11 September 2007

(ARTE E TERROR I) - BUT WAS IT ART?



Segundo declarações do compositor contemporâneo Karlheinz Stockhausen, os recentes atentados terroristas aos EUA teriam constituido "a maior obra de arte de todos os tempos", o sonho de qualquer músico: "trabalhar durante dez anos para a realização de uma obra e morrer durante a consumação dela". Em 1995, Laurie Anderson, em "The Cultural Ambassador" (do álbum The Ugly One With The Jewels), citando Don De Lillo a propósito de um episódio vivido em Israel em que se divertira experimentando explosivos com um especialista militar, afirmara também que "os terroristas são os derradeiros artistas que restam pois são os únicos capazes de verdadeiramente nos surpreender". E (com óbvia e imensa ironia) reconhecia como aquela lição prática de terrorismo a fizera ter "a great time", esclarecendo-a definitivamente acerca dos verdadeiros significados de "new" e "interesting" sobre os quais havia sido interrogada a propósito da "avant garde" musical de que ela supostamente faria parte.


Pelo seu lado, no mesmo ano, no ficcional "Diário de Nathan Adler" que constituia o suporte do álbum Outside, David Bowie, remetendo para a obra de "body artists" radicais como Ron Athey, Nitsch, ou os "castracionistas de Viena" dos anos 70, após descrever pormenorizadamente o assassinato e desfiguramento sanguinário da adolescente "Baby Grace", fazia o imaginário detective da brigada de Art-Crime interrogar-se, intrigado: "It was definitely murder, but was it art?". Eu também não sei a resposta. Mas gostava que fosse possível — mesmo em plena atmosfera de guerra iminente, pânico escatológico e permanente ameaça de todas as formas de terror — parar nem que fosse um segundo para discutir questões frívolas como esta.

(ARTE E TERROR II) - DEPOIS DOS SIMULADORES



1) O que significa discutir "questões frívolas" e, aparentemente, absurdas como, por exemplo, saber se o terrorismo pode ser uma forma de arte? O que implica, verdadeiramente, esgrimir pontos de vista acerca das afirmações recentes de Karlheinz Stockhausen e das menos recentes de Laurie Anderson ou de David Bowie? Tão simplesmente aquilo que, na igualmente recente entrevista com Leonard Cohen, ele próprio sublinhava: o luxo (luxo genuíno e sem preço) que significa vivermos numa civilização onde essas discussões têm ainda tempo, espaço e são autorizadas. Poderão não ser muito diferentes das dos sábios de Alexandria acerca do sexo dos anjos, quando as fronteiras do império desabavam sob o avanço dos bárbaros, mas o simples facto de poderem existir já diz o suficiente a propósito da grandeza da cultura que as possibilita. E é esse mesmo o ponto. Pode ser esse o ponto que a condena mas vale todos os riscos.


2) Há meses, numa entrevista com Brian Eno, interrogava-o acerca da sua concepção da arte como simulação das infinitas possibilidades da vida real, sem a hipótese irremediával da tragédia. E ele (sem imaginar sequer as consequências futuras do que dizia) exemplificava-me com a experiência dos simuladores de voo onde, mesmo quando tudo corre muito mal para pilotos inexperientes, ninguém sucumbe ao acidente. Eu respondi-lhe que, uma vez, depois de ver o filme Johnny Got His Gun, de Dalton Trumbo, tinha ficado uma noite sem dormir. Disse-me: "É, certamente, um bom filme, mas ninguém morreu realmente, pois não?". E, agora, após as Twin Towers, como vamos responder? Quando se ultrapassam os limites pensáveis de todas as possibilidades, como haveremos de pensar? (2001/2002)

4 comments:

Anonymous said...

Na realidade os vienna actionists são dos 60's. Nos 70's começaram a carreira a "solo". Nada como os filmes deles para um tarde soalheira em família.

saturnine said...

vou fazer de conta que este post me é parcialmente dirigido. :D afinal de contas ants de ser little black spot, fui Baby Grace Blue, ihihih.

há meia dúzia de discos que foram marcando pontos de viragem na forma como me relaciono com a música. tenho a certeza absoluta que foi com o "Outisde" que se iniciou o meu caminho rumo àquilo que eu chamava o "ouvir música adulta". considerei-o o disco perfeito durante muito tempo, por ser um objecto tão bem trabalhado, estetica e simbolicamente.

duas notas sem interesse nenhum para finalizar:

1 - Nathan Adler é a personagem mais cool do David Bowie.

2 - "Oxford Museum of Modern parts" é a melhor subversão de sempre. :D

João Lisboa said...

Liltte balkc psot, considera este post como teu.

saturnine said...

nem vou reler o meu comentário (para não me chocar com O Regresso dos Lapsus Spotae). mas fico agradecida e lisonjeada. :')