31 May 2008

TOM WAITS: AUTOBIOGRAFIA EM PEQUENAS PRESTAÇÕES, DITOS DE ESPÍRITO E SABEDORIA (XXXVI)



"É verdade que a minha música se tem tornado cada vez mais despojada. Até se reduzir quase só a uma frase. Sinto necessidade de qualquer coisa rudimentar, fundamental. Actualmente, prefiro escrever sem nenhum instrumento, só com a minha voz. E estalando os dedos. Isso liberta-me da tirania do teclado ou da escala da guitarra. A perfeição é inimiga do bom. Repare na pop: actualmente, parece o Exército de Salvação, uma troca de trapos velhos. Mesmo que se coloque dezassete instrumentos numa canção, ela continuará desencarnada. O que faz falta são canções. O que é superficial desaparecerá. No hip-hop, uma bateria e um órgão podem chegar. São simétricos, satisfatórios. E quais são as raízes do hip-hop? Os blues.

(...)

"Descobri os blues quando era miúdo, ainda que os artistas mais importantes para mim fossem os tipos da country: Johnny Horton, Bobby Bare, Marty Robbins. Foi uma transmissão filial: em San Diego, vivia ao nosso lado uma família de boémios, entre os quais um leiteiro estranho. O meu pai e ele trocavam discos. E o organista da igreja era doido por blues. A música difundia-se através da rádio, do boca-a-boca, dos viajantes. Hoje em dia, é muito mais simples descobrir coisas, na minha opinião, simples de mais até. Sentamo-nos ao computador e podemos encontrar tudo o quisermos sobre qualquer artista. Há muito mais do que o necessário e não é preciso fazer nenhum esforço. Não digo que seja forçosamente mau. Mas, para criar, é necessário batermo-nos por isso, perdermo-nos, dissiparmo-nos. Ser músico é tentar invocar a sorte. Agrada-me muito a ideia de combater um inimigo invisível. Se, ao fim de um dia no estúdio, não estou de gatas e com os cabelos em pé, é porque a coisa não correu nada bem.

(...)



"Encontrei-me com o Bukowski uma ou duas vezes. Foi mais ou menos como quando conheci o Keith Richards, procurei enfrentá-los copo a copo. Mas, ao pé daqueles tipos, é-se sempre um principiante, uma criança. Estamos a beber com piratas de longo curso. É melhor esquecer tudo o que julgamos saber acerca de beber sem cair para o lado. Estava convencido que lhes podia dar luta mas, tanto com um como com o outro, nem lá perto cheguei. São feitos de outra massa. Parecem estivadores. Mas foi muito interessante.

(...)

2006



(2008)

5 comments:

Anonymous said...

I came across this blog on http://lishbuna.blogspot.
com/ and if I can I want to suggest to you some helpful
things or ideas. Maybe you could write your next articles referring to these ideas.

I would like to read more stuff concerning what you're talking about.

my web-site ... where to offer my gold,

Anonymous said...

Came across your blog via http://lishbuna.blogspot.
com/. Have you got a few tips on how to get indexed
in http://lishbuna.blogspot.com/? I've been concentrating on it for a little bit but they still won't take me.
Thanks

Feel free to visit my weblog :: http://s386563938.online.de/

Anonymous said...

What's up, after reading this amazing piece of writing i am as well delighted to share my familiarity here with colleagues.

Here is my blog - planification

Anonymous said...

I'm astounded at how effortless you make this topic look via your articles, though I must say I still don't quite fully
grasp it. The whole thing just goes over my head because of how intricate and broad it all
is.. I am eager for your subsequent publishings, I will try to get the gist of it.


My homepage; 6449

Anonymous said...

A fellow blogger here, found your site via ImpressPages, and I have
a piece of advice: write more. Literally, it feels as though
you depended on the clip to make your point. It's obvious you know your stuff, so why not use your knowledge to write something more significant and put the video as something secondary (if there at all)?

Look into my blog ... 51262