À LETRA
Tindersticks - The Hungry Saw
Não há-de ser impunemente que uma parceria de criação de canções (e do indispensável “mood” conferido pelos arranjos de cordas e sopros) se vê, subitamente, amputada de uma das metades. Dickon Hinchcliffe, o violinista, multi-instrumentalista e arquitecto da obscura catedral de melancolia “noir” que foi sendo edificada ao longo de quinze anos e seis álbuns, cindiu a parceria com Stuart Staples e, ao mesmo tempo, partiram também o baterista Alasdair Macaulay e o baixista Mark Colwill. Ou seja, meia alma e a totalidade da bomba cardíaca dos Tindersticks. Reduzidos, assim, a um trio – Staples, o guitarrista, Neil Timothy Fraser, e o teclista, David Boulter – obrigado a recorrer a mão-de-obra de estúdio para completar o elenco, poder-se-ia supôr que The Hungry Saw fosse sério ponto de viragem para o que resta da banda de Nottingham.
Puro engano: o álbum empenha-se em reconstituir integralmente tudo aquilo que nos habituámos a reconhecer como traços da identidade estética dos Tindersticks e, nessa exacta medida, é mais uma belíssima colecção de canções na qual o que parece verdadeiramente milagroso é não se dar pelas profundas convulsões a que a anatomia interna da banda foi submetida. Porém, se escutarmos um pouco mais de perto, talvez possamos reparar como essa desesperada colagem à sua imagem de si mesmos, gera tão só a música de um colectivo que parece resignado a criar “by the book” – ainda que seja o seu próprio e valioso “book” – e se satisfaz em seguir à letra um bastamente testado roteiro.
(2008)
23 May 2008
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4 comments:
Estes não conheço.
Este será mais um ano português. Vamos ganhar o Euro e o Festival da Eurovisão. Esta dobradinha merece mais um aumento na gasolina, para festejar.
Mas afinal o disco é sim, não ou assim assim?
É que tinderstico-me com uma pinta do caraças
Pelo que entendi do texto, parece que é sim-assim.
"Mas afinal o disco é sim, não ou assim assim?"
É "sim, mas".
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