PALAVRAS E GUITARRAS
(fechando um círculo a partir daqui...)
(foto)
Uuuuf!... Não são bons, são magníficos. Em cima de um palco, quero dizer. Pelo menos, no da Aula Magna, há meia dúzia de dias. Explico-me: depois de Alligator e Boxer, ninguém se atrevia sequer a pingar o primeiro ponto de reticências acerca da grandeza de The National enquanto autores de algumas das mais assombrosas canções contemporâneas, deste lado de David Berman, Mark Eitzel ou Micah P. Hinson. Mas – relatórios de campo e histórias avulsas chegavam daqui e dali –, poderíamos encontrar-nos perante um novo “caso Go-Betweens”: sublimes em disco, constrangedores (muitas vezes) ao vivo. Nada que diminua uma obra mas que pode comprometer bastante alguns preciosos encontros imediatos. Foi coisa de instinto: o som de “Brainy” – a turva obsessão “you know I keep your fingerprints in a pink folder in the middle of my table” –, abertura dos trabalhos, poderá não ter sido transcendente mas havia matéria de facto suficiente para adivinhar que se estava a fazer História (sublinhem a maiúscula). Estava. Daí em diante, Matt Berninger, o seu templo do duplo par de anjos gémeos caídos e o violinista demente, Padma Newsome, ungiram a mole. “Squalor Victoria”, “Abel”, “Fake Empire”, “Mr. November” (com imersão – espontânea? calculada? que importa? – na massa dos fiéis) operaram, caso ali houvesse almas a converter, infinitas conversões instantâneas e meia dúzia de apocalipses sonoros. Incêndios de guitarras e palavras. E uma escansão rítmica que dividia e multiplicava uma espécie de poética cardiográfica quase absurdamente matemática. Demasiado perfeito para sonhar vê-los outra vez. (2008)
12 comments:
Nessa referência aos "autores de algumas das mais assombrosas canções contemporâneas" não havia espaço para Bill Callahan e Bonnie Prince Billy? Ou foi só uma questão de comprimento da frase?
:D
Belo texto.
Costuma resolver-se esse problema com o "entre outros". Ou, então, há que fazer sempre, repetidamente, a "listinha" integral.
Publicaste uma foto minha... Obrigada. :)
Quem tem de agradecer sou eu.
Ora essa! E linkaste-me ali no Forster também. :) Hoje vou estar cheia de visitas. Acho que que me vou aperaltar com um trapito mais fashion, sapatito de salto alto e meicup. :D***
«Nessa referência aos "autores de algumas das mais assombrosas canções contemporâneas" não havia espaço para Bill Callahan e Bonnie Prince Billy?»
«Costuma resolver-se esse problema com o "entre outros".»
Por acaso, não vejo nenhuma grandeza nas canções do Bill Callahan, só aborrecimento. Das várias facetas de Will Oldham, gosto muito do The letting go e do Viva last blues, mas, reflectindo um pouco, para a ilha deserta só levava o There is no-one what will take care of you, apesar de toda a poeira que levanta e de aparentar ter sido gravado com os restos dos instrumentos que outros músicos por lá deixaram.. Mas é só uma opinião. O João Lisboa é que faz parte da mitologia da crítica nacional...
"Por acaso, não vejo nenhuma grandeza nas canções do Bill Callahan"
Sugiro então uma nova análise:
Butterflies Drowned In Wine
"Move the tables and the chairs aside
And give me some room
I'm going to show you something
You won't soon forget"
...
"I'm headed into town
Where up is up and down is down
None of this fumbling around"
Morality
"I could kiss you
The sunlight coming through your blouse
Words wont tell me what your bodys all about
I could take you
You could take me
With hands and hair and eyes and bones and
knees"
Vessel In Vain
"I cant be held responsible for the things I say
For I am just a vessel in vain"
Truth Serum
"Do you miss me, when I go
Honey I love you and thats all you need to know
Well then, what is love
Love is an object kept in an empty box
How can something be in an empty box
Well well give me another shot
Of that truth serum"
I'm New Here
"She said i had an ego on me
The size of Texas
Well I’m new here and I forget
Does that mean big or small"
Ao Paulo Duarte Barbosa:
Merece-me o máximo respeito pelo tempo que perdeu a tentar demonstrar a qualidade do Bill Callahan e sei que é muito mais fácil dizer mal da obra de um artista do que defendê-lo, por isso a vantagem está do meu lado, mas o mérito pela defesa de um autor que tanto aprecia é todo seu.
