A TEIA-FAIRPORT
Fairport Convention - What We Did In Our Holidays e Unhalfbricking
(What We Did In Our Holidays integral aqui)
Há discos cujas editoras, por superior imperativo legal transnacional, deveriam estar obrigadas a reeditar ao primeiro indício de desaparecimento no mercado. Os dois primeiros dos Fairport Convention (se descontarmos o ensaio “de aquecimento” de Fairport Convention, 1968, quando Judy Dyble – famosa por, em concerto, nas canções em que não intervinha, se sentar à boca de cena, a tricotar – ainda era a cantora do grupo) caem, de pleníssimo direito, nessa categoria: raras vezes na história da música popular contemporânea se reuniu numa única banda tão prodigiosa e fecunda semente de tanto do que viriam a ser algumas das mais notáveis trajectórias (individuais e colectivas) do último meio século. Não por acaso, em The Complete Rock Family Trees, de Pete Frame, publicado pela Omnibus Press em 1993, a gigantesca genealogia dos Fairports ocupa lugar de relevo. Dos Steeleye Span aos Fotheringay (cujo oculto e, até agora, ignorado segundo álbum acaba de ser exumado) ou The Bunch, às séries Morris On/Compleat Dancing Master, às diversas encarnações da Albion Band, às discografias de Sandy Denny e Richard Thompson (a solo e com Linda Thompson), à persistente carreira dos sobreviventes que, anualmente, desde 1977, se reúnem no Cropredy Festival, ou aos inúmeros pontos intermédios e outras dificilmente recenseáveis intersecções, a teia-Fairport é densa, intrincada e extraordinariamente rica.
E, afinal, em What We Did On Our Holidays e Unhalfbricking (ambos de 1969), não era impossível adivinhar que aquela banda na qual, aos 23 anos, Ashley Hutchings fazia o papel de ancião (Ian Matthews tinha 22, Sandy Denny, 21, Simon Nicol, 18, e Martin Lamble e Richard Thompson, 19) tinha digerido por completo a história do rock e da folk e, em versões de Dylan ou Joni Mitchell, em revisões de “tradicionais” ou em assombrosos temas originais – “Fotheringay”, “Autopsy”, “Meet On The Ledge”, “Who Knows Where The Time Goes”, “Genesis Hall” – estava madura para entrar de imediato nos compêndios. Faltava apenas Liege & Lief (ainda de 1969, annus mirabilis-Fairport), alegada pedra inaugural do folk-rock britânico – apesar de “A Sailor’s Life”, de Unhalfbricking, já o anunciar – para que a trilogia de ouro de uma discografia de infrequente prata se concluísse. Reedite-se assim que, de novo, se esgotem.
(2008)
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