22 December 2007

AVE RARA



Andrew Bird - Armchair Apocrypha

Andrew Bird é (trocadilho deliberado) uma ave rara: o exacto tipo de músico e escritor de canções que, não só nasceu com o cromossoma do classicismo pop firmemente implantado no ADN criativo, como, a essa bênção genética, soube acrescentar um muito subtil apetite pela minúcia da arquitectura instrumental, uma queda para o experimentalismo discreto só detectável à lupa, o talento para a escrita de textos que nem sequer precisariam da bengala melódica e uma voz que é tudo aquilo que Rufus Wainwright sonharia ser mas não é.



Se The Mysterious Production Of Eggs (2005) era um luminoso caleidoscópio de joalharia pop, Armchair Apocrypha (criado, a quatro mãos, com Martin Dosh, um dos prodígios da Anticon) aprofunda a mesma via, enriquece-a de uma nova densidade eléctrica e rítmica e, por entre as infinitas portas de entrada que oferece (diria ele “across the great chasms and schisms and the sudden aneurysms"), lança-nos mais meia dúzia de epigramas como tema de meditação. Um para amostra: “with hearts and minds and certain glands, you gotta learn to keep a steady hand”. À beira da perfeição. (2007)

1 comment:

gorgulho said...

Como sabes, sou ainda mais surdo do que tu és cego. E embirrante; não faço esforço algum. Da Literatura à Arquitectura, passando pelos nossos metiers, ele é: abalroem-me ou deixem-me. Com esta atitude, claro que o êxtase é muito raro. Este cabrãozinho, contudo, aos primeiros compassos fez-me ajoelhar e desde aí tenho-o ouvido e ouvido, a ver se se gasta e me livro dele, mas não consigo. Eu sei que é exagero, mas chego a temer que se junte ao judeu canadiano que não me larga desde os treze anos.