Infelizmente, não me consegue convencer. Todos as letras de canções que me mostrou, sem prejuízo de serem incorrectamente interpretadas por estarem fora do seu habitat natural, parecem-se francamente banais e saídas directamente da pena de um aluno da escola secundária com boas notas em literatura. Depois, temos as canções. Só consegui ouvir Morality, Vessel in vain e Truth serum. A fórmula usada (nem se pode, sequer, falar em criação) é sempre a mesma. Escuta-se um esboço de melodia, mas depois a canção enrola-se e ficamos por ali, numa pasmaceira, à espera que o autor consiga desatar o nó. E o tédio cresce e vai-nos moendo o juízo. Folk anémica e pouco mais que sofrível e uma imagem que nunca mais esqueço: Bill Callahan a dizer «give me another shot» como quem está, que maçada, a arrumar as compras feitas no supermercado. Que intensidade! Nele, só vejo um gesto digno de admiração, é a sua absoluta coerência em fazer canções: são todas iguais.
P.S. Continuo a insistir: é uma simples opinião dada por uma pessoa vulgar que não tem qualquer relevância. Não me pretendo colocar a um nível superior. Se as canções dele a si lhe tocam tanto, continue a ouvi-las com o mesmo prazer como o tem feito até agora.
Saudações cordiais.
Caro rui g:
Não estou habituado a estas argumentações em caixas de comentários de blogs. Sinto-me claustrofóbico.
Ainda que o blog seja o do João Lisboa. Dificilmente encontraríamos um melhor onde falar sobre música.
Por outro lado, pode ser que a exposição não seja muita e tenhamos aqui um bom cantinho.
Em relação à música, sempre defendi que é suficiente ouvir.
Parece que estamos de acordo nesse ponto.
Quando diz "infelizmente, não me consegue convencer", acredite que nunca foi essa a minha intenção. E acredite também que, a infelicidade de não conseguir gostar, é uma coisa que me deixa preocupado. Muitas vezes dou por mim a querer gostar de qualquer coisa e não consigo. Infelizmente. Por isso compreendo perfeitamente o uso dessa palavra na sua frase.
Como deve imaginar, não concordo com rigorosamente nada dos aspectos que decidiu analisar. E acho que nasce precisamente do que diz: "sei que é muito mais fácil dizer mal da obra de um artista do que defendê-lo".
Não vou fazer aqui uma defesa dos méritos das músicas do Bill Callahan. Aliás, não acredito em nenhuma espécie de evangelização na música. Cada um ouve o que bem lhe apetece. Só acho um grande desperdício de tempo preocuparmo-nos em analisar profundamente uma coisa quando, à partida, já sabemos que não gostamos. Então em relação à música, ainda menos sentido faz com tantas coisas boas que por aí existem. Com certeza concorda comigo. Mesmo sabendo que o anfitrião do blog é um daqueles que gosta de escrever e de alimentar "pequenos ódios de estimação" em relação a alguns nomes. Acho isso engraçado. Não mais do que isso. Procuro dar importância apenas às críticas que tentam valorizar alguma coisa. Prevenirem-me em relação a um mau disco, não resulta. Quando ouço um mau disco, sei isso instintivamente. Não preciso nem quero que percam tempo a justificarem-me porque não gosto. Ao contrário, já me interessa mais. Alguém verbalizar os aspectos positivos de uma coisa que me agrada.
Apenas alguns apontamentos curtos:
“Que intensidade!” – concordará comigo que, neste tipo de música, a intensidade não terá certamente muita relevância. Numa música da Celine Dion é certamente uma questão importante. Aqui não me parece.
“absoluta coerência em fazer canções: são todas iguais.” – Ri-me com a ironia e devolvo-a: todas estas músicas são iguais? Curiosamente, alguns críticos dizem exactamente o mesmo acerca de toda a carreira do Tom Waits. Na minha opinião estão correctos. Todas iguais: todas excelentes canções.
Devolvo um conselho: se as músicas de Bill Callahan lhe moem o juízo e o enchem de tédio, fuja delas a 7 pés.
Eu vou continuar a ouvir, claro.
Pelo que percebi, nomes como David Berman, Mark Eitzel ou Micah P. Hinson não lhe causam o mesmo efeito. Eu diria que fica igualmente bem servido.
Acerca do seu P.S. – uma opinião simples dada por uma pessoa vulgar tem, para uma pessoa como eu, que procura dar opiniões simples, muita relevância.
Abraço
Caro Paulo Duarte Barbosa:
É, efectivamente, um desperdício de tempo andarmos a analisar coisas que, à partida, não gostamos. Isso sente-se instintivamente. Só tentei seguir a sua sugestão. De qualquer modo, o pecado original foi meu. Resta dizer-lhe que não me apetece esgrimir mais com uma pessoa que, segundo pude avaliar pela consulta que fiz ao seu blog, está, na grande maioria dos casos (estéticamente falando, claro), do mesmo lado da barricada. Afinal, as afinidades são mais que muitas.
Alguma coisa de positivo resultou desta troca de ideias: conquistou mais um leitor para o que escreve.
Um abraço.
Vou tentar fazer poucas referências a Bill Callahan
:p
Abraço
Todos muito freudianos. A música é uma experiência sensorial.
The National me corta. Isso é o mais importante. "The first cut". O resto é conversa de intelectuais.
Post a Comment