MANIFESTO DE BREVIDADE
(repescado a partir daqui)
Tindersticks - Can Our Love
Quarenta e cinco minutos e oito canções. Um pequeno e discreto manifesto de brevidade (só contrariado pela maior extensão de alguns temas) onde Stuart Staples e os seus nada "merry men" de Nottingham se entregam a uma pessoalíssima variação sobre o vocabulário da soul clássica na qual, desta vez, tudo se desenvolve muito menos a partir do arrebatamento romântico das melodias e das orquestrações para se concentrar numa espécie de manso exacerbamento da interpretação — ainda que falar de exacerbamento, no caso dos Tindersticks, deva ser sempre encarado dentro dos limites de uma refinada e decadente elegância...
Se "Dying Slowly", a canção inicial, parece remeter ainda para o modelo reconhecível da melancolia "à la" Tindersticks, "People Keep Comin' Around", a seguinte, é já só quase um exercício de rítmica pneumática em torno de um "groove" francamente reminiscente de "Riders On The Storm", dos Doors, e, após a flutuante litania sonâmbula de "Tricklin'", "Can Our Love" regressa ao modelo da balada soul num certo registo-Otis Redding sobre sopros e fraseado líquido de guitarra, "Sweet Release" alimenta-se de um lânguido riff de Hammond e de um suave crescendo sublinhado pela soulíssima reiteração do refrão, "Don't Ever Get Tired" prossegue na mesma via e "No Man In The World" e "Chilitime" acentuam a tendência através da quase recitação do texto e pela redução ainda mais pronunciada do andamento. Na verdade, nada de extraordinariamente novo no universo musical dos Tindersticks, que implicitamente, desde sempre, se lhe referia. Mas, inegavelmente, uma inteligente e sofisticada alternativa que, sem desvirtuar a personalidade do grupo, lhe permitiu ainda mais um álbum daquela imaterial poética das emoções que estabeleceu como o seu único território.
(2001)
27 May 2008
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1 comment:
O burrito é da Abkhazia, é.
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