08 December 2007

OVNI ISLANDÊS



Benni Hemm Hemm - Kajak

A Islândia tem uma população global – 307 000 habitantes – que é cerca de um décimo da da Grande Lisboa. Mas, para esse reduzido número de habitantes, existem no país noventa escolas de música e conservatórios, dos quais, perto de cinquenta na capital, Reykjavik (115 000 habitantes). O documentário Screaming Masterpiece, de Ari Alexander Ergis Magnússon, exibido na edição do ano passado do IndieLisboa, oferecia uma esclarecedora panorâmica desse muito pequeno universo, suficientemente rico culturalmente, no entanto, para já ter oferecido ao mundo os Sugarcubes, Björk, Sigur Rós, Múm, Gus Gus e os diversos outros que o filme nos dava a conhecer.



A Morr Music é uma diminuta editora independente alemã, sedeada em Berlim e fundada em 1991 por Thomas Morr e Jan Kruse, dois naturais da cidade – Hameln – do lendário flautista genocida de ratos e crianças. No seu catálogo (inicialmente inspirado no modelo de pioneiras como a 4AD e Touch e em princípios tão simples como “criar uma editora própria para não ter de trabalhar com idiotas” ou “contratos?... não, não é isso que nos interessa”), incluem-se músicos e bandas de pop discretamente electrónica, jazz heterodoxo e marginália afim, da estirpe de Ms. John Soda, The Notwist, Tied & Tickled Trio, Lali Puna, Múm, Bernhard Fleischmann ou Tarwater. E agora também – num encontro que se diria absolutamente natural e previsível – o islandês Benedikt H. Hermannsson, aliás, Benni Hemm Hemm. Porquê natural e previsível?



Pela muito simples razão de que a inteiramente inclassificável música de Benni apenas poderia ser condignamente acolhida por uma editora cujo ADN estético a conduz a apostar instintivamente em algo com tão poucos ou nenhuns pontos de contacto com o cânone pop corrente como Kajak: visceralmente islandês na sua singularidade de OVNI musical a que não ocorre sequer incluir na equação o mínimo gesto de identificação com aquilo que é suposto ser a via do êxito-pop, propõe treze temas de feição folk rústica (cantados em islandês ou exclusivamente instrumentais) que ora se ficam pelo miniatural mantra melódico/harmónico de cristal, ora descolam em arrebatamentos de big-band de sopros, guitarras, bateria e glockenspiel, ora se mascaram de Jonathan Richman atacado de elevadíssima febre-punk, ora ensaiam o casamento improvável entre Sufjan Stevens, Phil Spector, Glenn Miller, Burt Bacharach e Glenn Branca, rodopiando num carrossel de feira. Exactamente, isso tudo que bem urgente e indispensável é para baralhar irremediavelmente as ideias da nossa pop tão enjoativamente penteadinha. (2007)

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