11 August 2007

UM AR MENOS NEGRO



Não se imagina que a autora de três álbuns — Dogs, The Blackened Air e Run To Ruin — onde tão pouca luz penetra ria tão frequente e espontaneamente como acontece quando entrevistada. Nina Nastasia faz enormes pausas para pensar, deixa imensas interrogações em suspenso, semeia as respostas de "I don't know" e confessa que, embora ainda sem grande êxito, gostava de ser capaz de "aligeirar" a atmosfera das suas futuras canções. Desde que não desça a (bem elevada) fasquia dos três primeiros discos, esteja à vontade.

Suponho que, como a maioria das pessoas, conheci a sua discografia de trás para a frente: primeiro The Blackened Air e Run To Ruin e, só depois, o primeiro, Dogs, reeditado o ano passado. E pareceu-me muito invulgar alguém iniciar o seu álbum de estreia com uma canção que é apenas uma única frase "Dear Rose, I do apologize, I hope you'll think of me as someone who would do anything for you"...
Como é que isso me surgiu... (risos) soa um pouco como a abertura de uma carta, não é? Pareceu-me uma boa forma de começar. Deve ter sido isso... Mas as outras canções não seguem de todo essa lógica. Já foi há tempo demais para que me recorde, de facto, qual era a ideia... Para Dogs, gravámos uma série de canções, das quais, houve várias que nem chegaram a ser incluídas no disco. Escolhemo-las como se estivéssemos a estabelecer o alinhamento de um concerto. Não obedeceu, realmente, a nenhum conceito.

Vê-o como um álbum muito diferente dos outros dois que se seguiram?
Todos os álbuns foram escritos no mesmo período de tempo. Há diversas canções antigas em Road To Ruin. Por isso, no que à escrita das canções diz respeito, não me consigo aperceber de uma grande diferença entre eles. Embora, decerto, deva haver. Não estudei assim muito o assunto... Mas, quanto aos arranjos das canções de Dogs, como já interpretava ao vivo aquele reportório com a mesma banda há bastante tempo, quando chegámos ao estúdio, estava tudo praticamente definido. Em The Blackened Air e Run To Ruin, quando começámos a gravar, ainda estávamos a trabalhar os arranjos. O que lhes terá dado um ar um pouco mais improvisado.



Porque se decidiu por Steve Albini como produtor?
Um amigo tinha trabalhado com ele e disse-me coisas muito simpáticas sobre o Steve. Também gostava muito da sonoridade de vários álbuns que ele tinha produzido. E queríamos gravar tudo ao vivo em estúdio que é como ele prefere trabalhar.

Quando começou a escrever canções?
Há cerca de catorze anos, quando vim para Nova Iorque. Desde miúda gostava de escrever poemas, contos. Tinha um amigo "songwriter" que, de certa maneira, me inspirou a fazê-lo.



Para além do seu amigo, houve outros autores que a inspirassem?Sempre ouvi muita música diferente mas não sou uma grande coleccionadora de discos nem presto muita atenção a nomes e detalhes. Em casa, os meus pais ouviam muito os Beatles. Também estudei piano clássico. Pode parecer um bocado estúpido mas não me recordo de nomes nenhuns...

Então chame-me estúpido agora a mim: quando escrevi sobre os seus discos, disse como, neles, várias coisas me recordavam gente tão diversa como Sandy Denny, Nico, PJ Harvey, Velvet Underground, Cowboy Junkies, Tom Waits, Mary Margaret O'Hara, Kristin Hersh... Isto faz algum sentido?
(risos) Bom, gosto da maioria deles, aí tem. Acertou. Gosto muito da Sandy Denny, por exemplo. Mas nem conheço grande parte da obra dela. E adorei os concertos da PJ Harvey a que assisti. Mas não diria que algum deles foi uma enorme influência que eu me tenha dedicado a analisar e estudar. Inconscientemente, no entanto, devo ter interiorizado uma ou outra coisa de vários deles... provavelmente.



Pura curiosidade: o seu nome, Nina Nastasia, tem uma certa sonoridade de Europa de Leste...
Tem, não tem? (risos) Toda a gente diz isso. Mas não é, é italiano. A família do meu pai veio da Calábria.

Está a trabalhar num novo álbum?
Estou. Na verdade, estou a pensar publicar dois ao mesmo tempo. Tenho um conjunto de canções suficientes para isso mas ainda não me decidi definitivamente se o quero fazer ou não. Estou a tentar escrever canções que sejam um pouco mais "leves" do que me é habitual. Começa a aborrecer-me ser vista sempre como autora de canções graves o obscuras. Não que me esteja a sair lá muito bem disso mas estou a tentar... (2005)

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