Nina Nastasia - The Blackened Air
Uma Sandy Denny com a alma lunar de Nico, o grupo sanguíneo de Polly Jean Harvey, a enganadora doçura de Aimee Mann e a esquizofrenia de Mary Margaret O'Hara. Recitando litanias dispersas por entre os despojos da carcaça dos blues, o espectro esventrado da country e a assombração radiográfica da folk tal como ainda sobrevive nos desfiladeiros desertos de algumas cordilheiras. À volta, há estrondos e estampidos, lancinantes e longínquos glissandos de violino e serra friccionada, gemidos de acordeão, interferências de arranjos de cordas inesperadamente plausíveis, a sombra oblíqua dos Cowboy Junkies de Trinity Session ou uma certa marcialidade fúnebre dos primeiros Velvet Underground.
E muito, muito espaço vazio por entre o dedilhado de um bandolim, o desenho sinuoso da melodia e a ressonância de palavras como "my eyes are black as iron, I'm toppling houses, trees and towns, my crying makes everybody drown" cujas imagens se perfilam imediatamente à frente dos nossos olhos. "Ugly Face" é quase "The Part You Throw Away" de Tom Waits e isso só lhe faz bem, "In The Graveyard" parece o eco de um uivo das Apalaches, "Ocean" é uma refrega surda entre as frequências graves de um sismo, estridências ultra-agudas e o ectoplasma de uma valsa doente de Kristin Hersh, "The Same Day" é pura (in)existência virtual e todas as restantes nos impedem de pensar noutra coisa durante 44 minutos. E muito tempo depois também. (2002)
3 comments:
Olá. Ia-lhe enviar isto para o mail mas não encontrei o endereço. É um excerto de um post sobre a Nina Nastasia.
"(...) desviámos a conversa para a Nina Nastasia e discorremos sobre a diferença entre a capa da edição original do Dogs (Socialist Records, 2000 0012 - cerca de 500 exemplares, milhões de cópias) e a re-issued print na Touch and Go (2004, TG246). A primeira é uma coisa desataviada, com um padrão entrançado arroxeado, violáceo, com a informação impressa a cinzento, lettering type writer: “Dogs”, hífen "by Nina Nastasia". A re-edição da Touch and Go pode-se considerar luxuosa. É uma fotografia da Nina Nastasia segurando um copo meio cheio de um líquido trasparente (serve para água, vodca e bagaço), em pose, fixando a câmara, com uma expressão a meio caminho entre o hostil e o amargo e um vestido preto (ponteado a branco) decotado em V. Está um gajo ao lado (Kennan Gudjonsson?) a olhar para qualquer coisa que tem na mão. Não é definitivamente a fotografia mais bonita da Nina Nastasia (ver a biografia na Southern Records, a entrevista na Discorder ou a crítica do disco de tributo John Peel na Spoiled Victorian Child). O enquadramento é branco com a informação a negro e em relevo (classe, portanto) “Dogs” by Nina Nastasia. O inlay tem as lyrics (magníficas, parece um blog dos bons) e os pormenores estão, distintos, na última página: a senhora Nina Nastasia toca uma Epiphone Riviera e uma Martin 0017 de 1962, Gonzalo Muñoz toca uma serra musical Luthier de la Banlieue Parisiene, Dave Richards um baixo upright c 1890 e Kennan Gudjonsson um piano Nelson & Wiggin c 1901."
Olá Pedro; um post de onde?
http://ilmigliorfabbro.wordpress.com/musica-reversao/
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