Neko Case- Blacklisted
Foi em A New Coat Of Paint — um francamente medíocre álbum de homenagem a Tom Waits de 2000 — que, pela primeira vez, escutei Neko Case. Numa colecção de versões que nem sequer se esforçava muito por estar à altura do tornozelo do homenageado, o "Christmas Card From A Hooker In Minneapolis", de Neko Case (juntamente com Lydia Lunch em "Heartattack And Vine", Sally Norvell em "Please Call Me, Baby", Carla Bozulich em "On The Nickel" e Eleni Mandell em "Muriel"), era uma das bastante poucas manifestações de talento e individualidade de uma gravação que valia só pelo contingente feminino. E, por acaso, delas todas, era, de longe a melhor.
Blacklisted, o seu terceiro álbum e primeiro a ser distribuido em Portugal, é aquilo a que, em rigor, é obrigatório chamar "uma revelação". Um catalogador preguiçoso designá-lo-ia como "alt.country" e, logo a seguir, mereceria ser fuzilado. Porque não só é muito mais do que isso como, na verdade, é o género de música que deveria ter jorrado em permanência do juke-box no bar de Twin Peaks ou que poderia servir de banda sonora para um álbum de fotografias de Robert Frank:
melodias memoravelmente assombradas, guitarras em registo "twangy" — pensem em Nick Cave cruzado com Badalamenti —, atmosferas "noir" a trespassar os textos ("Fluorescent lights engage like birds frying on a wire, same birds that followed me to school when I was young, were they trying to tell me something, were they telling me to run?"), a brigada Giant Sand/Calexico (Howe Gelb, Joey Burns, John Convertino) a desenhar os cenários e, sobre tudo isso, a fabulosa voz de Neko, uma espécie de Kristin Hersh com muito mais estrogénios, a apresentar a candidatura a Patsy Cline do novo milénio. Até porque o caldo de cultura é sensivelmente o mesmo, recomenda-se a escuta antes ou depois de The Listener, de Howe Gelb. E é deveras difícil dizer qual dos dois é mais indispensável. (2003)
03 April 2007
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
1 comment:
Longas nove vidas, muito longas, ao Patusko!
Post a Comment