tantrismo existencialista, com Lane - voz oficial e suprema da sedução - nada inferior à original Jane Birkin.



É, porém, em Intoxicated Man, que a evocação de Serge Gainsbourg ganha um fôlego maior: dezasseis canções do "presque-Bukowski" da canção francesa traduzidas para o inglês por Mick Harvey e, em considerável percentagem, "featuring Anita Lane". A afinidade entre Gainsbourg, Harvey e a seita Cave/Bad Seeds em geral não andará muito longe daquela ideia oferecida por Woody Allen numa entrevista em que alguém lhe perguntava se o sexo era uma coisa suja e ele respondia "Only if it's good". Uma outra poderia ser a que eventualmente acontece entre um conjunto de anteriores estetas do ruído branco que a evolução "natural" converteu à matriz da canção clássica condimentada pelo mergulho na vertente assombrada do mundo, e alguém como Gainsbourg que, do outro lado da Mancha, tratava esse idioma por tu.



No caso, tudo se inicia como deve por "69 Erotic Year", acelera o andamento com "Harley Davidson" e, de "Sex Shop" a "Overseas Telegram", "The Song Of Slurs", "Lemon Incest", "New York USA" e "Initials B.B.", gera o tipo de disco em que o autor (que, na capa e contracapa, nos observa através de um copo de vinho meio vazio) nunca poderá ser ascusado de "tradução" como sinónimo de "traição". Barroco - os arranjos de Bernard Burgalat fazem muito por isso - sensual e admiravelmente decadente, Intoxicated Man é fundamental e obrigatório.

(1995)

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